I Tratado sobre o amor

I Tratado sobre o amor – A busca

Todas as coisas boas da vida merecem uma chance de relato. Acredito que o maior relato de todos os tempos é para cada um de nós uma grande história de amor que vivemos intensamente. Esta é a minha.

Sempre fui fascinado por conversas no ciber espaço. Desde os primórdios da internet quando descobri sites em que as pessoas podem interagir e se falar, não demoraria muito para que isso se exportasse ao mundo real. Depois de muito uso e muitos amigos e até alguns encontros casuais por este meio, me vi morando no Estado do Amapá. Terra boa, mas de muitas limitações.

Em uma dessas muitas noites de frio e solidão acabei topando com uma das muitas figuras lascivas e vazias da internet em sala de bate-papo que na verdade se converteu em paraíso de encontros de todas as opções.

João era o nome do sujeito. Não era o que eu buscava, mas na falta, acabei enredando um papo sobre uma transa a 3. Realmente é o tipo de exotismo que nunca me atraiu, mas para quem está só e aberto a novidades, na época me pareceu interessante. Porém tínhamos um problema: Faltava o terceiro.

Minha opção sexual me permite unilateralidade, o que no jargão do nosso meio chamamos de passivo. Algo como o papel feminino da relação. Como meu conhecido recente se declarava versátil (alguém que não se decidiu em nada ou que realmente curte isso, embora eu não acredite nessa possibilidade), saímos atrás de um cara ativo (ou seja, o homem da relação).

Na ausência de opções meu conhecido me apresentou a um cara de um site de relacionamento, a principio fiquei meio apreensivo, afinal o que se desejava parecia estar ganhando contornos mais sólidos. Minha tranqüilidade se transformou rapidamente em cobiça profunda quando vi o carinha pela janela do Messenger.

Contornos fortes, corpo largo, pele morena de um tom canela, tórax não esculpido, mas de boa apresentação. Braços com músculos naturais e não moldados em ferros, pernas de coxas firmes e grossas envolvidas por halo que achei se tratar de uma toalha laranja, mas na verdade era um bermudão. Apenas algo me incomodava: Parecia ser menor de idade.

No auge dos meus princípios morais, nunca me permitiria transigir a lei e minha auto-ética. Mas algo me chamava para isso. Então, dane-se, vou ver isso! Mas como disse antes, meu eu egoísta, me disse: Nada de três, nada de compartilhar. Isso tem que ser algo só meu! Quero desfrutar sozinho esse moço.

Com a maestria de um discípulo de Clara Machado, dissimulei para o João, fui até simpático oferecendo-lhe carona para casa. Fingi uma indisposição qualquer, dei-lhe meu número com alguns dígitos trocados e fui embora. Afinal já tinha o número mais importante de todos, o que talvez eu nem soubesse, mas ao teclar aqueles sete dígitos estava alterando todo o curso de minha vida.

A voz do outro lado estava entre o intermediário da laringe que se alarga para transformar meninos em homens, mas não a famosa taquara rachada que caracteriza esta fase pós-púbere. Era uma voz serena.

Conversamos sobre algumas coisas, sobre preferências, sobre obscenidades morais (se é que isso existe), enfim decidimos nos ver. Afinal a conjuração dos astros estava copiosamente irônica naquele dia, e por isso fui; fui rumo ao que esperava ser um insight, um fica, como se costuma dizer hoje, no meu tempo chamávamos de paquerinhas.

Elielson era seu nome, pelo menos assim se apresentou a mim. Estava num canto meio sombrio a borda da avenida do conjunto onde morava com os tios. Parei o carro, abri a porta, sorri meio sem graça e ele devolveu o sorriso meio de lado, o que mais tarde seria sua marca registrada.

Ele entrou sentou-se e colocou o cinto a meu pedido. O silêncio foi quebrado pelas minhas indagações de amenidades quase sem jeito, mesmo sabendo que ambos tinham idéia do por que estavam ali naquele carro e que se estavam ainda é por que estavam querendo ir adiante. Para garantir o interesse, passei a mão no volume de sua bermuda... era promissor.

Meu primeiro ímpeto foi de perguntar a idade novamente, correndo o risco de parecer corregedor. Contive-me. Afinal uma idéia atravessou meu córtex. Não iria levá-lo a um motel e correr o risco de desagradáveis surpresas decorrentes de uma visita do conselho tutelar ou da polícia como vinha sendo comum naquela época nos motéis da cidade. Afinal eu era uma pessoa pública e a última coisa que precisava era de um escândalo desta monta.

Enfim, o levei ao sobrado, um apartamento que tive que alugar as pressas para me livrar de um encosto que defenestrei da minha vida por uma traição pior que a morte; mudei-me as ocultas, troquei de números de telefones, deixei de visitar amigos em comum para não dar noticias de meu paradeiro. Tirei licença do trabalho, enfim, fui me refugiar na capital da moda e do amor, sob pretexto de férias e estresse. Paris me curou.

