A VISITA DE UMA VELHA PERSONAGEM.

Hoje recebi a visita de uma velha personagem.

Há tempos que estava com vontade de manter um contato, mas andava um pouco preocupado, pois a gama de acontecimentos que vivíamos já era considerado, pois nos encontramos várias vezes e nunca conseguíamos manter um diálogo mais consistente e prolongado.

Interessante que a sua visita se deu em plena madrugada.

Estava com um ar misterioso. Misterioso? Ou quem sabe cansada? Quando não triste.

E então? Por onde tem andado? Estava com saudades de você. Andei por ai, com muitos afazeres, compromissos e reuniões de serviço. Agora acumulo duas diretorias, a responsabilidade é maior e as cobranças idem. Mas me conte, quando nos conhecemos você estava com 17 ou 18 anos. Sim. Estava com 18 anos, terminando meus estudos, para tentar um curso universitário. E foi ai que a minha vida iniciou de fato. Como assim? Até então não havia vivido? Não seja perspicaz. Lógico que vivi. Mas não na e da forma tão intensa como a partir de então. Agora me lembro que em uma das suas visitas, você me contava de um jovem com o qual estava iniciando um relacionamento. Relacionamento, não. Estávamos nos conhecendo, uma forma de amizade e curiosidade, tanto de um como de outro. Interessante. Pois é fomos aos poucos nos dando o direito de nos conhecer. Hábitos, gostos, tendências, manias enfim, o que era normal entre jovens. Sim e depois? Bom a gente começou a namorar. Namorar ou ficar? Naquele tempo não tinha este negócio. Pois então. O nosso namoro continuou de uma forma inédita. Sem sexo? Calma, meu. Não me diga que nunca rolou algo mais... Não rolou nada. O máximo eram beijos e abraços. E não tinha vontade de...? Lógico que sim. E como resolviam à situação? Ele saia com outras mulheres? Não. Absolutamente não. Então como dar vazão aos desejos? Acredito que se masturbava. E você? Olha, eu comecei a explorar o meu corpo, dar vazão as minhas fantasias. Dava importância ao banho na hidromassagem. Aprendi usar a ducha higiênica como estimulante. Quanto nos beijávamos e ele me apertava contra o seu corpo, eu podia sentir nas minhas coxas, crescer aquele volume, duro e que parecia uma rocha. Mas suportávamos estes impulsos. Suportávamos? É. Nós tínhamos combinado, que sexo só depois de casados. E não tinha uma carícia mais intima mais ousada? Não. Pois como tinha falado o nosso namoro foi algo inédito. Fomos aprovados para a mesma faculdade de Engenharia Civil. E estudávamos na mesma sala. E a noite. Cursávamos cursos diferentes. Ele Administração e eu Economia, só que na mesma faculdade. Então praticamente ficamos o dia inteiro juntos. Nos finais de semana, dávamos um descanso, um do outro. Sim.

