O SUICIDIO DO AMOR - Parte II
Maria sentia um peso imenso invadir seu coração. O que tinha feito de sua vida? Queria morrer, nada mais. E a vida não lhe importava? O amor corroído dói, mas o tempo cura a ferida. Mil perguntas ardiam em seu cérebro. Naquele instante, só pensava que sua vida lhe traria felicidades. Retornava feliz para a sua casa. Arquitetando inúmeros planos.
Ela estava disposta a esquecer sua vida passada. O amor impossível, o erro, do qual não se sentia culpada. A fatalidade. O passado que teima em ressurgir das sombras. Sentiu seu coração como gelo dentro do peito e sua cabeça atordoada, sem poder racionar. Não iria protestar, nem chorar, muito menos se revoltar. Por mais que quisesse apagar, não imaginava como Miguel aceitaria sua decisão. O suicídio do amor. Uma tristeza imensa invade o seu coração. Como o bem conhecia, iria cobrar-lhe contas, punindo-a com a sua leviandade.
O coração de Maria batia descompassado no peito ao retornar para a sua casa. Olhava agora com outros olhos, a sua beleza. Ter uma vida nova é o que ela sempre queria. Queria falar com Miguel. Pedir-lhe perdão. Embora guardasse tristeza e decepção, procuraria dizer tudo. Ninguém poderia prever a difícil situação em que ela se encontrava. Acreditava no amor.
Entre lembranças do passado e as necessidades do presente, viu-se a recordar a noite em que pela primeira vez encontrara Miguel. Que emoção! Não podia evitar a avalancha a envolver-lhe o coração e a saudade imensa daqueles idos de 1991.
Resolvi sair com umas amigas para curtir a noite. Era um dia feliz. Alegria e muita aventura. Se possível um amor! Tudo para minhas amigas e eu, era um motivo para comemoração. Um bar à beira-mar. O toque, o despertar de uma voz e seus dedos a dedilhar uma música suave e tão conhecida. Tudo envolve. O som prosseguiu noite adentro e no final o vislumbre do cantor. Mario. Ai foi o começo. A dança, quanto tempo não sei. Só sei que a noite desceu e exaustos e felizes, fomos para a cama. Uma atração, que aos poucos se transformou em amor.
Meses depois, a promessa de juntos partiriam para sempre. Para uma vida a dois. O romance com o cantor começara. Nos dias que se seguiram, Maria e Miguel foram trocando palavras loucas e amorosas, sussurradas ao ouvido. Tudo era como um néctar que chamava para a força do amor.
Entretanto, o amor que Mario sentia era imenso e exigia a presença de Maria todos os minutos. Juntos eram um só, entregavam-se ao amor sem que ninguém interferisse. As palavras ardentes dele penetravam-lhe o íntimo, mais ela lutava e resistia, procurando mostrar no seu corpo um calor brando e irresistível que transmitia o seu coração.
Mais nem tudo são flores, as discussões começaram. Mário queria voltar para sua vida boemia, à noite. Maria queria ficar em frente à lareira, descansando e lendo o livro. Ou então lendo um bom livro. A situação ficou insustentável. Até que tudo começou a acabar. Inclusive a falta de afeto.
Maria ficou vendo sua vida desmoronar dia a dia. A natureza, o luar e a brisa perfumada. Não adiantava mais. Mário queria a boemia. Quantos sofrimentos este amor lhe trouxera!
Maria sentia que uma página de sua vida tinha sido virada e de agora em diante, pensava em esquecer a tragédia e recomeçar. O amor mais uma vez venceu. O suicídio.
TARTAY/Fevereiro-2011