Depois desse fim de relacionamento, triste, cansado, traído e até mesmo desenganado do amor, o que eu queria mesmo era o que não tinha sido capaz de procurar nem na capital do amor, que apesar das vastas opções, a pele européia nunca me deu nos nervos. Por isso me guardei, bebi, dancei, ouvi e falei, mas não amei.

Todos esses pensamentos me invadiram enquanto eu subia as escadas do sobrado. Abri a porta e vi meu acompanhante me seguindo, calmamente e quando o olhava ele sorria e bafejava de leve. Entramos, ofereci água, suco, refrigerante, mas ele estava sem jeito para aceitar qualquer coisa e eu nessa hora louco por uma tragada, já não agüentando mais as mentoladas balas que chupei até aquela hora para não denunciar meu vício. Mas não dei o braço a torcer, não fumei.

A TV estava ligada como sempre, o volume no mínimo, coloquei em uma estação de música qualquer da TV a cabo. O ambiente estava a meia luz. Então tinha que ser agora.

Aproximei-me dele com um abraço carinhoso e leve, senti seu cheiro de suor, perfume masculino e nervosismo brotando de sua nuca. Um beijo bem pueril marcou minha mente. Ele ainda era jovem demais para beijar como se deve. Mesmo assim gostei dos beijos desajeitados e meio nervosos dele, sua boca macia e lábios incentivadores me fizeram querer mais. Então me lembrei das prostitutas: Beijo é pessoal demais! Quando não quiser problemas, não beije! Que conselho mais estúpido. Desobedeci.

Tirei a camisa dele e deitamos na cama de colchão ortopédico que mereceu uma observação da parte dele e mais um sorriso. Expliquei sem perder o ritmo que aquilo me ajudava a não sentir dores nas costas.

Ele se debruçou sobre mim e pela primeira vez senti seu peso sobre meu corpo, sensação gostosa e que não tinha prazer com ela há muito tempo. Mais caricias e beijos, até que não mais resistindo parti para o ataque e o despi completamente. Enfim aquela cópia de Hércules em escala menor que a de Michelangelo estava ao meu lado com todo seu vigor de macho com hormônios efervescentes e me vinha na cabeça um pensamento hilário: _Vai doer pra caralho!

Sorvi aquele mastro como quem respira ao escafandro na ânsia de consumi-lo, afinal agora não tinha mais jeito, depois de meses sem aquela sensação de prazer e de entrega, estava pronto para me entregar aquele garoto. E dele dependia nossa satisfação dali em diante.

Após algum tempo de caricias orais e linguais, ele me pediu um preservativo. Aproveitei sua preparação e recorri ao lubrificante intimo na esperança de aplacar a dor. Enfim havia chegado a hora. Ele me virou e eu após um beijo em sua orelha lhe disse: _Vai devagar, não faço isso há um bom tempo. Ele sorriu e assentiu com a cabeça.

Muito paciente e carinhoso, senti-o entrar em mim, mas por maior que fosse sua habilidade em me invadir, não faço idéia de quantas constelações eu vi naquela hora. Mas depois do choque, senti aquele garoto me levantar e me conduzir com uma habilidade bem mais experiente do que eu esperava.

Como uma parte dele, obedeci aos seus mandos sem palavras, senti seus impulsos e quase podia ler em seus pensamentos as posições e os momentos de fazê-las quando ele as queria. Enfim a linguagem do prazer estava se manifestando naquela cama num mês quente de final de maio.

Em dado momento ele me colocou deitado de bruços, senti seus braços se encaixarem por debaixo dos meus, ele me apertou os ombros, senti sua respiração mais forte e seus movimentos mais rápidos, sabia que ele estava chegando lá.

Forte como um touro, senti suas estocadas finais, seguidas pelo pulsar do seu pênis dentro de mim, que sensação gostosa. Pedi que ele permanecesse assim, ele me atendeu. Senti aos pouco sua respiração normalizar e seu membro latejar e pulsar e voltar ao repouso.

Retirei o preservativo dele, ele foi ao banheiro, vestiu-se com certa pressa e eu entendi, afinal era um dia de semana, uma quarta feira eu acredito, e já passava da meia noite.

Ele de um jeito meio sem jeito, que nunca me esqueço até hoje, me perguntou: _Você vai me levar? Eu achando aquilo a coisa mais inocente do mundo lhe respondi: _Claro que vou te levar, eu te trouxe não foi? Por que não levaria?

Dei-lhe um abraço afetuoso e um beijo nos ombros. Acho que na minha cabeça tudo se encerraria naquele instante. Afinal este era o propósito daquele tipo de encontro, apenas proporcionar prazer sem compromissos emocionais.

Entramos no carro, ele sacou uma carteira de cigarros que parecia que tinha saído de um dos bolsos de Noel Rosa após uma noitada na Lapa. Sorri. Muitos motivos me fizeram sorrir. Não só o estado engraçado da carteira de cigarros do meu acompanhante, mas por ele ser fumante e por eu estar liberado a fumar também.

