REMANSO SOMBRIO
O campo margeava a linha férrea e por ali, só, ela caminhava. Nas locomotivas, que vez por outra cortavam o silêncio das manhãs, viajavam suas solicitudes, que íam longe ... bem longe.
Convinha-lhe a quietude na paisagem agreste; era tudo o que buscava. Foi mais precisamente esta a motivação para abdicar do conforto de sua mansão, junto ao fervor urbano, e se refugiar na pousada rústica plantada no perímetro da fazenda de herança familiar, freqüentada na infância.
Colhia frutos frescos do pomar, ouvia o mugido do gado no prado, molhava os pés desnudos nas águas tíbias do riacho sinuoso. Mas alguém lhe faltava. No vazio dos dias, a emoção cessou de pulsar no peito, convencida agora de que o amor se recusava a lhe dar a mão.
A companhia com quem desde longas datas sonhara ter ao lado, impassível, limitou-se a observar seu distanciamento na estrada desprovida de esperanças, furtando-se a pegar carona num coração apaixonado.