“Às vezes procuro de alguma forma fantasiar a realidade, no objetivo de viver algo além do que eu vejo, além do que eu vivo... Ao abrir os olhos, às vezes à realidade não faz jus aos meus sonhos, sendo assim eu a moldo a minha maneira, seja lendo um livro, onde vivo a realidade de outro alguém ou até mesmo uma realidade de ninguém... Ou escrevendo, onde posso eu mesmo criar minhas próprias fantasias, dar vida aos meus sonhos e assim, permitir que alguém se refugie neles. Até em uma imagem é possível fantasiar a moldá-la a nossa maneira, às vezes enquanto a observamos, nos deparamos com algo ou alguém que admiramos ou até mesmo desejamos e nesse caso, nos vemos de alguma forma vivendo aquele momento, recriando a imagem em nossas mentes e dando forma ao que gostaríamos que fosse real”.

Hoje será um dia especial, pois será um dia de reencontro, onde um alguém muito especial que se fez muito presente em meu passado está por vir… Izabelle o seu nome, eu ainda me lembro dos teus belos traços, da sua pele clara e macia, do teu sorriso cintilante, dando vida a dois pontos marcantes em teu rostinho angelical. Sempre tive muita vontade de fotografá-la, mas ela sempre tímida, acabava de maneira gentil e até sem jeito recusando, então a sua imagem se manteve apenas em minhas lembranças, mas a vida é mesmo uma caixinha de surpresas, onde o acaso mais uma vez se fez presente… onde em meio a um evento de moda, acabamos nos reencontrando, um momento incrível, pra não dizer impactante, logo de cara eu a reconheci, teus traços não mudaram tanto, na verdade tudo ganhou um ar mais confiante, mais sedutor, seu olhar já não desviava mais do meu. Fora uma surpresa para ambos e apos algum tempo até cair à ficha, o dialogo passou a fluir mais naturalmente, onde passamos a rir enquanto relembrávamos momentos muito especiais para ambos. Falamos sobre o nosso momento atual, sobre as novidades, as mudanças e dessa forma, a noite passou tão rápida que nem a vimos passar e para que não perdêssemos contato mais uma vez, marcamos de nos ver numa data próxima e é claro, não perdi a oportunidade de finalmente conseguir convencê-la a fazer uma sessão comigo, mas com a condição de deixar que ela me levasse para ver uma peça de teatro. Confesso que havia muito tempo que eu não ia a uma, pra não dizer que a ultima fora na época do colégio, mas a idéia me pareceu interessante, então, aceitei logo de cara. O estranho é que eu teria que encontrá-la no próprio teatro, sendo que eu fazia questão de ir buscá-la, mas ela fez questão que fosse assim e dessa forma, tive que respeitar a sua vontade. Ela então me deu um envelope na cor vermelha e pediu para que eu só o abrisse na porta do teatro quando eu fosse entrar… sem entender muito bem, eu apenas concordei e assim nos despedimos naquela noite.

A data logo chegou e eu não sabia muito bem o que vestir, não fazia idéia do que caberia melhor em um evento como esse e então, procurei não pensar tanto, vesti uma roupa que eu gosto, para que assim, mal ou bem vestido, eu ao menos me sentisse bem comigo mesmo. Segui o endereço que ela havia me passado e ao chegar ao teatro, me deparei com um belo lugar, o teatro mais parecia um castelo, todo aceso e iluminando toda a região, o que demonstrava ser um grande evento. Apesar de toda a beleza, meus olhos procuravam por Izabelle, olhava de um lado para o outro e nada dela. O tempo ia passando e logo eu estava só na porta do teatro ainda a esperando. Eu não sabia o que pensar, eu sempre soube que as mulheres atrasavam um pouco, mas aquela demora era preocupante e ao ligar em seu número, só dava caixa postal então, já sem muitas esperanças de vê-la, optei por entrar e ver a peça, no letreiro dizia: “O Mágico de Óz”… Caminhei até a porta do teatro, abri o envelope como ela havia pedido e logo um segurança me chamou atenção, ao contrario dos demais, que entregavam teus convites e logo entrava, o segurança pegou o papel que estava no envelope e me pediu para que eu o acompanhasse. Logo chegamos a uma área mais vip, com uma visão muito privilegiada sobre o palco… fiquei pensando como ela conseguira tal ingresso enquanto ainda buscava respostas para o que havia acontecido. O lugar tinha um ar clássico, muitas peças aparentemente restauradas, mais ou menos cinco mil lugares e cada cadeira perfeitamente detalhada em tons de vermelho e dourado, com detalhes de madeira aparentemente esculpidas a mão. No palco, uma enorme cortina vermelha ocultando o que estava por vir, com detalhes em dourados em cada ponto. O lugar era incrível, agradeci o segurança e logo que me sentei o espetáculo começou e logo veio a maior surpresa... Lá estava ela sobre o palco e com um breve olhar debochado para e logo seguiu a peça, agora como Dorothy, numa versão personalizada e aquilo me trouxe lembranças, era como se eu a estivesse vendo como na época em que vivíamos inúmeros momentos juntos. Os mesmos cabelos escuros, levemente ondulados e cheios de vida em cada gesto, em cada movimento de modo que finas mechas caiam sobre os teus olhos, que sorriam junto aos teus lábios. Ela então vestiu a camisa, viveu a personagem como se realmente fizesse parte daquilo, como se ela sentisse cada emoção e eu pude sentir em cada palavra sua, em cada gesto seu o quanto aquilo era verdadeiro, ela de fato deu vida a personagem de maneira magistral. As luzes em efeitos do teatro, mesclando em momentos coloridos e em preto e branco, de acordo com a intensidade e sentimentos de sua personagem, davam vida à imagem e a cada fantasia. Num passo de dança, com os braços abertos assim como o seu sorriso convidando a lente a mergulhar nesse momento tão dela, me fez esquecer tudo, eu já não via mais nada além dela e junto a ela, eu vivi o personagem, eu sempre imaginei como em uma sessão eu pudesse fazer jus aos teus traços, a tudo aquilo que sempre se manteve em meus pensamentos… planejei infinitos lugares, cores, momentos, no entanto, ali estava eu, diante do momento e da pessoa perfeita. Mirei a câmera e ela então me olhou, nossos olhares através da lente se encontraram, a lente então num click brilhou em meio a aplausos da platéia que me fizeram voltar a realidade e ao olhar pra ela, eu pude presenciar o seu contagiante sorriso de satisfação e emoção, onde nenhum sonho ou fantasia seria capaz de me fazer querer fugir de tal realidade. Logo o teatro estava vazio, onde ficamos ela e eu apenas sentados com os pés nas cadeiras vip’s, de frente para o palco e ela ainda me olhando com cara de deboche diante da minha surpresa e juntos nós rimos diante do momento, enquanto comíamos pipoca doce. Olhar para ela é sempre um momento incrível, viver um momento com ela é sempre algo marcante, ela me trouxe de volta algo que há tempos eu não sentia, ela faz da realidade o meu refugio, faz do sonho realidade… Logo ela se debruçou sobre o meu peito, esticou um dos braços com a câmera e a apontou para nós… em um click uma imagem, eu e ela juntos num momento só nosso, que ficará pra sempre marcado.


(Felipe Milians)

Imagem via tumbl/endastelsas
Felipe (Don) Milianos
Enviado por Felipe (Don) Milianos em 10/03/2011
Reeditado em 10/03/2011
Código do texto: T2839499
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