E a vida reservou algo novo? Lógico. Nos formamos e no mesmo dia o noivado foi selado. Os pais dele trabalhavam no ramo de alimentos. Tinham uma cadeia de restaurantes. E os meus pais na área hospitalar e transportes aéreos regionais. Como ele tinha duas graduações, o meu pai o convidou para trabalhar na empresa de transportes aéreos. Mas não possuía a experiência necessária. Então ele foi para os Estados Unidos, onde fez estágios em empresas do ramo e MBA na área de logística aérea. E você ficou sozinha? De certa forma sim. De certa forma não. A cada três meses eu ia aos Estados Unidos. E..? Que mente poluída. Não rolava nada. Eu ficava no hotel com a minha mãe e ele no apartamento dele. Mas e o seu irmão? Pois é. Um belo dia, ele chegou à empresa de transportes aéreos e apanhou suas coisas, entregou o celular para a secretaria. Conversou com os meus pais e comigo. E não demorou mais que trinta dias e viajou para o Nepal. Mas assim de repente? A única coisa que ele nos disse, foi que tinha tido uma visão. Nada mais disse. Então o seu noivo ficou por dois anos estudando e fazendo estágio. É, mas as coisas foram mudando. Ele voltou assumiu a direção da empresa dos aviões e eu assumi a direção da área hospitalar. Vocês tinham um hospital? Não uma cadeia de hospitais. Estranho né? Ninguém entende de medicina e nem tem graduação nesta área. Mas um dia então, a minha secretaria informou que havia um senhor, que desejava falar comigo. Não estava agendado. Mas o recebi. Olhei no relógio, onze horas e onze minutos. Um jovem simpático. Não falava nada em português. Apresentou-se. Um cartão de visita. Era um monge budista. Nascido no Nepal, na cidade de Pokhara. Trazia noticias do meu irmão. Interessante que todas as noites, praticamente todas as noites sonhava com o meu irmão. E quando vi aquele monge, vestido de forma normal. Senti uma paz interior invadir a minha alma, o meu espírito, uma tranqüilidade emocional nunca sentida antes. Mas ele estava vestido com um manto cor de vinho? Não. Uma blusa, tipo bata, de algodão cru. Uma calça de sarja e sandálias. Uma pequena pasta de pano e bambu. Conversamos por quase 30 minutos. Um cartão com o seu endereço. E se foi. Deixou uma paz enorme. Sim e o casamento? Pois é. Nós construímos a nossa casa, mobiliamos, implantamos sistemas inteligentes de economia de luz e água. Painéis solares e coletores de águas das chuvas. Uma casa com dois andares. Todos os ambientes climatizados, mas com fechamento automático das portas, de modo a manter a temperatura programada para o ambiente. Mas e o casamento? Então. O nosso casamento se deu no dia 11 de novembro. Nossa igual o horário da visita do monge? Isto mesmo. Mas tem um detalhe. O casamento foi realizado às onze horas e onze minutos, do dia 11 de novembro. Notou quantos 11?

Quando fomos convidar o monge para celebrar a cerimônia, ele pediu um tempo para realizar estudos a respeito dos nossos pais, avós e de nós em especial. Demorou? Oh! E como. Demorou praticamente quatro meses. E ele então nos convidou para um final de semana, em uma propriedade onde havia um monastério budista. Lindo de morrer. Ele nos esclareceu a respeito dos estudos, data e horário. Explicou a respeito das energias cósmicas. Horóscopo? Não. Não tinha nada em haver. E então no dia 11 de novembro nos casamos. E foi aquela festa. Não houve festa. Nãããooo? Não. Enviamos um comunicado a todos os amigos e parentes, explicando que haveria uma cerimônia fechada, onde só participariam os pais dos noivos e o celebrante e a assistente. Como o meu irmão estava em Pokhara e o meu noivo era filho único, a cerimônia ficou restrita a estas pessoas. Foi linda, emocionante, encantadora e cheia de energia. Como o monge só falava em inglês, a interprete fazia a tradução. Após a cerimônia, foi servido um almoço. Mas aonde foi realizado o casamento? Em uma das nossas propriedades no interior. Dotada de um aeroporto para receber nossos aviões de médio porte. Dois aviões fizeram o transporte. E os pilotos não participaram da cerimônia? Não. Nem do almoço. No mesmo dia, voamos para o São Paulo e o nosso destino foi as Ilhas Seychelles. E ali então realizamos a nossa união física, amorosa, espiritual e de entrega total. Foi uma noite maravilhosa. Ele gentil, amoroso, suave, emotivo, delicado e educado. Demoramos acho eu quase uma hora, para atingirmos o clímax. Acredito que este controle deve-se a masturbação... Que mente pornográfica a sua. Pois então ficamos duas semanas lá e depois fomos para o Japão. Não deu vontade de visitar o irmão? Não. Sabe por quê? Nós nos comunicávamos todos os dias por um tipo de telepatia. É incrível. Aprendi com o monge. E então gostou do inusitado? Que inusitado? Ora, não se faça de ingênua. Pode parar com estas insinuações. Pois é. Então retornamos ao Brasil. Antes liguei para minha mãe, para abrir a casa, dar uma arrumada, providenciasse alguns alimentos já prontos, como um rizzoto de bacalhau, frutas e sucos naturais e coisa e tal. Pedi que não queria ninguém nos recepcionando no aeroporto. Era para deixar o nosso carro no hangar da companhia e quando da nossa chegada, eu pediria o carro. Nossa que metida. Metida nada. Nós queríamos ficar a sós. Mas agora na nossa casa. E de fato ficamos. A nossa primeira noite, não passamos no nosso quarto. Foi na sala de chamamos de –sala de conforto – porque ali tem uma lareira espetacular. Fiquei sabendo depois de usá-la nesta noite. O nosso vôo chegou com mais de duas horas de atraso, chegamos às 19,00 horas. Mas como então foi a primeira noite a sós, na sua casa? Como você é curioso. Como havíamos planejado. Malas a serem desfeitas. Uma jantar não tão frugal, mas cheio de romantismo. Só para matar a sua curiosidade foi à luz de velas. A mesa já estava posta. Na adega climatizada, o vinho dos meus sonhos, adivinhe qual foi? Qual foi? Não iria saber nunca. Um vinho branco chardonnay acarvalhado. E de sobremesa? Strogonoff de chocolate.

