Uma História de Amor

Se encontraram caminhando na praia, direções opostas, cinco anos depois, se perceberam a distância, os olhos se encontraram e todas as dúvidas vieram a mente de ambos.

Deveriam se cumprimentar? Deveriam parar e falar um com o outro como pessoas civilizadas, como pessoas normais? Lembraram os dois que costumavam caminhar na praia todas as manhãs, mãos dadas, molhando os pés na água, mais em silêncio do que em conversa, permitindo que o não falar dissesse todas as palavras que sabiam existir ali, que o olhar repetisse todas as juras de amor que faziam um ao outro em seus momentos especiais.

Faltava poucos metros para cruzarem um pelo outro, ela sempre mais corajosa, inicia um sorriso, ele começa a retribuir ainda meio sem jeito. Se cumprimentam num oi que queria dizer muitas coisas, existe agora um silêncio diferente entre eles, um não falar cheio de algo para dizer.

Depois dos costumeiros como vais, estás bem, o que andas fazendo? Resolveram sentar lado a lado na areia, e como há muito não faziam, há tanto tempo que já nem lembravam mais, começaram uma conversa cheia de lembranças, momentos engraçados, viagens feitas a dois, sonhos que tiveram, desejos que compartilharam, sonhos que realizaram e projetos que construíram juntos.

E naquelas lembranças tudo era tão perfeito, os risos tão engraçados, as viagens relembradas que tinham a sensação de estar novamente andando nas mesmas ruas, visitando os museus, passeando nas praças, se amando nos hotéis em que haviam tantas vezes se amado.

De repente uma onda mais forte a assusta e faz com que ela se encoste nele, um toque de pele há muito esquecido, há cinco anos sem acontecer.

Ela sente, ele sente, um arrepio intenso percorre o corpo, invade a alma, reacende a chama que sempre houve entre os dois. Os olhos se cruzam naquela proximidade perigosa que o desejo faz se tornar intensa, seus lábios quase se enconstam. Mas nesse momento ela nota em sua mão esquerda um brilho de ouro que o sol destaca. Se afasta dele e faz a pergunta mesmo já sabendo a resposta.

-Casaste?

Ele meio sem graça, meio perdido, cabeça baixa, simplesmente responde.

-Sim, fazem dois anos já, tenho um filho, uma familia, reconstruí minha vida. Cansei de me perguntar o que não deu certo entre nós, o que houve afinal, porque acabou. E tu, estás só?

-Sim, ainda me pergunto o que não deu certo entre nós, o que houve afinal, porque acabou. Mas agora já é tarde, tem perguntas que nunca terão respostas, acontecimentos que nunca se explicarão.

Ela levanta, ele também, apertam-se as mãos, aquele simples toque mexe com ele, mexe com ela, o arrepio se faz intenso, o desejo se traduz no olhar.

Seguem novamente cada um seu caminho, levando consigo as dúvidas de cada um, as perguntas eternas, os motivos sem explicação.

Mas acima de tudo acalentando em seus corações um amor imenso, o amor que os uniu, mas que um dia sem que saibam porque entre não falares e silêncios profundos se perdeu.

E carregando a saudade daquele querer, de sentir de novo o arrepio e o desejo intenso pelo simples toque da pele encostando na outra, do olhar que se cruza, dos lábios que quase se encontram seguem os dois suas vidas.

Era um grande amor, por isso não morreria, continuaria vivendo assim entre não falares e silêncios longos, existiria assim, até o próximo encontro numa manhã qualquer, numa praia qualquer, até que seus corações tivessem a coragem de recomeçar e aos longos silêncios de mãos dadas na praia, eles e seu grande amor pudessem se entregar.