A DESPEDIDA
Maria se recorda muito bem daquele dia 01 de julho de 1991. Um domingo. Dia do abandono. Dia em que os cinco anos de sua vida, junto de seu companheiro, tiveram fim. Porque acabou? Fico sempre a perguntar. Sinto ainda o vazio deixado por ele, e tenho ainda na minha boca, o gosto amargo de fel. Tudo embaça. As lágrimas teimam em cair. Minha vida é só recordação.
O tempo foi e continua sendo cruel. Já se passaram anos. E aquele dia, continua na minha mente, a martelar. Dói demais. A concretização da separação. Até hoje não consigo entender? Não sei se foi pouco, o tempo para refletir, ou melhor, será que nunca houve? Foi muito rápido. O meu coração, até hoje, não está, ou melhor nunca ficou, preparado para ouvir, o que a boca de Rafael disse naquele adeus. A nossa estória foi linda. É o que eu acho. Poucos eram o que achava possível e inadmissível, o desenrolar, em que, ela insistia em viver. O inimaginável do amor. No momento, como um flash, veio tudo a tona. De repente, à vontade louca de reviver o passado. Aquele passado, em que eu pensava que estava morto.
A tarde está fria e nublada. Maria se encontra dentro do bar, vislumbrando sua vida, diante dos olhos. Cai uma chuva fina e ininterrupta, fustigando a vidraça do bar. Eu continuo pensando no amor que acabou.
Na época da despedida. Eu tinha os cabelos escorridos e longos, ao longo do corpo. De um louro marrom acobreado. Uma beleza indomável. As unhas impecáveis. A pele viçosa e de muito brilho. Agora olhando para eles, vejo-os opacos e sem vida. Imagino que, devido ao sofrimento da perda do grande amor, eles tenham ficado assim. Sem cor. Venho fazendo inúmeros tratamentos de beleza. Mais hoje, sito que eles não voltarão a forma original.
Encontro-me sozinha, sentada na mesa do bar. Diante de mim, está uma cerveja gelada, como a esperar, o primeiro gole. Meu olhar está perdido nas lembranças. Parece que foi ontem. Ainda escuto a voz suave de Rafael, a martelar o meu cérebro. Ferindo-me feito um punhal. O adeus. Seus olhos frios e penetrantes, de uma cor escura. Seus cabelos castanhos e esvoaçantes, afagados tantas vezes por mim. Ainda sinto sua boca molhada, muito vezes beijada. É uma bomba, preste a explodir. Tudo vem a tona. “Você é uma pessoa maravilhosa. Merecedora de alguém que te ame e faça feliz. Com certeza não sou eu. Este momento de recordação é só nosso. Preciso ir embora. Para a eternidade. Longe da nossa vida.” Adeus. Palavras cruéis. Diante de mim, estava o homem que eu tanto amei. Falando aquilo que eu pensei que nunca fosse escutar. Ele fala e eu não consigo balbuciar nada. Não acredito que fiquei muda. Gostaria muito de ter dito tudo, que: Preciso de ti ainda, não quero escutar a palavra FIM. “AINDA TE AMO”. Depois do adeus. Não sei por quanto tempo, permaneci sozinha na mesa do bar. O mesmo bar, que me encontro neste exato momento. O pior é que todo ano, nesta mesma data, venho e fico no mesmo lugar, não acreditando que acabou. Revivendo e morrendo aos poucos.
Fico martelando-me. Como eu pude dedicar toda minha vida para ele? Atingir o máximo da relação. Mas tudo foi lindo! Porque meu Deus? Será que nosso amor foi morrendo aos poucos, ou foi sepultado só no coração dele? E no meu? Continuo com o mesmo amor, que para mim não findou.
Parece besteira para uns. Mais eu ainda estou a viver, os mesmos momentos que passamos juntos. “À noite no bar, o toque, o despertar de sua voz ao meu ouvido e seus dedos a dedilhar uma música suave e tão nossa conhecida. Tudo envolve. Duvidas.
De repente, me vem à realidade. Olho para a cerveja. Dou um último gole. Dirijo-me ao toalete. Enxugo as lágrimas. Retoco a maquiagem. Coloco um batom e depois passo um pó rosado nas faces, para dar cor à face pálida, que reflete a imagem no espelho. Vou ao telefone. Disco seu número. Preciso pelo menos escutar a sua voz. Ele não atende. Pago a conta e saio. Lá fora, para e respiro, deixo a chuva fina cair nos meus cabelos, agora se mistura as lágrimas, que teimam em escorrer pelo rosto.
Como é cruel uma despedida que não era esperada. É sempre um que, fica na saudade. Começo a caminhar sem rumo. Não quero saber até aonde os passos me levam. Não olho para trás. Não quero mais pensar. O meu desejo é seguir em frente, tentando esquecer. Sua imagem insiste em ficar, no meu pensamento. Grito com toda força do meu pulmão. O seu nome. Fico chorando, chorando! e tudo fica escuro. Sofrimento, ódio, vazio, tristeza, solidão, paixão e saudades, tudo misturado na desilusão do romance desfeito, de eterna meiguice. Caio ao chão. Acredite. Ele não volta. Não voltará jamais. Olho ao redor e sinto que estou sendo observada. Meu desespero é tanto, que continuo sentada, na sarjeta, chorando. Não ligo. Os transeuntes, param, olham. Eles sentem e pensam. Coitada. Neste exato momento, só desejo uma coisa, chorar. Morrer.
A chuva continua castigando o meu corpo. Agora está muito forte. Fico impossibilitada de respirar. O meu desejo é morrer. Nada importa. Muito menos a vida. Tudo. Só me importa, o seu retorno para mim. Encaro a realidade.
Levanto-me e continuo a andar. Agora encharcada pela chuva. O meu corpo como a que necessitar de calor. Eu insisto em permanecer no frio. Caminhando sem rumo.
Agora são só lembranças....
TARTAY-Fevereiro-2011