Ofereci-lhe um dos meus cigarros não amassados e ele guardou a carteira amassada no bolso da bermuda. Acendeu e tragou com a destreza de um fumante de longa data, tragos via dedos pressionados contra os lábios, igualzinho como fuma até hoje. Também fumei meu prazer e comemorei uma transa adiada por tanto tempo e motivos meus e de minha história passada.

Tranqüilizei-me ao saber que ele tinha acabado de fazer 23 anos não fazia dias. Pelo menos não havia cometido nenhum crime. Afinal eu tenho 12 anos a mais que ele. Podia ser pior.

Ouvi um pouco dele, mas muito básico; que estudava, morava com os tios, fazia um curso, mas nada identificador nem muito comprometedor, afinal aquilo era um fica, e poderia não passar disso.

Chegamos, perguntei se poderia ligar para ele novamente. Ele concordou. Agradeci pelo encontro, ele respondeu de nada. Olhei mais alguns minutos até ele desaparecer entre as casas. Saí pela rodovia, acendi um cigarro liguei o som e pensei comigo... Acho que a lan house perdeu um cliente hoje...

I Tratado sobre o amor – O namoro

A volta para casa foi silenciosa a não ser pelas músicas do Air Suply. O pensamento ficou insólito naqueles momentos com um carinha que até algumas horas atrás era um pensamento e agora era uma grande incógnita, afinal havíamos acabado de transar. Algo bem diferente do que estava acostumado, diga-se de passagem, me lembrou um tempo bem antigo, do qual nem me lembrava mais de como era bom.

Antes dele, havia alguém, que eu supunha ser o eleito, o cara que me faria feliz. Pena que me enganei. Aliás me deixei enganar pelo medo constante de ficar só. Acho que vale a pena registrar como cheguei a este ponto, embora a história seja ruim.

Conheci o Diego em uma das muitas viagens que fiz como palestrante de construtivismo educacional para o Pueri Domus de BH. Ele trabalhava como assistente de minha anfitriã Maitê Canteras. Praticamente ficou colado em mim durante minha estadia em BH, suprindo as necessidades profissionais, me levando para as refeições, hotel, aeroporto. Praticamente foi inevitável o envolvimento.

Saímos para uma boate numa sexta, extra-atividades de trabalho, conheci a noite mineira, as festas, as baladas; bebi muito, me senti mal, ele me levou a beira da Lagoa da Pampulha, arejar a cabeça. Tomei água com gás e recebi um afetuoso abraço pelo qual pude perceber que Diego estava animado pelo volume que senti em minhas costas.

Fomos para o hotel, disse a ele que estava tarde e que ele não tava legal para dirigir e que podia dormir no quarto que tinha duas camas de casal. Aceito o convite, tomei um banho, coloquei um pijama confortável e emprestei um ao Diego que fez o mesmo. Fui deitar e tentar recobrar o juízo. Assustei-me com ele deitado ao meu lado afagando meus cabelos.

Foi inevitável o que veio a seguir. Me senti bem com ele, afinal não tinha ninguém após cinco anos de Hamburgo sem ninguém em Der Bundeswehr, nem um casinho que fosse. Arrebatados pelo desejo. Coisa que nunca mais fiz na vida depois disso, me deixei levar por impulsos e acabamos transando.

Dez dias depois levei uma bagagem extra para o Amapá. De malas e bagagens Diego Armando Neto 23 anos, me seguiu até as terras Tucujús. Um ano de muita pseudo-felicidade, ciúmes, brigas, algumas até as vias de fato com direito a socos e ponta-pés. Percebi meu erro ao tentar manter a rosa do pequeno príncipe em sua redoma e assim como a pequena flor traiçoeira traiu seu pequeno mestre, minha cria também me deu um bote.

Confiei tanto nele, que não tinha trabalho com nada. Experiência em cuidar de trabalhos administrativos ele tinha de sobra para um garoto. Cuidava da minha contabilidade, da manutenção da casa, das contas, das minhas despesas pessoais, viagens, transporte e qualquer coisa que merecesse planejamento do qual eu não tinha o menor talento para cuidar e ele tinha ou ainda tem, não sei.

Sempre fui o ser humano mais desconfiado do mundo quando se trata de relação, farejo uma traição ou o prenúncio dela a quilômetros. Mas como um cego de uma vida que não quer ser curado, fingi-me de cego, para não perder minha felicidade. Ledo engano.

Em uma das minhas muitas viagens, meu caríssimo amigo me deixou no aeroporto como de costume. Vôo cedo antes da meia noite, coisa rara na minha rotina de ave madrugadora. Mas meu fiel escudeiro havia sempre sido eficiente. Por que não?

Quis o destino que a TAM cancelasse o meu vôo. Passageiros enviados ao hotel Glória como de costume, não quis segui-los, de taxi fui para casa esperar o chamado da companhia aérea para o próximo vôo que só ocorreria no dia seguinte.

Taxi em casa, pessoas no pátio conversando alegremente, cervejas long neck na mesinha, sorrisos desfeitos ao me ver, como se o mundo desabasse, entrei ignorando o óbvio, rumo ao esconderijo de meu quarto. Meu santuário profanado por um único objeto ou um pedaço dele, estranho ao cenário daquela noite. Metade de uma embalagem de preservativo perdida no tapete de pele de carneiro, cena difícil de esquecer..

