Medo de se entregar

Já eram duas da manhã quando o telefone tocou, ele demorou a acordar e mesmo assim a pessoa insistia em ligar. Abriu os olhos, ainda muito sonolento, esfregou-os com as mãos, bocejou. Logo o telefone tocou novamente, ele atendeu com a voz rouca.

- Alô! – disse desanimado

- Alô! Preciso falar com você. – disse ela

- Tem que ser agora? Não pode esperar?

- Tem que ser agora! Estou no seu portão...

Pedro levantou-se, colocou o roupão e as pantufas. Ligou na portaria, autorizando a subida da moça. Não demorou e a campainha tocou:

- Oi. – disse abrindo a porta – Entre, por favor.

- Oi. – disse a moça entrando. – Ui, bonita pantufa. Tem da Barbie também? – ironizou

Ele sorriu:

-Gostou?! Bom, mas você não me acordou ás duas da manhã para elogiar minhas pantufas, não é?

- Poderia, mas na verdade não. Preciso da tua ajuda.

- Em que posso ajudar? Estamos aqui para melhor servi-la.

-Bobo! – disse dando um tapinha em seu ombro. – Você é o único que me entende, me acalma. Estou muito, muito confusa. Estou gostando de um cara, mas ele nem me nota.

- Como alguém pode não te notar? –disse surpreso – Você é linda, tem esses olhos escuros maravilhosos. Corpo de mulher e um jeitinho de menina cativante.

-Nossa! Não sabia que você reparava em mulher. – brincou

O rapaz a olhou seriamente, enquanto ela sorria.

- Apesar disso tudo ele não me nota. - continuava a moça – Dizem as más línguas que ele não gosta de mulher.

- Se você gosta mesmo dele, deve falar para ele. Tenho certeza que ninguém no mundo te negaria.

- Você acha mesmo?

- Claro! – disse sorrindo

A moça pegou o telefone, que estava em cima do criado-mudo, ao lado do sofá onde estam sentados.

- Vou ligar para ele agora! – disse decidida

- Á essa hora? – perguntou Pedro surpreso – Ele deve estar dormindo.

- Tenho certeza que ele está acordado. – disse convicta

- Então liga logo, estou curioso para saber a reação dele.

A moça discou os números, logo o celular de Pedro começou a tocar. Os dois olharam-se em silêncio, a moça sorriu sem graça. Ele ficou sem reação, não sabia o que dizer, não sabia o que pensar. Ela aproximou-se, quando sua boca estava quase se encontrando com a dele, ele esquivou-se.

- Não posso! – disse Pedro

A moça pegou sua bolsa e levantou-se rapidamente, estava muito constrangida.

- Não devia ter vindo aqui. Desculpe-me. – disse abraçada à bolsa

Ela ia saindo pela porta rapidamente, quando Pedro disse:

- Espere! – ele aproximou-se, olhando dentro dos seus olhos – Eu fechei meu coração para o amor há muito tempo, não é culpa sua. Não é nada com você, eu que peço desculpas. Não sei se devo entregar-me outra vez.

A moça saiu apressadamente, ainda muito constrangida. Pedro encostou a porta e jogou-se no sofá com os olhos fixos para o nada, deixou o pensamento voar.

Ela corria em direção ao seu carro. “Sou uma idiota” – pensou. Entrou, tirou as sandálias, colocou a chave, ligando-o. Quando ia tirando o pé da embreagem para sair, ouviu alguém lhe chamando distante. Olhou de relance e viu Pedro correndo de roupão em sua direção.

- Paula, não vá ainda. – disse ofegante

- O que aconteceu? – perguntou sem entender

- Sabe. Apesar desse meu medo, eu preciso de você. Não irei me perdoar, se te perder assim. – disse a beijando

Ambos olhavam-se sorrindo, ele com metade do corpo para dentro do carro, se enroscou na porta. Enquanto se beijavam, ela sem querer soltou o freio de mão, fazendo o automóvel andar e Pedro correr de lado gritando.

- Para! Para!

Ela parou rapidamente, os dois olharam-se. Pedro estava pálido, a moça ria muito da situação.

- Assim que você me ama? – brincou

- Você esta bem? - perguntou a moça

- Com você, sempre estou bem! – disse à beijando

LucasLove
Enviado por LucasLove em 27/01/2011
Código do texto: T2755545
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