DUAS VIDAS E UM DESTINO
DUAS VIDAS E UM DESTINO
O dia amanheceu frio e nublado. Mês de setembro, alguns dias antes da primavera. O inverno foi de poucas geadas devido às chuvas. Mesmo sendo uma região que geia bastante e às vezes até neva. O chimarrão era sagrado, bem de manhã, logo que levantavam. Angelo saía cedo pra labuta apesar do frio. Mexia com construções de pequenos portes. Jandira, a esposa fiel ficava com os afazeres da casa e algumas costuras. A filha também levantava cedo pra ir estudar. A escola da Adria, mais conhecida como Adrinha, não era muito longe da residência.
Luiz Benjamim estudava na mesma escola. Na mesma sala. Eram grandes amigos. Se alguém a ofendia, por ela se doía. Defendia-a todas as vezes que falavam mal de Adrinha ou tentavam fazer-lhes algo que a prejudicasse. Era o seu guarda costas.
As famílias eram vizinhas. As classes sociais diferentes. Os pais da menina tinham uma vida difícil, com poucos recursos. Os de Luiz, seu nível era um pouco melhor. Vicente seu pai, era caminhoneiro. Trabalhava por conta, viajando em várias partes do Brasil. A mãe era professora. Um casal bem conceituado.
Dona Neusa levantou cedo, antes do dia clarear. Como de costume, preparou o café e o chimarrão. Estranhou que o marido Vicente ainda não tivesse levantado. Este carregaria o caminhão de manhã e à tarde viajaria para uma cidade portuária, que era pra onde transportava grãos. Ao se chegar no quarto... o susto. O homem estava sem vida. Foi levado para o hospital... mas...
A sala de aula ficara sem a presença da professora Neusa. Com a morte súbita do esposo ficou uma semana em casa. O veículo pesado colocou-o à venda. Em poucos dias já estava nas mãos de um novo dono. Vendeu-o pela metade do preço. As dívidas eram muitas. Pagou todas, mas ficou a “zero”.
A falta do chefe de família começou a fazer efeitos negativos na vida da mulher. Foi ficando doente... não conseguia trabalhar. Em menos de um ano, ou seja no prazo de dez meses da partida de Vicente, chegou a vez da Neusa. Esta foi... encontrar-se com o grande amor da sua vida... Deixou sozinho o filho Ben...
Luiz ficou sob os cuidados da vó paterna, mas esta sem condições. Saúde frágil e sem dinheiro. Enfim, o menino foi adotado por uma família boa, de classe média...
Angelo continuava com seu trabalho. Ganhava pouco, mas dava pra sustentar a casa. A roupa pra família Jandira mesma fazia. Com esforço conseguiram dar uma boa educação para a filha. Esta formou-se em enfermagem. Enfermeira padrão.
No mesmo ano numa outra cidade, houve a colação de grau do jovem, que se formou em medicina. Rapaz muito esforçado, além de inteligente. Foi fazendo vários cursos e se aperfeiçoando cada vez mais.
Ao trabalhar num hospital como médico residente, conheceu uma outra médica. Começaram a namorar, mas não tinham sido feitos um para o outro. O namoro acabou. Uma enfermeira começou a trabalhar no mesmo lugar, mas em setor diferente. Raramente se encontravam. Algumas trocas de olhares. Ela sabia seu nome porque prestara atenção no bordado do jaleco. Continuaram alguns meses como colegas. Apenas cumprimentos e algumas conversas no que diz respeito à profissão.
A confraternização do final de ano estava marcado. Os dois se encontrariam... usariam a mesma mesa.. e a conversa começou. Durou cerca de uma hora...
As surpresas foram acontecendo. Cada um deles falava da sua vida, sua infância... lugar onde morava... tipo da casa... profissão do pai... da mãe... seria uma mera coincidência? Luiz contou que tinha uma amiguinha que gostava muito. Era apaixonado pela coleguinha. Não tinha coragem de revelar seu amor, mas fazia de tudo por ela. Queria que ela soubesse do seu amor... mas ela nem desconfiava... E o mais interessante, que os nomes eram os mesmos: Adria e Luiz Benjamim, este mais conhecido como Ben, ela como Adrinha. As coisas foram se encaixando...
A bela Enfermeira Padrão contou do amiguinho luiz que a defendia na escola. Disse que amava esse amigo, mas tinha vergonha de declarar-lhe. Contou-lhe que seu pai se chamava Angelo e sua mãe Jandira. Estavam vivos ainda. Moravam na mesma cidade que ela nasceu. Trocaram só a casa. Fizeram outra melhor. Luiz Benjamim disse que seus pais morreram cedo. O pai se chamava Vicente, caminhoneiro e a mãe Neusa, professora. Descobriram que eram os mesmos que juntos brincavam quando crianças. O médico disse que tinha outros pais que o criaram. Ao falar, emocionou-se... Adrinha pegou um guardanapo e enxugou-lhe o rosto que ficara molhado com lágrimas...
Os profissionais da saúde saíram e foram numa sombra debaixo de algumas árvores. Já estavam tão íntimos que Ben... segurou a mão de Adria. Esta por sua vez, correspondeu... beijaram-se...
Um ano após esse episódio, o casal contraiu matrimônio. Foi uma festa simples, numa chácara emprestada de um amigo, um verdadeiro paraíso. Na divisa dos estados de São Paulo com Minas Gerais. A lua de mel foi numa praia do Paraná. Levam uma vida simples, com bastante trabalho. Além da profissão normal de cada um, começaram a fazer o que gostavam, nas horas vagas. Escrever. Tornaram-se escritores de poemas, contos, crônicas... Exímios escritores...
(Christiano Nunes)