Em busca de um horizonte que não chega
Às vezes quando se está apaixonado, você acha que nada pode tirar isso de você, um sentimento tão intenso, tão forte que parece intocável, invencível, trazendo uma sensação tão boa, tão doce, como sentir a vida sendo alimentada… Então você passa a enxergar muito além, cheia de planos e com a alma tão disposta… Um sentimento que nasce em algum momento sem percebermos, em alguma entrelinha, em alguma fração de segundo onde nos toma sem que possamos oferecer qualquer resistência, até que ele nos deixa e é impossível não notar quando isso acontece e passamos a querer resistir, a não desistir, não aceitando o seu fim e só depois que acaba que você percebe que seus planos não passaram de apenas planos, onde muitas questões começam a machucar, onde o passado parece parar no tempo e quando passamos a olhar somente para trás e não mais para frente, você quer acreditar que fez o possível para que tudo tenha sido o melhor, não querendo se culpar por uma escolha errada. Você quer acreditar que está deixando algo bom para trás para que só aí, possa seguir sem nenhuma culpa. Você quer que tudo tenha sido importante, pois nada mais frustrante do que percorrer um longo caminho e perceber que nada valeu à pena, que todo aquele esforço, que todos aqueles planos não valeram de nada, botando em xeque os planos e sonhos de agora. É incrível como o mundo parece se adaptar aos nossos sentimentos, aos nossos ânimos, onde quando estamos felizes, tudo parece tão mais fácil, tão mais doce, mais colorido e quando bate a tristeza, as cores parecem se perder, onde tudo parece conspirar contra, ficando tudo tão mais pesado e tão grande que parece impossível enxergar o seu horizonte… Talvez à tristeza e a frustração cansem o nosso corpo e a nossa alma já cansada de tantas escolhas ruins, nos fazendo sentir-se indispostos demais para tentar alcançar qualquer coisa, fazendo tudo parecer incerto e impossível.
“Um sentimento quando nasce, chega de forma silenciosa, tão leve que nem notamos, mas quando parte, é impossível não notar, não sentir o peso”
Mas temos que seguir em frente e eu segui sem pensar, me foquei num caminho que me ofereceu uma segunda chance, então me apeguei a ele decidida a não mais olhar para trás. Confesso que conforme eu andava, cada vez menos eu sabia para onde eu estava indo, mas eu tinha fé de que em algum momento, assim como em longas viagens cansativas de carro, em algum lugar eu iria chegar, uma hora eu iria alcançar aquelas árvores lá no fim da estrada e quem sabe, sentir a felicidade novamente… Foi então que o acaso me trouxe o maior dos milagres, mas eu não sabia se estava preparada para isso, onde acabei me sentindo ainda mais perdida e atolada num caminho não escolhido por mim, mas me mantive seguindo e nove meses depois, eu descobri a felicidade naqueles cabelos finos, macios e sutis... Naqueles olhinhos brilhantes olhando para mim sorridentes e até mesmo lacrimejantes me chamando e mostrando que precisam de mim… No primeiro som de suas vozes, não necessariamente formando uma palavra, apenas aquele som, aquele momento... Aquelas mãozinhas tão pequenas se movendo, o cheiro do primeiro suspiro e principalmente, quando aqueles chorinhos se acalmam quando sentem o meu cheiro e não há nada mais sincero que isso, nada mais verdadeiro, essa confiança, esse momento, essa sensação... Eu havia deixado de acreditar no amor, mas eu enfim pude dizer ao mundo que eu estava amando e que não conseguia mais viver sem aqueles olhinhos, aquelas mãozinhas, aqueles sorrisos e foi então que esse passou a ser o meu caminho de segurança, onde eu não me sentia mais perdida…
O tempo foi passando e meus anjos cada vez mais crescendo, seguindo os seus caminhos e eu sempre vibrando com todas as conquistas de cada um deles. Logo já estavam grandes e quase independentes e sobre a mesa, no meio de um jantar de comemoração, todos estavam sorrindo a minha volta, eu só não conseguia entender o porquê eu não conseguia fazer parte daquilo… Todos pareciam tão felizes, seguindo e conquistando seus sonhos e apesar de fazer parte daquilo, era como se eu ainda me sentisse num caminho que não era meu, como apesar de ter tudo, parecia estar faltando algo, foi então que eu notei que apesar de ter caminhado um longo caminho, eu ainda não havia chegado naquelas árvores verdes, ainda não havia encontrado o meu caminho e nesse momento, uma voz me chegou devagar, dizendo pra eu acordar, que o tempo não passou e que ainda era possível sonhar e cada vez mais essa voz foi se fazendo presente em mim, brincando com os meus medos e sentimentos, me atiçando a voltar sem pensar, que o que está em mim, ninguém irá tirar.
