Quando um Fala e o Outro Cala

No bar, as pessoas conversavam em "Caps Lock". Bebiam compulsivamente, na maioria dos casos, a bebida já em temperatura ambiente. Bebiam por que o tinham que fazer. Nós? Fazíamos o mesmo. Vazios? Talvez...

Sim, ele disse. E aquelas palavras saíram da sua boca como flechas em direção ao alvo: meu coração. Ele disse. Disse e, por um momento, me envolveu em teus braços. Silêncio. Ele disse, sim, eu ouvi. Disse também "O que foi?", olhando-me como quem está preocupado. Esperou. Só então umedeci os lábios com a ponta da língua e, ainda atordoada, olhei em teus olhos multicoloridos. "Não esperava".

Sim, estava assustada. Meu peito palpitava, meu coração queria sair pela boca, minhas veias, bulindo, destacavam-se na pele branca. O desespero tomou conta de mim.

Deu para perceber que ele ficou surpreso com a minha reação. Não esperava. Eu fiquei surpresa com a sua atitude. Não esperava. É, ele disse...E no fim, ambos não esperávamos.

Em seqüência, soltei algumas risadinhas abafadas. Desconforto. Ele disse que tudo bem. Tudo bem. "Não tem problema, eu apenas quis falar...". Tudo bem, tudo bem. "Desculpe-me, mas...me surpreendi". "Mas...você sabe que é verdade, não sabe?".

"Sim, eu sei, meu bem". Eu disse e o abracei. Era o que eu tinha, o que podia fazer no momento. Nada mais do que um sincero abraço. Sim, foi sincero. Se eu tivesse dito algo...talvez essa sinceridade se perderia em meio as palavras.

Sim...ele disse!

E eu? Ahn...fiquei muda. Sim, isso mesmo: fiquei M-U-D-A. Pelo menos até eu decidir que é sincero. Fazer o que? Sou assim.

Para L. Lorcale*

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*pseudônimo adotado