Enojado, fui até o banheiro, observando o cesto de papéis não precisei me rebaixar a catador de lixo para saber que o papel mais encorpado guardava dentro de si um preservativo recém usado. Sentei-me no vaso, de terno e gravata, lágrimas de dor e ódio disputavam para ver quem rolaria primeiro.

As vozes cessaram lá fora. Ouvi o motor do carro e o barulho do portão da garagem. Acho que era o sinal para fazer o que nunca quis fazer por tentar não ver: _Eu posso ver, disse o cego!

Não sei em quanto tempo fiz tudo o que fiz. Tempo para acessar a internet, comprar uma passagem, mudar minhas senhas de cartões e acesso a banco transferir dinheiro para uma conta que conhecia de cór. E ainda dobrar roupas e guardar objetos em três malas que dispus em fileira na sala de casa. Muita consideração para não descer do salto e liberar a lavadeira que se debatia em sair.

Enfim ouvi o alarme do carro, o barulho do portão se fechando e Diego entrando pela sala com jeito que posso descrever como entre o surpreso e o desolado. Talvez ele esperasse uma arma ou algo mais trágico, mas eu estava com um dos meus livros preferidos nas mãos, tentando achar uma frase de uma das personagens que sempre me falhava a ordem.

Cem anos de solidão do Gabriel Garcia Marques, quando a personagem Úrsula Iguarán diz que “não há mal que sempre dure nem bem que dure para sempre.” Não precisei mais do que recitar a frase da mulher de José Buendía para encerrar minha história com aquele moço.

_Você tem até o meio dia de amanhã nesta casa. É o tempo que levo para sair daqui também, sua passagem está em cima da mesa e tem dinheiro em sua conta o suficiente para você ir para casa e tentar a sua vida. A partir de hoje você não existe mais para mim. Tolero qualquer coisa nesta vida menos que meu amor se volte contra mim. E assim saí de casa e fui enfim acordar para minha dura realidade e sina.

Nunca mais soube dele. Mudei meus telefones, troquei de casa, tirei uma licença do trabalho e fui me refugiar no quartier latin, templo da boemia parisiense, até me sentir seguro para reabrir os olhos e voltar a viver.

Um mês depois a carência me levou àquela lan house. Naquela noite quente de maio onde conheci o Elielson. Toda esta história rodeou meus pensamentos no caminho de volta, pesando os prós e os contras de uma nova relação. Senti-me tentado a aquiescer e deixar para trás a transa que acabara de ter, mas algo me empurrava, me tentava, me fazia ir de encontro àquele outro garoto que possivelmente poderia ser uma grande dor de cabeça ou uma redenção do meu sofrimento.

Conversar com alguém, me aconselhar? Com quem? Ninguém consegue dar esse tipo de conselho sem tomar partido. Apesar de minha vida não ser segredo de estado, meus problemas não eram de domínio público. Era uma decisão difícil e isolada que só dependia do personagem principal: Eu.

Em casa tomei uma chuveirada, fumei um maço de cigarros, me confortei com as palavras de How can you mend a broken heart. Pensei e decidi. Mandei uma mensagem de texto agradecendo a noite. Estava dado o passo. A partir daquele dia iria investir na relação com aquele garoto.

Quatro da tarde. Celular nas mãos, coração na boca, trinta e poucos anos nas costas e mesmo assim estava como um colegial em véspera de prova. Parecia que iria fazer isso pela primeira vez. Precisava de privacidade, fui à ante sala e pedi à secretária que não queria ser incomodado ia ler a folha de pagamento. Era a desculpa perfeita por que sempre lia a folha e recalculava para ver se não havia falhas, parte do papel de diretor administrativo financeiro. Mas já havia feito isso pela manhã.

Trancado na minha sala, a prova de sons e tiros, liguei, não sei quantos bips escutei até ouvir a voz dele. Identifiquei-me ele pareceu tranqüilo, acho que sabia que eu iria ligar, não parecia surpreso quando perguntei se sabia quem estava falando. Após uma conversa meio encabulada perguntei se podia vê-lo. Ele me disse que só podia depois do curso que fazia, lá pelas 20 horas. Eram quatro e meia. Seria um suplício. Marquei.

Seja o que for eu fui, apanhei aquele rapaz na porta do curso, andamos de carro, fomos para casa, não transamos mais; fizemos amor. Queria que ele me desse uma noite inteira, mas ele não podia. Contentei-me com sua companhia noturna, não demorou muito para ele começar a se sentir seguro, dirigir meu carro e me dar sorrisos do seu jeito tímido e me fazer me apaixonar por ele.

Dentre as muitas semanas, um dia ele meio sem jeito me disse que queria me pedir algo. Imaginei mil coisas, mas meio sem jeito, da forma mais doce que poderia ser ele me perguntou se eu queria namorar com ele. Não pensei nem meio segundo antes de dizer que sim. A partir daquele dia eu estava namorando, e pelo jeito com o que poderia ser minha metade perdida, meu iang separado.

