Uma mensagem de Amor!

Roberto Mateus Pereira

- O que será que passava pela cabeça daquele homem?
Esta talvez fosse a pergunta mais constante que todos faziam ao passar por aquele homem solitário, de olhar distante e melancólico.
Tem 43 anos o tempo que separa o passado e presente em sua vida.
Recordo-me como se fosse hoje como tudo começou e garanto, que ao contrário dele, vi o tempo passar, vivendo intensamente cada minuto. Pouco se sabe da sua vida antes daquela inesquecível manhã fria de julho. Sei que era domingo e ele, músico por vocação, bem sucedido, retornava para casa após uma viagem de trabalho.
Sempre alegre, cumprimentava a todos com seu sorriso contagiante, fosse pobre, rico, branco ou negro.
O sobrado onde residia era de aparência sóbria e o verde das plantas predominava no jardim e nas sacadas, indiferente ao frio daquele inverno de 1.965. Naquele dia movimentação era intensa, familiares e amigos de Hugo aguardavam ansiosos a sua chegada.
Durante toda a noite e parte daquela manhã foi um entra e sai que curioso me aproximei para saber o que realmente acontecia já que seu único filho, Gilberto, era meu amigo e a informação obtida foi um choque: sua mãe, Dona Gilda havia falecido.
Durante toda a tarde e parte da noite do sábado ela passou muito mal e mesmo sendo socorrida acabou vindo a falecer.
Ainda hoje vejo Hugo abrindo a porta, entrar e ouvir seu grito de dor e choro desesperado.
Sua história mudou, ele mudou, todos naquela casa mudaram.
Gilberto foi morar em outra cidade e nunca mais soube dele... Desapareceu!
Hugo passou anos enclausurado no interior da casa e dentro dele mesmo. Sua única companhia eram os acordes tristes que ele, repetida vezes, durante o dia arrancava do seu violão. A música, mesmo triste, cheia de saudade, lhe dava forças para sonhar a todo o momento o intenso e indescritível amor que viveu ao lado de Gilda.
Um dia descobri que atrás daquela aparência triste se escondia um homem forte. O sorriso já não era o mesmo, ele estava transformado, envelhecido, mas sua voz continuava firme, sólida, dando mostras que nem tudo havia mudado.
- Bom dia! Como vai você?
Confesso que todo diálogo que tivemos me pegou de surpresa, me deixou sem ação, pois achava que encontraria um homem calado, de pouca conversa, mas não, o que via pela frente era um homem forte que fez da música, companheira da solidão, a razão de ainda estar vivo após perder o grande amor de sua vida: Gilda!
Saí dali aliviado, havia conhecido o verdadeiro Hugo e não aquele homem que a minha imaginação criou com o passar dos anos.
Recentemente soube que ele havia morrido e que em uma das mãos foi encontrada uma pequena carta, amarelecida pelo tempo e escrita por Gilda seu único e grande amor pouco antes de morrer.
“- Meu amor, hoje está muito frio sem você ao meu lado. Sinto sua falta e não sei por que tenho medo de perdê-lo. Após ler este bilhetinho, guarde-o consigo para sempre se lembrar de nosso grande amor e não se esqueça: "Não quero mais esse negócio de você longe de mim...”.
Escritor Paulista
Enviado por Escritor Paulista em 22/02/2011
Reeditado em 22/02/2011
Código do texto: T2807912
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