Um detalhe picante. Estavamos completamente nus. Pelados? Se este é o sinômino.Sim.

Ficamos deitamos em frente a lareira, apesar de ser um mês quente, dezembro, nós graduamos a temperatura da sala de conforto, de modo que pudessemos sentir o calor da lenha queimando e se encantar com o dançar das labaredas. E agora morra mais uma vez de inveja: Tapete de lã pura de Alpaca. Suave, delicado, macio, gostoso e tentador.

Passamos a nossa primeira noite de amor em nossa casa, ali em frente a quentura da lareira e o fogo que incendiava nossos corpos e mentes. Gostou?

Mas e quando a ficha caiu? A vida iniciou digamos de uma outra forma. Deixamos o lado universitário e entramos no lado profissional. Em geral nos viamos só pelo final da tarde. Nunca admitiamos almoços de negócio. Como as empresas ficam distantes, o contato era só via InterNet. Isto durante o dia.

Pois é. A vida nos levou a um destino, que jamais haviamos pensado. Por três anos tentamos um filho ou uma filha. Não foi possível. Resolvemos criar uma Fundação. Nossa que gesto lindo. É foi uma ação muito bem pensada. Em resumo, a Fundação atende 150 crianças. O esquema é um tanto rígido. Os nossos “filhos” entram com meses ou um ano de idade e sairão com 18 anos, já formados e com emprego garantido nas nossas empresas. E quem arca com as despesas são as empresas e alguns colaboradores. Então você está feliz? É feliz? Até certo ponto sim. Como até certo ponto sim? Eu não lhe contei. Nosso casamento durou 11 anos. Como durou? Separação? Não. Ele morreu. Infarto? Acidente? Morte natural. Estava sentado lendo um livro na sala de conforto e simplesmente adormeceu e não acordou mais. Nossa que coisa triste. Até certo ponto sim. Mas me conformei. Ele morreu no dia do nosso aniversário de casamento. Coincidênia ou não, o universo conspirou para que tal acontecesse.

Mas...e você? Eu aceitei. Assumi a direção das duas empresas. Às sexta-feiras, como fazíamos antes, vou almoçar em um dos três restaurantes diferentes. Dispenso o motorista. Todos os funcionários dos escritórios das empresas, encerram suas atividades às dezesseis horas.A totalidade dos nossos funcionários das duas empresas, recebem semanalmente 10% do salário adiantado. Alguns são voluntários na Fundação. Na última semana vou para o monastério para fazer um tipo de retito. O avião me leva lógo após sair do escritório e volto só no domingo à tarde.

E você não sente falta de um contato humano? Até que sinto. Mas sei superar os meus desejos, sei controlá-los de modo suave e delicado. Entendeu? Entendi...

Mas homem igual aquele, está por nascer. Delicado, suave, espirituoso, educado, sexy, cheio de energia e em Paz consigo mesmo e com o Universo.

Bom acho que já conversamos bastante e colocamos a nossa conversa em dia. Vou para a minha casa. Acender a lareira da sala de conforto e nua, tomar um bom vinho e adormecer sobre o tapete de lã de Alpaca e sonhar com o amor da minha vida. Está com inveja? Então fique com a sua inveja que eu fico com os meus sonhos e desejos...

Tchau e até a próxima.

Tchau...