Dentista

Estava Alice na espera para ser atendida pelo dentista, sua senha era setenta e dois, ela estava sentada numa cadeira desconfortável, tentando buscar a melhor posição para se adequar, ela se revirava e remexia, mas era impossível sentar ali. Agora estava sozinha naquela sala, já que as três pessoas antes dela já haviam sido chamadas, e não havia aparecido mais. Alice seria a próxima a ser atendida, enquanto isso não acontecia, tirou de sua bolsa um pequeno livro e passou a se deleitar no prazer da leitura, na ânsia de que o tempo voasse.

Não demorou muito para que alguém viesse fazem companhia por ali. Um rapaz alto e charmoso apareceu como um fantasma aparece em filmes de terror, tão sorrateiro que atravessou a parede, pegou uma senha de atendimento na entrada e sentou no outro canto, em um sofá branco, mas Alice continuava fixada em sua leitura, silenciosa e concentrada, então, ao final do primeiro capítulo, olhou o rosto do rapaz e algo aconteceu, ela se perdeu em devaneios, era como se o conhecesse desde a infância, ela em nenhum momento o achou bonito, mas era como se fosse alguém que tivesse ressucitado na sua vida, alguém que ela conhecia, mas ela tinha certeza de que nunca o viu.

Alice esqueceu o livro em seu colo, e passou a despistar seu olhar para não ser notada, era como uma investigadora disfarçada atrás da sua recompensa, o lobo e a presa frente a frente, ela aguardou, esperando que ele a olhasse, ou que pelo menos dissesse uma palavra, mas nada, ficaram mudos os dois, o tempo todo, ele coçava sua barba com a mão e lia uma das revistas que estava na mesinha de centro, o tic-tac do relógio era o único som audível naquele instante, mas Alice estava ardendo cada vez mais, e o seu desejo de dizer alguma palavra, que fosse um mero "oi", apenas para ouvir a voz daquele sujeito se inflamava dentro de si, naquela hora não havia mais desconforto na cadeira, não havia mais consultório, muito menos dentista, havia apenas ela e aquele homem.

Foi quando ele se levantou, e fez o coração de Alice acelerar, ele definitivamente iria tomar uma atitude, iria a beijar ou quem sabe a agarrar, ou se aproximar. Ele caminhou e entrou na porta do dentista, uma outra mulher estava saindo. Ela olhou até o visor, que apontava o número setenta e três. A vez de Alice tinha passado e ela sequer notou.

Derek Matthews
Enviado por Derek Matthews em 13/02/2011
Reeditado em 13/02/2011
Código do texto: T2790120
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