Um dia sai sem ele, bebi com meus empregadores, que por si só já eram grandes beberrões. Cheguei de madrugada, acordei tarde. No outro dia fui repreendido pelos ciúmes do meu namorado. Fiquei orgulhoso com isso, pela primeira vez não me sentia só, me sentia amado. Prometi nunca mais sair sem meu amor.

Participei de sua vida mais intensamente, ensinei-o a dirigir passamos a nos encontrar de dia, até que ele me deu um presente: dormiria comigo, uma noite inteira. Passei a chamá-lo de ursinho, depois de uma história que ele me contara sobre sua sobrinha que o chamava de urso. Caí de amores por ele. Como amei; como me deixei amar.

Sonho, sonho, planos, mas não quis colocar o carro na frente dos bois. Não dessa vez, ainda não estava na hora de morarmos juntos, ainda não. Três meses de namoro. Um único veneno e tudo se destrói. Sabia muito bem como o tinha achado, e que outros poderiam também fazer o mesmo, e meu amado ou sempre foi muito espontâneo ou como pensei na época. Um exímio dissimulado.

Não acreditei quando li que uma criatura saída dos confins do inferno saíra para me destruir os sonhos. Agradecia a ele por algo e elogiava sua voz. O filme Diego Armando voltou as telas. Sofri, chorei, fugi. Não dei a ele o direito de resposta nem o beneficio da dúvida, embora as provas não fossem nem circunstanciais. Abandonei meu amado, fugi dele, proibi seus telefonemas, mudei meus números, sofri meu drama em álcool e lágrimas. Desejei a morte, a convidei para estar comigo, mas ela não me quis acompanhar.

Incompreendido, sozinho de novo, cai no meu abismo. Encerrei cada tarefa, cada função, cada compromisso e neguei a mim mesmo um futuro naquela terra de sofrimentos indizíveis. Era a hora de bancar novamente o menino mimado e remediado e fugir para o exílio, dessa vez em definitivo.

Aceitei um convite qualquer para Manaus, queria sair dali, não queria mais sofrer, não queria correr o risco de vê-lo, passei a não ir nos caminhos onde sabia que isso poderia acontecer. Sabia que ele me ligava, mas me endureci, fechei-me em copas. Chegou a hora de ir embora.

Dois meses depois no dia de ir, não resisti. Liguei para ele, achei que não fosse me atender, mas ele nunca faria isso com ninguém, nem com um inimigo se ele tivesse algum, não era da índole dele ser cruel como eu.

Apanhei ele na frente de um hotel, nem sei por que, fomos, não toquei no assunto, apenas perguntei amenidades. Disse a ele que era uma despedida. Pela primeira vez fomos a um motel. Acho que me perdi nas nuvens e brumas do passado. Fizemos amor como nunca antes. Rezei para que ele me pedisse para ficar, pedi a todos os anjos e santos o que era um grande sacrifício para um ateu.

Fim de encontro. Um adeus triste, mais do que qualquer adeus que eu viesse dar em toda a minha vida. O deixei em casa. Lagrimas me desciam o rosto, mas o orgulho me proibia de voltar atrás. Ainda o amava e o odiava pela traição que achava ter acontecido. Deus, como me arrependo daquele dia.

I Tratado sobre o amor – O exilado

O aeroporto Eduardo Gomes me recebeu numa manha de novembro, triste e seca como minha garganta após três horas de vôo seco e destruído por dentro. A Samsumg parecia um refúgio, um templo para recomeças e tentar colar os cacos de uma vida completamente esfacelada.

Tentei. Três meses e me senti pior do que me sentia antes. Triste sozinho, mecanicamente me barbeava, comia bebia, dormia e tentava viver. Vou tentar um ultimo colo. Sabia que esse colo era uma duvida, há muito que não procurava, não sabia as reações que poderiam vir. Enfim, estava na hora de procurar meus pais.

Sempre odiei a cara que meu pai fazia quando nos víamos. Parece aquela cara de quando se vê alguém que tem lepra. Enfim vi a cara dos meus pais depois de dez anos, no aeroporto. Minha mãe, com a sinceridade macabra de sempre, exclamou a me ver: _Você esta péssimo!

Fiquei no banco de trás durante todo trajeto do aeroporto para a casa das tristezas ditosas. Como passei a apelidar a residência dos Alves. Que por tantas virtudes me execrou ante o natal de 2000.

O silencio imperou no caminho. Cheguei em casa, procurei um canto, recebi o sorriso da Dalva que me deu uma caneca de aveia, grossa e fria como sempre gostei. Deitei na cama, ela me tirou os sapatos, com cadarços colados com supercola, pois dentre as grandes coisas do universo, tenho o conhecimento profano de destruir o mundo com o poder do átomo, mas não tive competência para aprender a amarrar os próprios sapatos.

