Outra metade do coração
Machuca... Machuca muito mesmo quando alguém faz o seu coração sangrar. E ainda dói. Mas digo sempre “não se importe. Apenas parece feio, mas não dói”. Apenas meu coração continua lacrado em suas memórias. Um corpo! Um corpo para que eu pudesse sentir o calor de pertinho, num abraço bem aconchegante que contém carinho, eu continuo procurando por um para que esse pesadelo chegasse ao fim, mas parece que não é um pesadelo.
Queria que fosse um sonho, mas estou andando de vila em vila, apenas de companhia aqui na Terra, minha sombra, que acho que é minha. Ultimamente estou tão desligado de tudo que qualquer um poderia me perseguir muito fácil. Mas quem iria fazer isso? Mas espiritualmente estou com Deus para guiar meus passos.
Numa certa vez, tive a impressão de ver alguém chorando em algum lugar, mas era apenas meu destino com seu sorriso frio. E desde que o encontrei sinto como se minha dor não tivesse mais fim. Dor... E dor... Creio que meu rosto sempre transparecerá isso. Mas aguentarei com este destino. Do qual tem uma expressão de choro apenas para enganar os que estão longe, para ver de perto o que realmente estou passando e que não posso abandonar tão facilmente. Afinal, como dizem, faz parte da vida de cada ser humano.
De repente o “destino” olha pra mim e inicia uma conversa. De cabelos escorridos de cor pretos, de olhos prateados e da minha altura, presumo. Corpo magro, porém que demonstra ter alguma força por debaixo dessa aparência enganadora. Perguntei qual era seu nome, pois chamá-lo de “destino” era meio estranho pra mim. Ao abrir a boca, ele disse seu nome. Alpha. E disse que eu tinha os mesmos olhos que uma certa pessoa tinha. Disse que meu rosto pareceu tão solitário e pesaroso, como se não pudesse mais suportar. E com uma aparência de flor desbotada o meu rosto transparece, com sentimentos persistentes que continuam brotando cada vez mais. Como nuvens que continuam destroçando-se, num céu de culpa. E acabando ter que abraçar este remorso interminável.
É como se toda a “dor” fosse um “começo” em algum lugar e um “fim” certamente que me aguarda, acabei por dizer como resposta para que ele entendesse o motivo de estar assim. O calor que ainda lembro quando alguém veio me dar um afago, está aos poucos sumindo, como se deixassem minhas mãos vazias a fim de sentir a maciez da pele mais uma vez. Mas o que consegui sentir até agora foi apenas as gotas de lágrimas que sempre caem de meus olhos tristes.
Queria ser reconfortado nas noites que iria encontrar alguém, vendo o brilho das estrelas, ele me disse. Mas o mundo não permitiu. Pensamentos e atos de outros que não tem nada a ver contigo, mas mesmo assim te atingem, interferindo que o Sol possa brilhar nesse céu que apenas demonstra uma escuridão e nada mais.
Se algum Gênio da lâmpada existisse e ele me concedesse um pedido, desejaria o que este meu mundo está precisando. Uma solidão chamada “verdade”, do qual sua sombra e seus sonhos eu possa tentar alcançar e junto com isso um futuro do qual eu possa dar um sorriso. Respondi num tom do qual jamais uso com um estranho.
Creio que depois de sua vida perder o sentido, passando de vila em vila a ferida do seu coração que ainda carregas, é fruto de uma dor que agora gostaria ver desaparecer de dentro de ti, não? E nesse momento, com um corpo trêmulo de medo de continuar a vida assim, tenta encontrar um alguém em que possa abraçar. Um alguém que te ajude abraçar com toda a força que ainda resta. Alguém que entenda o que você passou. É a única coisa que mais deseja que te façam.
Notei que o tom de Alpha ao dizer isso foi diferente do começo. Ele sempre falava com uma voz calma, aveludada. Como se tentasse me enlouquecer com tanta frieza diante de mim. Estava a ponto de explodir a calma que ainda restava, antes de partir pra cima dele com um soco e segurar seu pescoço até que ele sufocasse. Mas depois de ver uma gota caindo de seu rosto, iluminado pela luz da Lua, eu vi que era uma lágrima de tristeza.
Então ele olhou pra mim e se levantou. Chegou bem perto de mim que pude perceber como eram seus olhos no momento em que a mesma luz que a Lua tocou em sua lágrima. Olhos prateados como aqueles, não tinha visto igual em qualquer outra coisa ou criatura que passou diante dos meus olhos.
Já vi que causaram muitas interferências em sua vida, os atos dos outros. Sua história é mesmo tocante para simplesmente um homem, um mortal do qual apenas deseja a outra metade do coração para continuar dando um sorriso. Sorriso do qual agora desejo tanto ver que fez desmanchar a minha feição de frieza e ocasionou uma coisa que até então não tinha acontecido na história de minha “raça”. Que realmente, lágrimas podem cair... Dos olhos prateados. Vem! A partir de agora irei mostrar o caminho do qual eu posso fazer dois corações se encontrarem no meio dessa imensidão do mundo afora. Só assim, quando seu choro estiver acabado, você irá exibir um sorriso e caminhar na luz do Sol.