UM CONTO QUASE DE FADAS
Quando editei meu primeiro livro de poesias, foi por iniciativa e insistência da primeira esposa Rosa. Ela dizia que coisas bonitas como aquelas que eu escrevia não podiam ficar na gaveta, só para mim. Isso era egoísmo e mesquinharia.
Não era. Era vergonha, timidez, sei lá. Afinal, um cara já quarentão, com um nome a zelar e uma responsabilidade a cumprir, talvez não devesse se expor daquela maneira. Afinal, ela era suspeita, era minha mulher, mesmo que ela gostasse, isso não garantia que outros também gostassem.
A verdade é eu não achava que os textos que eu escrevia prestassem para alguma coisa. Só por milagre de alguma fada isso vai prestar, eu disse para ela. “ Se você não tentar”, ninguém vai saber nunca”, ela respondeu.
Editei o livro, publiquei-o, com o título de Centúria, Um Romance Sonetado. Contava um pouco da nossa história na forma de cem sonetos, que foram divididos nas quatro estações do ano, para simbolizar os nossos momentos de paixão, de de-sencontros, de espera e solidão e de mágoas. Graças a Deus tivemos todos esses momentos, e disso resultou que a nossa relação, que durou vinte e cinco anos e produziu duas filhas. Foi a mais intensa que um homem e uma mulher podem esperar viver juntos.
Brigar de verdade, nunca brigamos. Até quando descordávamos das idéias do outro, isso era um momento para revisarmos conceitos e buscarmos alternativas de solução. "Nem a minha, nem a sua, vamos buscar uma terceira alternativa," dizíamos.
Foi, aliás, com esse argumento que ela me convenceu a tirar os meus mal ajambrados sonetos da gaveta e transformá-los num livro. "Quando você aposentar no serviço público", disse ela, "quem sabe não se torna escritor ou coisa parecida". O livro não foi grande coisa, reconheço, mas esgotou sua edição de mil exemplares em menos de um mês e ganhou alguns prêmios literários. Fiz outra edição de mais mil, três anos depois e também logo esgotou. Claro que eu tenho muito amigos e foram eles que compraram a maioria, mas conseguir colocar mil livros de poesia no mercado, não é coisa para qualquer iniciante, todo poeta sabe disso, então.....O fato é que depois de aposentar eu já escrevi seis livros e não posso me queixar da vida. Tenho mais uns dois no prelo e acho que vou morrer disso.
Isso aconteceu em 1995 e Rosa já lutava bravamente contra o câncer que a levaria cinco anos depois.
Vivíamos uma fase interessante da nossa vida. Nossas filhas já estavam praticamente criadas, a nossa vida econômica estava estabilizada, tínhamos uma vida social intensa. Fora a doença, que ela enfrentava com muita coragem e galhardia, tudo ia muito bem conosco. E foi muito bom enquanto durou.
Rosa morreu em 19 de novembro de 2000. Sua última recomendação foi para que eu não ficasse sozinho. “Quem quer viver de verdade, tem que ter um bom cúmplice”, disse ela, “ por que sozinho, a vida é muita dura para se carregar.”
Vinte e cinco anos de uma vida maravilhosa foi a minha aventura com Rosa.
Antes de levá-la para o hospital, de onde ela sabia que não voltaria mais, ela me disse: “Honre as pessoas enquanto estão vivas. Ame-as enquanto estiverem ao seu lado e merecerem o seu amor, depois, conserve-as na saudade, valorizando os bons momentos que viveu com ela. Essa é a melhor forma de reconhecimento. É só o que eu quero de você.”
Pediu-me que reconstruísse a vida e fosse feliz, em homenagem a ela, como mulher. Ela dizia, como Vinícius, que a mulher foi feita para o amor e para o perdão. Como nada tinha a perdoar em relação a mim, que eu procurasse o amor de outra mulher sem nenhum sentimento de culpa.
Como ela me ensinou, eu aprendi a amar de novo. E nesse novo amor, que já vai fazer quase dez anos que me aquece o coração, há, sem dúvida, uma grande participação dela. Por algum “twist of fate” (um golpe do destino), eu me casei justamente com Maria Amélia, uma sobrinha dela. Uma moça a quem ela muito amava.
Se existem anjos da guarda que protegem as pessoas na terra, ou santos que trabalham para arranjar a felicidade de alguém, Rosa deve ser uma dessas entidades.
Para mim e para Maria Amélia ela foi a avalista da nossa felicidade. Por isso, nós resolvemos dar a ela o carinho deste texto, escrito à quatro mãos. Ele retrata este nosso conto quase de fadas, em que Rosa, lá do céu, nos contempla e certamente nos abençoa. Se existem fadas com certeza ela é uma delas.
