MINHA VIDA – O FILHO – Parte II
Começo a falar da tarde de sábado, do dia 07 de novembro de 1987, véspera do nascimento do Lucas. Ainda no percurso da minha casa para o hospital, dentro do ônibus, comecei a sentir uma forte dor de barriga. Uma vontade enorme de ir ao banheiro. Eram as contrações, dor do parto. Imagina a surpresa ao saber que esta dor, se tratava de prenúncio do nascimento do bebe. Como era a minha primeira gravidez, eu não tinha nenhuma informação sobre, como era realmente, sentir uma dor de parir. No inicio, parece com dor de barriga, bem forte, por sinal.
Quando cheguei, ao hospital de base de Brasília, para o último exame do pré-natal, estava com dois centímetros de dilatação. Em trabalho de parto. O médico que me atendeu, constatou. Precisei então de alguém para assinar a minha liberação. O dilema começou. Estava em trabalho de pré-parto. Haveria o risco de o bebê nascer, antes de chegar ao hospital, mediante aceleração das contrações. O médico não queria correr o risco. Neste caso, seria negligência. Solicitei socorro à única pessoa provável. Meu chefe do trabalho. Relatei o ocorrido e pedi ajuda. Ele prontamente socorreu-me. Assinou a liberação, acertou tudo e conduziu-me ao hospital Santa Lucia, em Brasília. Finalmente iria ter o meu bebe. Dentro do combinado. Tamanha é a dor de parto, que dá até para chamar Jesus de Genésio. Desse ponto em diante, fiquei consciente de que a minha companheira de solidão, aquela que ficou comigo até a minha gravidez, tinha ido embora. Agora teria o Lucas para me acompanhar. A partir desse dia eu nunca mais, ficaria só.
Finalmente o dia tão esperado por mim, chegou. O nascimento do meu filho. Com ele, a verdade sobre a paternidade. Foi uma noite de muita dor e contrações. Exatamente na manhã, do dia 08 de novembro de 1987, domingo, nasceu Lucas. Minha felicidade foi enorme. Quando o peguei no colo e vi a sua carinha. Senti que o meu mundo de cinza, ficou colorido. Meu primeiro filho. De relance, veio à mente, o relato da vidente: “Um filho homem de um militar.” É do bombeiro.
O meu bebê nasceu, com 1.820 Kg, devido a complicações na gestação. Ficou internado, mais ou menos uns 07 dias, na incubadora, e eu junto com ele. Amamentar muito seria a sua salvação. Começou então a procura por leite, pois a principio eu não tinha, mais depois de algum tempo, parecia uma vaca leiteira. Doei até para o banco de leite, da maternidade. Foi muito difícil a amamentação, no começo, pois dói demais. Depois, era só alegria, colocar o peito para fora, que já vinha o Lucas. Mamou até quase os dois anos de idade. Não o alimentei mais, porque fiquei grávida de novo. De gêmeos, o Tarcysio e a Taysa. Mais isso é outra estória. Só que é de felicidade dupla.
Durante os dias em que passei internada. Aconteceu a maior e melhor das coincidências, em nossas vidas. O avô do Lucas, encontrava-se internado, no quarto ao lado do nosso, bastante debilitado. A descoberta do neto, foi esplêndida, pelos avós e família. Uma surpresa para todos, inclusive para mim, que só conhecia o pai do meu neném e seu irmão, o único que sabia do nosso envolvimento. Isso sim, pode se dizer que foi o destino. E neste ínterim veio a confirmação da paternidade. Tudo mediante os olhares crivos da família Vasconcelos. Foi muito bonito e bastante rápido. Encarregaram-se de espalhar a noticia, do novo sobrinho, neto, primo, etc. Parecia uma festa, no meu quarto. Sem deixar de mencionar, a avó, a matriarca, que ficou frente a frente, comigo, fazendo perguntas, até umas minudências, pegando-o no colo, vistoria total. Depois de tudo isso, chorou muito, ficando até emocionada. Mais um neto. Foram momentos sublimes. A família do Lucas reunida ao redor dele. O descobrimento de tudo. Mágico. Inclusive para o avô, que quando soube, pediu para ir buscar o neto, pois queria pegá-lo no colo. De repente, por um tempo, eu não me senti só. Tinha a família do Lucas.
De volta a realidade. E o pai biológico? Só foi aparecer, para conhecer seu filho, depois da meia-noite. O pior com umas e outras na cabeça, pois desde cedo estava a comemorar o nascimento do seu primeiro e único filho homem. Quase que fomos expulsos do hospital, por causa da aglomeração tão tarde, em volta da criança. Foi engraçado. Hoje eu tenho saudades e ainda fico emocionada pelo acontecido.
Olhe se existe emoção. Foi o nascimento do Lucas, desde a concepção. Primeiro a forma como foi concebido. Depois a gestação complicada e por último o nascimento. Alegrias, com um pingo de tristeza, misturada com saudades.
Depois do nascimento, toda festança se dissipou. E a família do Lucas, sumiu. Ficamos só eu e ele, de novo. Por muito tempo. Sem mencionar o meu namorado, que não se desgrudou. Veio me buscar na maternidade, fez festança e assumiu o meu filho, registrando como pai e tudo. Foi uma verdadeira prova de amor.
Durante um bom tempo fomos uma família. Até o Lucas começar a crescer, então começou as cobranças. As confusões. Fiquei grávida de novo. Só que desta vez, do meu namorado. E minha vida virou um inferno. Mais como minha vida é sempre de muita luta, pois mãe que é mãe. Não deixa nunca o filho sofrer. Resolvi que Brasília, seria até o nascimento dos gêmeos, depois eu voltaria para minha terra natal. Para minha Fortaleza, junto dos meus familiares, com meus três filhos.
Quanto ao pai biológico do Lucas, o bombeiro, é um fantasma que some e desaparece do mesmo jeito. Como do nada. Sem explicações. E assim sucedem umas visitas, esporádicas.
Portanto eu digo. O nascimento de um filho, não se compara a emoção de ser avô e avó, em segurar no colo, uma continuação sua. O neto. É como se, o nosso filho renascesse de novo. Digo isso, porque eu senti a mesma emoção ao nascer o João Lucas, o meu neto. O filho do Lucas. Foi fantástico. E uma sensação maravilhosa, é como se eu tivesse dado a luz de novo ao Lucas. Isso se chama hereditariedade. A continuação do meu filho no meu neto. Uma emoção indescritível. E ninguém pode tirar isso de mim.
Mais isso é outra estória, agora sim sem solidão. Um momento dedicado à família feliz.
TARTAY-Fevereiro-2011