Amor & Cigarros

E mais um cigarro chega ao fim, e a bituca se junta com outras dezenas ao lado do cinzeiro, como fiquei assim? Por que fumei meu primeiro cigarro? Bom essas perguntas já não importam mais, o que importa é aquela figura que parece a mais bela poesia romântica materializada.

Minha historia começa aqui, eu a conheci por ironia do destino, na padaria. A balconista trocou nossos pedidos e me avisou do engano quando a mulher já havia saído da loja, corri atrás da mesma, que pensou ser um assalto, mas logo percebeu e conversamos sobre o engano, rimos da situação, era meio embaraçoso, mas a conversa não ficou só nos pães para o café da manhã, logo já sabíamos um o nome do outro e o número de telefone. Eu era apenas um estudante de faculdade e ela já ensinava crianças a ler. Chega então o dia seguinte, não sabia se ligava ou esperava mais um dia, só sabia que a ansiedade travava minha garganta, me fazia andar pelo apartamento e ter que voltar a ler a página do livro inteira por ter desviado todo o pensamento enquanto o lia, meus cigarros chegam ao fim, vou a padaria comprar um novo maço e eis a coincidência, ao pagar meu maço ela entra, nos olhamos nos olhos e só sorrimos, falo a ela que estava indo em casa ligá-la, e ela fala que eu devia parar de fumar, pois aquilo iria me matar e conversa vai, conversa vem, ela aceita tomar um café comigo do outro lado da rua.

- Como é ensinar crianças?

- É gratificante e me faz querer ser mãe – ela tinha a simplicidade até na fala, no olhar, era incrível.

- Sempre sonhei em ser pai, sou jovem ainda, então quero começar por achar alguém certo para mim, nunca namorei – ela acha graça, mas quando vê que eu não ri, percebe que é verdade, o que é bem incomum para um universitário.

- E como vai saber quando é a certa? – ela da um gole em seu cappuccino.

- Quando me apaixonar no primeiro encontro em uma cafeteria com um maço de cigarros no bolso – pronto minhas intenções eram claras, em 24 horas eu já tinha pensado mais do que pensei em outras mulheres juntas, nunca tinha feito tal ato como uma declaração, parecia uma loucura, tinha falado com ela 5 minutos na manhã passada e agora já se declarando? Se pudesse teria voltado atrás, pensei naquele momento, e logo em seguida me arrependi, quando ela simplesmente quieta pousa a mão em cima da minha e me da um beijo de leve no canto da boca, e então se leva um silencio recheado de sorrisos até o próximo gole.

Os dias se seguem e nos saímos novamente, concertos, restaurantes, cinemas, ela era apaixonada pelas artes e por livros românticos, e eu apaixonado perdidamente por ela. Passa-se uma semana e começamos a namorar, conheço seus pais, que me recebem bem, os dias se seguem, ela se muda para meu apartamento, e então nas 3 primeiras noites não dormimos, simplesmente conversamos e namoramos na varanda com uma garrafa de vinho,à luz de velas e do luar, e assim vou tecendo a minha vida amorosa, como um bordado mais lindo, feito com muito carinho e dedicação. Nos casamos, ela vira diretora de uma escola, e eu consigo meu emprego como advogado , 9 meses e Alice nasce, linda e tão fofa, que não poderia colocar em palavras, eu fumava um maço diário, mas quando eu esperava notícias da sala de parto consegui fumar dois seguidos tão rápido pela ansiedade, espera que valeu a pena, estávamos muito felizes, eu falava que éramos a família mais feliz do mundo. Recebo em meu aniversário um cartão desenhado e escrito “para o melhor papai do mundo” de minha filha que na época tinha 4 anos, suas letras eram horríveis, mas aos olhos de um pai são as mais magníficas do mundo, ela era fofinha até quando reclamava da fumaça de meus cigarros.

E agora estou aqui, com um cinzeiro e as bitucas ao lado sem saber qual foi meu primeiro cigarro, com uma vida muito linda ao lado da mulher que amei, e minha pequena filha, que eu não poderia ver crescer, pois ao meu lado jogado estava o resultado do exame médico, meus pulmões estavam pretos e já era tarde, eu devia ter escutado quando ela disse que o cigarro me mataria, como iria falar isso para elas? Era a dúvida cruel que matava mais que meus pulmões, e nem agora eu conseguia largar o meu cigarro...

Douglas Vieira
Enviado por Douglas Vieira em 09/02/2011
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