Diana
A noite fria, com ventos que sopravam incessantemente, como que quisesse me por pra baixo. O relógio marcava 23h37, e eu caminhava pela rua sozinho, com a companhia dos insetos que voejavam ao redor das luzes dos postes. Passando pela rua do Carvalho, uma rua de lembranças fortes pra mim. Onde senti pela primeira vez o amor, e a primeira decepção. Quase chorei ao passar por lá, com os tristes flashes da despedida do meu primeiro amor. Porém minha cabeça estava ocupada com a Diana, havíamos brigado, e ela irredutível não me deu chance de me explicar.
-" Eu não acredito que você mentiu pra mim Roberto. Mal começamos a namorar e você já quebrou minha confiança."
Essas palavras doeram em mim como verdades pesadas das quais eu não podia me livrar. Realmente havia mentido pra ela, mas não fora para enganá-la. Haviam muitos perigos envolvendo nós dois e eu não queria perdê-la.
Há 4 anos eu havia me metido em uma encrenca das grandes. Conheci Rômulo, um homem muito perigoso, por intermédio de um amigo, eu estava precisando de dinheiro, e estava desempregado. Esse homem surgiu como um anjo pra me ajudar. Ele era chefe de uma quadrilha que agia aplicando golpes nas instituições governamentais, com empresas laranjas. Eu entrei no esquema e comecei a ganhar muito dinheiro. A vida tinha começado a prosperar.
Pouco tempo atrás, conheci a Diana, uma linda morena de olhos castanhos e cabelos compridos. Alta, sorridente e com um olhar tão penetrante quanto o mais brilhante raio solar. A encontrei quando ela estava saindo da faculdade, vestida de preto, cabelos soltos e e com um leve sorriso no rosto. Olhei para ela e me senti paralisado, então seu olhar cruzou com o meu, e sem pensar fui até ela e a tomei pelo braço, pedindo uma chance pra conversar com ela.
Fomos até um barzinho perto da casa dela, e bebemos alguma coisa. Ela é estudante de direito, e pouco falamos sobre esse assunto. Falamos mais de algo que descobrimos em comum, o gosto por poesia, citamos vários poemas modernistas, mas eu enveredei pelos poemas românticos na tentativa de entrar no coração dela. Ao final da conversa a acompanhei até sua casa, e antes de deixá-la, lhe roubei um beijo.
Os negócios com Rômulo iam de vento em polpa, mas com os golpes maiores que íamos dando, corríamos mais riscos de sermos pegos. Isso estava me deixando muito preocupado, ainda depois de ter conhecido a Diana, a morena havia realmente me fisgado e eu não queria que nada me separasse dela.
Aos poucos eu ia tentando me afastar dos negócios, já havia conseguido uma atividade lícita, e a todo custo queria me afastar da organização. Porém sabia que não seria fácil, eu sabia de muita coisa, e Rômulo e os outros membros da "equipe" não iriam me deixar sair com vida, pois eu poderia por o esquema dos outros em risco.
Há pouco tempo demos um golpe na prefeitura de São Paulo de mais de 3 milhões, oferecendo serviço para uma obra no centro da cidade com preços muito atrativos. A organização tinha gente de vários setores, que davam conta das documentações falas necessárias para nossos planos. A notícia se espalhou pelos jornais, mas usávamos sempre nomes de laranjas no esquema para livrar nossas identidades, contudo, na semana seguinte a esse episódio, Henrique, um dos integrantes da equipe, foi intimado a depor justamente sobre isso. Henrique é o responsável por conseguir as documentações das empresas fantasma.
- Ou Henrique, o que aconteceu pra você ter sumido ontem cara? Ficamos te esperando pra reunião até de tarde.
- Algo muito sério Rômulo, eu recebi uma intimação e tive que me apresentar na delegacia. Descobriram que os documentos da empresa que montamos foi despachado la na minha repartição, mas eu dei um jeito de negar, até porque oficialmente eu estava ausente no dia do despacho, consegui um atestado médico justamente pensando nessa possibilidade.
Isso me deixou muito mais assustado.
- Temos que dar um jeito de parar com esse esquema meus amigos, estamos correndo muitos riscos. Eu não quero ser pego, ainda mais agora que eu conheci...
- Conheceu quem Roberto? Perguntou o Rômulo.
- Conheci vocês, meus amigos de atividade e de fé.
Fiquei com medo de falar da Diana, e desviei o foco da conversa. Nenhum dos integrantes da "instituição" sabia dela, exceto Paulinho, o amigo que me apresentou a Rômulo, o conhecia desde garoto, e assim como eu ele também queria sair do esquema. E nós estávamos pensando em uma maneira de nos livrar daquilo.
Continua.