Quando editei meu primeiro livro de poesias, foi por iniciativa e insistência da primeira esposa Rosa. Ela dizia que coisas bonitas como aquelas que eu escrevia não podiam ficar na gaveta, só para mim. Isso era egoísmo e mesquinharia.
Não era. Era vergonha, timidez, sei lá. Afinal, um cara já quarentão, com um nome a zelar e uma responsabilidade a cumprir, talvez não devesse se expor daquela maneira. Afinal, ela era suspeita, era minha mulher, mesmo que ela gostasse, isso não garantia que outros também gostassem.
A verdade é eu não achava que os textos que eu escrevia prestassem para alguma coisa. Só por milagre de alguma fada isso vai prestar, eu disse para ela. “ Se você não tentar”, ninguém vai saber nunca”, ela respondeu.
Editei o livro, publiquei-o, com o título de Centúria, Um Romance Sonetado. Contava um pouco da nossa história na forma de cem sonetos, que foram divididos nas quatro estações do ano, para simbolizar os nossos momentos de paixão, de de-sencontros, de espera e solidão e de mágoas. Graças a Deus tivemos todos esses momentos, e disso resultou que a nossa relação, que durou vinte e cinco anos e produziu duas filhas. Foi a mais intensa que um homem e uma mulher podem esperar viver juntos.
Brigar de verdade, nunca brigamos. Até quando descordávamos das idéias do outro, isso era um momento para revisarmos conceitos e buscarmos alternativas de solução. "Nem a minha, nem a sua, vamos buscar uma terceira alternativa," dizíamos.
Foi, aliás, com esse argumento que ela me convenceu a tirar os meus mal ajambrados sonetos da gaveta e transformá-los num livro. "Quando você aposentar no serviço público", disse ela, "quem sabe não se torna escritor ou coisa parecida". O livro não foi grande coisa, reconheço, mas esgotou sua edição de mil exemplares em menos de um mês e ganhou alguns prêmios literários. Fiz outra edição de mais mil, três anos depois e também logo esgotou. Claro que eu tenho muito amigos e foram eles que compraram a maioria, mas conseguir colocar mil livros de poesia no mercado, não é coisa para qualquer iniciante, todo poeta sabe disso, então.....O fato é que depois de aposentar eu já escrevi seis livros e não posso me queixar da vida. Tenho mais uns dois no prelo e acho que vou morrer disso.
Isso aconteceu em 1995 e Rosa já lutava bravamente contra o câncer que a levaria cinco anos depois.
Vivíamos uma fase interessante da nossa vida. Nossas filhas já estavam praticamente criadas, a nossa vida econômica estava estabilizada, tínhamos uma vida social intensa. Fora a doença, que ela enfrentava com muita coragem e galhardia, tudo ia muito bem conosco. E foi muito bom enquanto durou.
Rosa morreu em 19 de novembro de 2000. Sua última recomendação foi para que eu não ficasse sozinho. “Quem quer viver de verdade, tem que ter um bom cúmplice”, disse ela, “ por que sozinho, a vida é muita dura para se carregar.”
Vinte e cinco anos de uma vida maravilhosa foi a minha aventura com Rosa.
Antes de levá-la para o hospital, de onde ela sabia que não voltaria mais, ela me disse: “Honre as pessoas enquanto estão vivas. Ame-as enquanto estiverem ao seu lado e merecerem o seu amor, depois, conserve-as na saudade, valorizando os bons momentos que viveu com ela. Essa é a melhor forma de reconhecimento. É só o que eu quero de você.”
Pediu-me que reconstruísse a vida e fosse feliz, em homenagem a ela, como mulher. Ela dizia, como Vinícius, que a mulher foi feita para o amor e para o perdão. Como nada tinha a perdoar em relação a mim, que eu procurasse o amor de outra mulher sem nenhum sentimento de culpa.
Como ela me ensinou, eu aprendi a amar de novo. E nesse novo amor, que já vai fazer quase dez anos que me aquece o coração, há, sem dúvida, uma grande participação dela. Por algum “twist of fate” (um golpe do destino), eu me casei justamente com Maria Amélia, uma sobrinha dela. Uma moça a quem ela muito amava.
Se existem anjos da guarda que protegem as pessoas na terra, ou santos que trabalham para arranjar a felicidade de alguém, Rosa deve ser uma dessas entidades.
Para mim e para Maria Amélia ela foi a avalista da nossa felicidade. Por isso, nós resolvemos dar a ela o carinho deste texto, escrito à quatro mãos. Ele retrata este nosso conto quase de fadas, em que Rosa, lá do céu, nos contempla e certamente nos abençoa. Se existem fadas com certeza ela é uma delas.