A chuva e Joana
Existe um tempo que a solidão não chega?
- entra, menino!
- Já vai, Mãe. Só mais uma vez!
A chuva chegava forte do lado de Maiquinique. O vento, as roupas balançando no varal. E as arvores riscando o ar. Dava um ar misterioso e sombrio aquele meio de tarde. Dona Joana chamava o filho pra entrar, mas seus sentidos estavam em Joaquim, seu marido que já era pra ter chegado.
- Não vou falar de novo, Fabiano!
- Calma! To indo...
Entramos. A casa toda fechada. Apenas uma abertura minima na janela. Por onde ela esperava Joquim com os olhos.
- vou preparar um café. Seu pai ta quase chegando!
Na cozinha, acendeu o fogo. Lenha ainda verde demorou pra pegar. Fiquei de cócoras vendo ela trabalhar. Soprava o fogo e a cinza se espalhava pelo ar. Quando o fogo pegou, pos a água pra ferver. Uma boa jarra. Talvez pelo frio fizesse mais café. Percebi ela olhando o fogo aceso. O corpo parado, sem vida perdido nas labaredas. Finalmente a chuva caia. Da cozinha o quintal aparecia através do muro de adobo. Poças grandes de água um caldo grosso descia e entrava nas rachaduras do barranco. O vento fazia as arvores gritarem. Relâmpagos estridentes e depois um poderoso estrondo. Acho que foi a primeira vez que tive medo da natureza. Ela passou por mim e reparou o tempo. De costa via sua imprecisão, de mão na cintura escorrendo olhar na chuva. Voltou mexeu o fogão. Olhou o relógio na parede. Não sabia ver as horas. Foi de novo até a sala, abriu a porta
Bem pouco e olhou a estrada. Tudo parado. Apenas água e um céu cada vez mais escuro. Não sabia o que ela pensava. Preocupava-se. Voltou. Lavou alguns pratos do almoço, encheu os potes. Trocou a toalha da mesa. A água do café fervia. O fogo estava vivo e exibido. Usou um pouco da água fervente pra lavar o coador. A escolateira limpa esperava o pó. O cheiro marrom e pesado suavizou meu rosto. Aspirei fundo. Fez um barulhinho. O rostinho dela apareceu me olhando. Os olhos pequenos também ria. Ajeitou a toalha. Leite no bule. Uns biscoitos de goma, tudo bonito. Perguntei se já podia comer. Vamos esperar mais um pouco. A chuva se acalmava. Mas no céu ainda Preto. Com pequenas brechas de sol la no horizonte. Sol esse que foi guandando força longe e tingindo de amarelo o preto-cinza que estava no nossa cabeça. As paredes da casa, quase toda ela estava escorrida de um preto do fogão. Linhas que desciam do teto até o chão, deixando a cor branca sem vida, perdida e sem definição. O chão batido de terra estava úmido. Sempre que chovia acontecia isso. Nunca soube porque. O cheiro de terra dentro de casa tirava um pouco minha respiração. Ficava curta, me sufocava como a espera dela. Já mesmo pra ele ter chegado. Mas estava chovendo. É uma possibilidade que ele espere a chuva passar. Bem que ele não liga pra chuva. É homem do campo, da terra, não tem medo da natureza, parece embrenhado nela, misturado e confundido a labuta no campo. Percebo que também estou preocupado, tento na pensar nisso. .
- ele chegou! – gritou ela lá da sala.
Sim, chegou. Estava guardando o cavalo. Ela ria de felicidade. Um aperto saiu dela. Colocou de novo o café no fogo, mexeu a lenha. Atiçou o fogo.
- Menino, pega mais biscoito na despensa.
Trouxe a mão cheia de biscoitos. Esparramei na mesa. comi logo um. Agora ela estava feliz. Correu no quarto e trocou de vestido. Um verdinho, limpinho e cheiroso, saiu como se não tivesse trocado. Correu pra cozinha
Ele entra, forte, enlamaçado. Grita o cheiro de café que estava na sala. Os dois ficam lá. Agora tenho a sala, com a porta um pouco aberta. Duas borboletas brincam na cerca de frente a casa.