Dormi, dormi, dormi. Dias agorafóbicos dentro daquele quarto, como um bicho do mato, recluso, recusando-se a falar, receber visitas ou se quer ver alguém que não fosse a Dalva com uma caneca contendo algum caldo ou sopa quentes. Um dia a porta se abriu, ele entrou, achei que nunca teria coragem de fazer isso novamente. Mas ele não disse nada, apenas jogou um envelope sobre a cama e saiu, mudo por dez anos.

Sabia o que ele havia me dado, sabia também o porquê. Afinal que filho que não sonha que o pai entre no seu quarto e sem perguntas ou explicações te entregue uma passagem para nove mil quilômetros longe dali. Mas no fundo eu sabia por que. Ali não era mais meu lugar. Entendi o recado, a Dalva também, por isso ele preparou as malas.

Lembro-me como se fosse agora, daquele natal do ano 2000. Eu estava cansado de fingir, cansado de pagar prostitutas scort para fingirem que me amavam, para que toda minha família se convencesse de que eu não era um cisne numa família de patos. Cansei de mentir. Usei a mesma tática quando contei que fumava. Mas isso era pior que fumar.

Em plena comemoração de natal, família irmãos, cunhados cunhadas sobrinhos, parentes. O clã reunido em seu prédio de ditosidade e opulência opressora. Enfim, contar que iria em rumo contrario as tradições, desígnios da natureza, contar que era homossexual, era uma tarefa dura e árdua. Sabia das implicações e por isso me preparei para o pior.

Foi o primeiro ano que não apareci com uma loira ou com uma ruiva ou uma morena de fechar o transito, alugadas a peso de ouro para me bajularem me chamarem de amor e me beijarem, parecia coisa dos contos de Nelson Rodrigues, mas era minha vida de fantasias. Aos 26 anos decidi que não queria mais a vida obscura e marginal das mentiras e farsas e fantasias, queria viver, queria seguir meu curso e meu caminho. Enfim abri o verbo e esperei a guerra.

Ouvi as últimas e mais duras palavras que ouviria na vida, saídas da boca de meu pai. Ouvi a sentença de desterro calado e consciente de que nada mais poderia voltar atrás. Choros de decepção de minha mãe, olhares condenatórios dos irmãos hetero, indiferença dos que não eram da família por sangue. Enfim, sabia que a Dalva já havia preparado tudo. Inclusive o taxi para o aeroporto, nunca esperei compreensão depois do que fiz, por isso tinha aproveitado a ocasião para contar tudo e dar o fora, tinha uma bolsa de estudos e um ainda talvez sem volta para a Baviera e a universidade responsável pelo Zyclon B que matara tantos judeus.

O primeiro exílio; acho que foi a mais acertada decisão, para todos que ficaram felizes e não precisaram mais falar no parente leproso que se mandara para a Baviera e o que os olhos não vêem os corações não se envergonham. Uma singela despedida coroada com a frase: _Esqueça que você tem família! Foi o sinal de que a partir daquele momento eu estava só.

E sozinho fiquei, estudei muito, trabalhei, vivi, me instruí a ter uma casca mais dura, a ser mais inglês; frio e impermeável como uma capa de chuva. Se você quer aprender a ser duro, Conviva com os Bávaros, ou você se torna um nazista, ou se torna um bávaro.

Enfim, entendo como foi difícil voltar para casa naquele dia. Depois de tudo que acontecera. Abri o envelope e aí vi o destino. Podia ser pior, ele poderia ter me desterrado para a Sibéria ou ate mesmo para o Estreito de Bering. Ma ele me mandou embora para o único lugar onde sabia que eu não daria trabalho. Para minha amiga Fran e meu Grande Senildo, a fronteira da Alsácia e da Lorena, terra de conflitos passados e que provavelmente seria meu lar.

A ida para o aeroporto em uma noite bem acalorada. Malas azuis no pátio. Olhos marejados da mãe e olhar sério e sempre cauteloso do pai. Camisa de lã bege e calça jeans com bota de couro zebu.

Foi assim em uma noite de quinta feira de abril que guardei as últimas imagens desta terrinha por onde passei quase um mês, falta menos de uma hora para embarcar no airbus TAM com destino a Recife. Algumas horinhas de vôo me separam da porta de entrada do Lufthansa.

Quase dez anos depois, abandono mais uma vez meu país, para um exílio que agora suponho sem volta. Antes como mero estudante bolsista de doutorado rumo a Hamburgo para a velha e doce der Bundeswehr, agora vou já maduro e consciente que esta é minha última cruzada sobre o Atlântico rumo ao velho mundo. Embora meu coração me empurre para outro caminho pulsante no meio do mundo, tenho medo de ir e não mais encontrar quem fui buscar.

Sei que ao novo mundo talvez não regresse mais em vida. A passagem é só de ida e o mundo dos moinhos de vento desta vez é o destino certo para uma extensão deste segundo momento de vida a que me destina Deus, é fiz as pazes com Ele.

Terra dos vinhos azuis e da pilsen mais saborosa do mundo, viver em meio a âmbares líquidos e com o odor do lúpulo ou amargor da levedura me faz pensar que simplesmente eu nasci em um útero de um propagador de mosto.

