O SUICIDIO DO AMOR

Ceará! Terra da Luz! Muito Sol, flores, música e atrações.

Fortaleza! Cidade do sonho! Sol e mar. Suas ruas cobertas pelas lembranças dos tempos vividos.

Junho, 15. Mês de aniversário de Maria, cabelos negros e longos, caindo sob os ombros. Um corpo jovem e belo. Sua juventude transparece alegria, todas as coisas se embelezam ao seu redor.

Tudo na vida é uma escolha que contribui para nossa vida espiritual. Às vezes nos revoltamos ao toque da realidade que sempre toma o reflexo das nossas escolhas, e nos atinge no coração, com uma resposta diferente da que esperávamos.

Prisioneira da noite e assassina no decorrer do dia. Maria encontra-se em sua casa, por sinal uma mansão decadente, situada no alto da colina, sombria e distante. Tem um jardim totalmente tomado pelo mato e com as árvores ressecadas pelo tempo. Acho até que seja falta de cuidado. Ao redor da casa é tudo escuro e sombrio. Incessantemente olha o relógio, na espera da madrugada chegar para executar seu plano. O fim da noite adentra e com ela o clarão da manhã na vidraça quebrada da janela. Lá fora uma chuva fina e ininterrupta de um inverno que começa sem agasalhos. Sua mente começa a martelar. Chegou o momento exato do suicídio do Amor.

As horas passam e Maria cada vez mais fica impaciente. Sentada no sofá, gasto e barato, sem qualquer estilo. Chegada a hora, resolve subir as escadas. Temendo ser descoberta sobe devagarzinho. Ao chegar ao quarto. Abre as cortinas. Ficando então inebriada pela cena diante dos seus olhos. Miguel, seu amor, loiro e alto, deitado na enorme cama de casal, nu, exausto e saciado da noite de amor à dois. Olhos verdes? Ou será que são azuis? De tão penetrantes que é deixando-a totalmente desnorteada. O seu corpo lindo! Sua pele macia da mais pura seda. Seus lindos cabelos de cachos amarelos como um sol a refletir parecendo fios de ouro.

Cansada e feliz, Maria retorna a realidade. Pega suas roupas, pendurada nos cabides uma a uma, colocando na mala. Em um ritmo acelerado. Para por um instante para admirar suas bonecas, companheiras de toda uma vida. Resolvendo levá-las também. Ainda por um segundo sente o perfume, há muito distante. Fecha a mala. Resolve então descer os degraus de mansinho. Saindo então porta a fora. Está decidida. O suicídio do amor.

Neste exato momento, Maria se sente uma mariposa atrás do poso bem sucedido na árvore verdejante com tristezas, alegrias, esperanças e fim. Seu presente, torna-se agora um passado vivo e cheio de recordações tenebrosas e claras. Mais uma vez, Ela tenta não lembrar. A eternidade da manhã que se inicia é o seu calmante para dar o fim em sua vida.

Na verdade, em sua caminhada pela chuva, Maria pensa. Minha alma e o meu corpo estão sendo lavados. Estou plenamente livre. O rosto de Miguel, a todo instante como que um flash, passa e com ela a imagem que deixou em sua casa, dormindo. Neste exato momento, sente que sim. É o começo do fim. O suicídio do Amor.

Durante algumas horas, caminha devagar para seu destino. A ponte do Rio Maracujá. Em meio a trovões e raios que parecem rasgar o céu é tomada pelo pânico. Mais uma vez, decidi se jogar. O rio com sua correnteza lhe levará para qualquer lugar. Morrer de amor? Será que vale a pena? Pensa em tudo e em todos, principalmente na família que deixou tão longe para viver o amor de Miguel. As manchetes do Jornal, lhe assusta. Tem certeza de que será destaque da primeira página. Parece até que está vendo: “MULHER MORRE POR AMOR”. Trágico. O frio está congelando seus ossos. A fonte que outrora era luminosa, está apagada. Agora só existi o som d’água caindo no chão e no seu corpo. O rio está transbordando e pela correnteza tudo está passando, plantas e paus, etc. A natureza morta exatamente como Maria. Nesta indecisão ver o despertar do dia de um sol. É sublime.

Maria procurava demonstrar um interesse que não sentia. Seu coração estava oprimido. E neste momento se sentia enlouquecida e queria ir para junto da sua loucura, não querendo ver ninguém. Muito menos uma lembrança da casa, do amor deixado para trás. O perfume de Miguel e também o seu cheiro continuavam em suas entranhas. Só o tempo se encarregará. Deverá se tornar seu aliado, ou não? Colaborará ou não com a sua morte.

Maria mais uma vez, sente uma sensação de abandono, uma implosão a percorrer o seu corpo e seu cérebro, pedindo a sua morte. Uma vontade de sumir, da vida dele e de todos. Não querendo trazer prolongamentos, nem saudades, muito menos tristezas. Olha o horizonte ao longe, tomara que ele lhe traga esperanças e calor. As noites de frio, que viram ficaram deixadas na casa; no quarto, entre as cobertas, o corpo nu e sedento de amor de Miguel. Quem irá aquecer o seu corpo?

A chuva teima em cair e no inicio do âmago da alma de Maria, que sabe ser o primeiro dia do eterno castigo. Há o indicio de um suicídio de Amor. Uma certeza de que tudo irá melhorar. Nada melhor do que um novo Amor, para curar o passado. O mundo talvez fosse completo se existisse a verdade.

O tempo mudou bruscamente de uma escuridão de nuvens negras, e um vento forte para um céu límpido onde o sol reina absoluto. Como que um clarão, decide retomar para aquela casa branca e sem vida. Imediatamente seus passos aceleram para o amor de Miguel. O novo dia é um convite para o montante do véu da noite escura que passou.

TARTAY/Fevereiro-2011

TARTAY
Enviado por TARTAY em 14/02/2011
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