SOLIDÃO
O tempo me permitiu vê-lo através do sentimento de dor que me mantinha presa a ele.
Como pude amá-lo? Como posso não amá-lo agora?
A sua capacidade de despir-me com os olhos sempre me perturbou.
Não a nudez fugaz do corpo, mas a nudez eterna da alma.
Como água límpida e transparente me sinto, aquela que nada esconde; nas improváveis tentativas de omitir o claro, o verdadeiro.
E sendo assim, eu mesma, sinto agora que nada posso sem ele.
Em cada passo, uma busca e um desencontro. Já não posso tê-lo.
Tenho medo da incerteza e da solidão intrínseca em mim; fui deixando-a entrar, não sei livrar-me dela.
A solidão é leviana e traiçoeira, as vezes nos inunda de paz e leveza, outras vezes nos angustia com a dor do vazio.
Não sei o que dói mais, a certeza da tua ausência ou a incerteza da tua volta.
Em meio a críticas e desilusões ou às novas tentativas ao amanhecer, eu caio e levanto.
Meu corpo é escudo silencioso da luta travada com minha alma.
Não sorrio para o espelho, um reflexo muito aquém do que quero ver de mim mesma.
Sei que meu melhor reflexo está em algum lugar dentro de mim que desconheço. Ao encontrá-lo então, serei livre.
Nesse momento a tua ausência não me causará dor. Teremos um reencontro de amor, sem expectativas frustradas, nem solidão.