A voz foi ganhando foco, deixando tudo a minha volta em segundo plano e enquanto estavam todos felizes e extasiados, eu saí de fininho, peguei o meu carro e segui na estrada, acelerando como nunca, mas não em direção aquelas árvores e sim, voltando de onde eu havia saído em busca de respostas. Logo me vi envolta de lembranças, lugares, imagens, momentos, tudo parecia exatamente como eu ainda podia lembrar, exceto aquela linda mansão abandonada, hoje reformada e que agora mais parecia um castelo. A piscina próxima ao jardim parecia exatamente à mesma, apenas com alguns detalhes a mais, que a deixaram ainda mais linda, me trazendo lembranças que me fizeram rir sozinha. Olhei de um lado para o outro e não havia ninguém envolta, então eu me despi por inteira e mergulhei… A sensação foi à melhor possível, tal como aquela mesma sensação de liberdade que eu sentia nos momentos em que tudo ainda parecia tão fácil e possível. De repente minha alma pareceu tão disposta, que eu atravessei a piscina sem me cansar, até que enquanto eu ainda mergulhava, pude ver na superfície a presença de alguém parado de pé a beira da piscina… Constrangida, eu deixei apenas que os meus olhos ficassem a mostra, foi quando tive a maior da surpresas… Era ele, o meu passado, a minha dúvida, a minha maior busca ali, de pé a beira da piscina. Ao que parece, ele acabou se apossando da casa, mantendo intacta a piscina onde vivemos grandes momentos juntos. Seus olhos não esconderam a sua surpresa a me ver, onde sorriram junto aos seus lábios… Ainda me lembro daquele sorriso, aqueles cabelos, aquele jeito único de me olhar… então nadei em sua direção e me levantei, deixando exposto meu corpo nu a sua frente. Seu sorriso deu espaço a um olhar apreensivo, quase que dava para ver o seu coração pulsar, não deixando que ele pudesse dizer qualquer coisa e sem dizer nada, ele tirou suas roupas e segurou as minhas mãos, onde pude matar a saudade daquele toque suave e carinhoso então, juntos nos perdemos na piscina, onde as águas contornavam nossos corpos nus, se moldando a soma de nossos pecados cada vez mais se desejando, massageando, enquanto os nossos lábios não se desgarravam e ali mesmo, juntos revivemos muitas lembranças... Sem perguntas, sem dúvidas e sem porque…
Felicidade… geralmente é uma sensação que dura uma noite e que evapora logo pela manhã ao abrir dos olhos, mas hoje, eu acordei e ela se manteve em mim, onde ainda pude sentir seus pés ainda nos meus, seu perfume ainda em mim, seus beijos ainda latejando em meu corpo… tudo era exatamente como eu esperava… Mas isso me fez perceber que eu não queria o já esperado, eu queria descobrir o que estava além daquilo que eu esperava, percebi então que não ia além, não passava do que eu já podia imaginar, mas foi grande... Em meio a isso, me levantei sem que ele pudesse notar, me arrumei e fui embora, em direção ás arvores… Deixando uma carta com a seguinte frase:
“Das dores, a menos compreendida, das paixões, a maior por mim já sentida… Do amor e suas possibilidades, mais uma ainda não vivida”
Em meio a tudo isso, aprendi que o amor não está no passado, ele não fica no passado, pois amor mesmo, não passa, não se perde… A real é que acabamos sempre nos apegando ao que mais próximo chegou a ele e ao invés de seguir em frente e enfim conhecer esse amor, acabamos voltando tudo e se apegando ao quase… Mas eu não me contento com o quase, com o passou ou com o que chegou perto, mas não vingou, é hora de seguir e viver o que ainda não chegou e essa é a minha história, a história de quem ainda um grande amor não encontrou...
(Sujeito a mudanças)