Tomei alguns cafés, meus pais já se foram para casa, viver suas calmas vidas longe de mim e eu estou indo. Sozinho para um futuro bem novo, uma língua dentre as tantas velhas que aprendi a dominar. Menos o português que nunca consegui me fazer entender até hoje.

Mas acho que é isso. Uma despedida simples para quem não deixa nada para trás (será?) a não ser o rastro do avião, que com certeza nunca mais me trará de volta para esta terra de lembranças que não quero mais. (ah se pudesses me ouvir...)

I Tratado sobre o amor – O Chamado

A vida a que me propus seria simples. Abandonei toda e qualquer ira, ou brio do passado. Aposentei os títulos e fui fazer algo que pode parecer o mais bizarro de todos. Fui ser jardineiro. Cuidar de tulipas, dayses, antúrios, dentes de leão e violetas. Passava os fins de semana com meus amigos e durante a semana dividia um alojamento com um holandês avesso a banhos e fã de um beq de haxixe ou marijuana mesmo. Ambos fediam pra cachorro.

Esqueci ou tentei esquecer de tudo, das decepções, do medo, das mágoas, enfim de tudo. Só não conseguia apagar a lembrança do meu ursinho, que volta e mia, nos momentos de solidão intensa de inverno, se deitava ao meu lado como um espectro que se recusa a entrar na luz pois é mais conveniente me assombrar como uma maldição eterna da culpa e do remorso.

Vinhos, fios de ovos, crepes, e as noites boêmias mensais em Paris não podiam me fazer melhor nem pior, só mais vazio. Um copo vazio que buscava na igreja de Saint Marie d´apell um bálsamo, e nos túmulos do Père Lachaise um caminho entre, Rossini, Erasmo, Jim Morrison e Piaf La Môme. Mas todos estão mortos e eu querendo. Ou quase.

Então em uma sexta feira, na volta para a cidade a morte resolveu aceitar meu convite, embora eu não fosse o homenageado da ceifa. Ao chegar minha amiga me abraçou e me deu a noticia de que meu pai estava no hospital e talvez não resistisse a uma segunda parada cardíaca.

Muito precavida, ela me disse que já havia providenciado minha viagem logo que soube e que depois nos acertaríamos quando eu voltasse. Puxei minha latinha de cigarros Egipsy, onde guardava meus salários como jardineiro, e tirei uns700 euros e dei a ela. O significado disso ao foi nada misterioso, era o sinal de que não iria mais retornar para lá.

Arrumei as malas, liguei para Remi Mallet meu empregador; agradeci por tudo e me despedi. Contei a ele o motivo da súbita partida e ele foi até mim, me abraçou e me deu uma caixa de madeira com um Perrignon de 91’. Um tesouro. Agradeci e os três me levaram rumo ao Charles, meu xará, para me mandar para casa. Os sonhos não iam mais ficar no umbral. L’ombre jamais!

Os sinos não esperaram às onze horas de vôo para casa para poderem dobrar. Meu pai deve ter cruzado a fronteira enquanto eu cruzava as Fossas Marianas, o mais profundo abismo atlântico. Devemos ter nos cruzado neste plano espacial ou astral, mas nossos gênios não nos permitiriam nos despedirmos como se deve. Senti sua passagem.

A chegada foi triste e enlutada, chuvas leves nesta época sempre abafada e quente. Cheguei a tempo do féretro, das velas, das lágrimas e das histórias de marinheiros e navios. Todo mundo quando morre se eleva a qualidade de santo de conduta ilibada. Espero que não tentem fazer isso quando chegar minha hora.

Cemitério, enterro, carpir e rezar. Enfim me conformei que nunca poderia ter aquela conversa entre homens que um dia propus a ele e ele me negou dizendo que não via nenhum homem na frente dele. Então acho que vamos resolver isso em outra vida, não mais nesta. Então, vamos criar o homem nossa imagem e semelhança.

I Tratado sobre o amor – A roleta

Nunca fui afeito a jogos, mas o fascínio que o pano verde e o cricar da roleta me fez uma boa alusão da minha vida. Uma vez apostei e ganhei 200 euros, foi uma única aposta de 10 euros e ganhei no número que talvez não me significasse nada, mas sempre andou comigo o 13.

Deitado pelo sofá, pensando no por que da vida que estava tendo, me vi como o garoto mimado que sempre fui. Já devia ser umas quatro da manhã, uma inquietação no peito, cigarros em pontas no cinzeiro do pátio, garrafas de Heineken vazias sobre a mesa. O silêncio sepulcral do mausoléu dos Alves, a falta de algo que não se sabe.

Enfim a coragem veio a tona, não se tinha nada a perder, podia não ter o numero de telefone, nem o endereço escrito. Mas a mesma internet que naquele momento me lembrava uma música antiga de Piaf, La Foule. Que falava de uma multidão que trouxe um grande amor e depois o levou. Assim foi a internet comigo, me levou o amor e eu com meus punhos erguidos amaldiçoei a turba digital que me levou o homem que ele me dera.

Entrei. Primeiro consultei os vôos, achei que seria melhor ir à cara de pau até ele, mas ao resistiria se visse que o tempo passou e eu o perdera para outros braços. Lembrei de um velho recurso. O famoso Messenger. Tentei a sorte na roleta pela segunda vez na vida e apostei e joguei as fichas no pano verde e aguardei a roleta parar.

Parou as oito da noite quando ele entrou. Senti todos os meus ossos se contorcerem espremendo o liquor de seu interior até a medula onde o frio se tornou glacial. Um “oi” meio desengonçado entabulou uma conversa que enveredou para caminhos bem mais profundos dos quais eu nem imaginara cavar.

Ele estava disponível, sozinho e talvez triste. Me falou de suas dúvidas e eu as esclareci com tom paternal. Senti meu amor por ele se reaquecer, florir, desabrochar como se tivesse ouvido a melodia dos anjos pela primeira vez na vida, e ouvi.

Ele me propôs vir para ficar comigo, queria estudar queria tentar trabalhar, fazer concursos, e eu nunca poderia lhe negar nada nem que ele me pedisse as auréolas dos halos dos anjos. Aceitei tudo, esqueci as mágoas e as desconfianças, só queria amá-lo, cuidar dele, fazê-lo feliz e desta vez do jeito certo, do jeito que tem que ser.

I Tratado sobre o amor – O recomeço

Recomeçar do zero. Piaf sempre me acompanha com seus versos traçando os rumos da minha vida, Je repars à zéro... E foi isso que fiz. Afinal dezembro, época em que os corações amolecem; o Natal, as festas, o amor.

Elielson; foi uma grande espera até sua chegada no último dia de dezembro. Uma ânsia de vê-lo após tanto tempo me fez sentir o coração apertar, até o último segundo em que as portas da sala de embarque se abriram e ele saiu por ela, pronto para me dar uma vida nova, um recomeço de luzes e cores. Uma vontade de beijá-lo de abraçá-lo de engoli-lo foi premente, mas refreada pelo público e pela discrição.

Soube aguardar até o instante certo, para estar a sós, para beijá-lo, chorar e fazer amor com o meu ursinho senti-lo mais uma vez como meu pedaço, pedaço de mim, metade arrancada de mim, pedaço reposto pelos deuses para que eu pudesse continuar minha jornada ao lado da pessoa que mais me faz feliz, me faz completo. Me faz único.

Ainda temos nosso grande novelo a desenrolar, afinal a nossa vida ainda não está completamente fechada. Ainda dividimos camas e mundos diferentes até que as coisas da vida se assentem de tal maneira que não me importa a geografia, nem onde vamos viver, importa-me apenas estar com ele, viver com ele, respirar o ar que ele divide comigo, ter seus carinhos e suas raras palavras.

Ah como eu sonho com este momento, que enfim apagará todo o mal, afastará a desconfiança e os ciúmes que refreio hoje com maturidade, apesar de vez em quando ele me dar motivos para checá-lo, saber se realmente não há nenhuma ponta do seu passado que possa a vir deturpar nossa tranqüilidade e felicidade.

Amo este homem, amo tudo o que ele é e tudo o que faz. Sorvo suas palavras com deleite real, sei que nem um ser humano por mais que tente, vai conseguir amá-lo do meu jeito, incontido e integral. Que nenhuma aventura valeria a pena para perder este tesouro conquistado a duras penas de aprendizado, que o amor que se instalou é superior a qualquer outro sentimento que possa existir.

Rezo todos os dias para que o tempo passe logo e possamos viver juntos, crescer juntos e que eu possa finalmente cuidar dele como se deve. Dar-lhe o devido amor que lhe faltou durante sua trajetória de vida. Quer seja uma atenção maior de mãe. Uma presença de pai, uma força de amigo, mas quero me contentar em amá-lo, com todas as forças e proteger meu amor do mal que lhe possa chegar.

Bater-lhe palmas e abrir salvas em suas vitórias e sucessos, em contribuir pelo seu crescimento e sua grandeza, como homem e como companheiro. Hoje para mim este homem supre todos os espaços e papéis. Ele é meu criador, meu pai, meu amigo, meu irmão, meu companheiro, meu amor e amante, é para mim uma estima e um consolo de que a vida por mais dura que possa ser, tem sempre um canto para os que acreditam nela.

Agora, combalido da guerra dos anos, vejo meu futuro, vejo o Elielson vindo de um canto qualquer, agitando as mãos, colocando o dedinho no canto dos lábios para pensar, sentado em uma cadeira a espera do tempo, vindo para mim e eu a esperá-lo, com doçura, com paciência, com fé.

Enfim, me contento em amá-lo, ser a sombra da sua mão, a sombra da tua sombra, a sombra do teu cão, pois assim é o amor. Sempre é tirano, mas nunca deixa de premiar os que nele acreditam...

Charles Alves
Enviado por Charles Alves em 09/03/2011
Código do texto: T2837218
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