Amor, sempre amor

Eles tinham a vida toda pela frente, mas ninguém podia prever o que aconteceria. Eles se amavam e ponto.

Eles se conheceram no ginásio e começaram a namorar no ensino médio. Ela o amava e ele também. Estavam juntos há dois anos, quando tudo aconteceu.

Alice era doce, sincera, um amor de menina, como todos diziam. Théo era forte em todos os sentidos, principalmente, nos seus sentimentos. Tudo com ele era intenso, não importasse o tempo que durasse. Se ele se machucasse, ele levantaria e começaria tudo novamente. Nunca teve medo da vida. Já ela, era cautelosa ao extremo, gostava de ter tudo detalhado antes de fazer, não queria errar, e, às vezes, isso irritava um pouco Théo.

Eles começaram a namorar em agosto de 1984, as suas famílias se conheciam, se gostavam, ambos sabiam que o namoro dos dois renderia bons frutos.

Em dezembro de 1985 o namoro dos dois estava mais forte que nunca, eles se amavam loucamente, faziam juras e mais juras de amor eterno, ficavam olhando o pôr-do-sol na praia toda quarta-feira juntos, já fazia parte da rotina, de um ritual que eles tinham feito na segunda semana de namoro.

Então, ela resolveu fazer uma pergunta a ele.

--- Você me ama? Me ama mesmo?

Théo olhou para ela com aquela cara de ironia.

--- Você ainda me pergunta isso, meu amor? Eu te amo tanto que nem o universo, nem as estrelas, nem tudo que não tem fim consegue expressar o quão é enorme e intenso o que sinto por você. Você é a minha vida, sem você eu não existo. Não há motivos para eu viver sem você, minha linda. Como eu poderia não amar a pessoa mais incrível desse mundo? Só se eu fosse louco!

--- Mas, se eu morresse? Eu gostaria que você continuasse vivendo, poderia ficar até com outra, se você ficasse feliz assim, eu não me incomodaria.

--- Você está louca? Morrer? Mas você só tem 19 anos. Não fale isso nem brincando! Outra? Para que outra se eu tenho a pessoa mais perfeita desse mundo? – Théo riu um pouco de toda aquela insegurança que ela tinha.

Ele a abraçou por trás, beijou levemente seu pescoço e, por fim, a virou e lhe deu o beijo mais doce e terno de todo esse tempo de namoro e disse:

--- Nunca conseguiria viver nesse mundo sem você. Eu te amo mais do que tudo. Não quero outra pessoa, a que eu demorei para encontrar estava embaixo dos meus olhos, não vou deixar você escapar, minha Alice, só minha.

As lágrimas desciam dos olhos de Alice, não sabia se era por causa da emoção contida nas palavras de Théo ou porque a morte sempre a rondou, desde pequena.

--- Não chore, meu amor. Ficaremos juntos para sempre. E, chega de pensar nesse assunto, ok.?

Théo chegou em casa pensando na conversa que tivera com Alice. Sabia que tinha algo que não tinha contado a ele. Isso o preocupava. Alice tinha mania de querer resolver tudo sozinha. Isso o preocupava mais ainda. Detestava ver a namorada triste, sem conseguir resolver e mesmo assim calada, para não preocupá-lo. O que ela não sabia era que assim que o preocupava, ainda mais.

No dia seguinte ele a perguntou o que estava acontecendo, e ela, como sempre, não o respondeu. Disse que era só estresse por causa das campanhas políticas de seu pai. Ela tentou segurar, mas não conseguiu, e chorou, chorou muito no colo de Théo, que a abraçou fortemente e disse que ia ficar tudo bem, era só contar para ele, que ele faria o máximo para ajudá-la. Seus dedos se entrelaçaram, ela beijou suavemente todo o seu rosto, seu pescoço e depois suas mãos. E disse baixinho:”Eu te amo”. Ele ajeitou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, beijou seus olhos, ainda úmidos, sua boca e deslizou a boca para o ouvido dela e disse:”Eu também te amo, meu amor. Para todo o sempre!”

Continuaram se beijando e repetindo frases e juras de amor. Fizeram amor pela primeira vez, e foi a coisa mais linda que tinham feito em toda a vida.

Viram o sol nascer abraçados, na casa de Théo, e foi, então, que se despediram.

Três horas se passaram do combinado e nada. Alice não tinha ido almoçar com Théo. Ela tinha esquecido de sua bolsa na casa dele. E, ele resolveu ver se tinha algum compromisso na agenda dela para hoje, talvez fosse por isso que ela não estava ali. Só que dentro da bolsa tinha um envelope destinado a ele. Não gostou nem um pouco dessa ideia. Sua namorada estava atrasada, e agora, tinha um envelope dentro da bolsa dela para ele. Com certeza, tinha algo de errado nessa história. Começou a ler:

Querido Théo, peço mil desculpas por não estar aí com você. Mas, tenho que resolver esse problema. Não te contei porque ele não é meu. Mas, como vou ficar longe alguns dias, acho que você precisa saber da história.

O Álvaro, meu irmão mais novo, está em uma encrenca. Ele se meteu com drogas e, há pouco tempo, vem me seguindo e pedindo que eu pegue algum dinheiro do Papai, já que ele foi expulso de casa. Eu estou tentando o convencer a ir para a clínica de reabilitação, e é exatamente isso que eu devo estar fazendo, enquanto você está lendo essa carta.

Álvaro está irreconhecível, fala correndo e só quer saber de dinheiro, disse que um pessoal da pesada está atrás dele. Inclusive alguns desses caras estavam me seguindo no outro dia no Shopping, percebi porque eles me olhavam muito e um deles veio até a mim e disse que se eu não arranjasse dinheiro para livrar o Álvaro eles iriam matá-lo.

Estou indo hoje com o dinheiro que peguei da nossa poupança, peço desculpas de novo, mas depois eu reponho, tá? Se der...

Não queria envolver mais uma pessoa nessa história, por isso não falei nem com você nem com o Papai. Pode ficar tranqüilo que eu vou resolver tudo, como sempre resolvo. Você vai ficar orgulhoso quando ver que está tudo certinho.

Mas, por precaução, vou escrever aqui não como se fosse uma despedida, mas como se fosse “adorei a noite passada”, e adorei mesmo, tá? Não quero que fiques triste se algo de ruim acontecer. Quero que você fique bem, forte do jeito que você sempre foi, meu amor.

Você sempre foi e é a coisa mais importante e especial da minha vida. Você sempre me apoiou quando eu mais precisava. Sempre me perdoou no que eu tinha feito de errado, sem ser por mal, mas sempre eu acabava me culpando, e você sempre perdoou sem nem pensar direito no que estava perdoando. Perdoava apenas por saber que era eu que estava no problema e sabia que eu não tinha feito por mal, por me conhecer verdadeiramente como você sempre me conheceu.

Só peço para você me perdoar mais uma vez, a última, eu acho. Quero que me perdoes por não ter te contado essa história antes, entenda que só queria que não sofresses com essa história toda e ficasse preocupado por saber que algumas pessoas andam atrás de mim. Você sempre soube que eu sei me virar sozinha, eu vou dar um final feliz para essa história, igual a nossa, né? Só de lembrar novamente da noite passada, eu fico ainda mais apaixonada por você, meu bem.

E, quero que saibas que eu só faço isso tudo porque eu amo meu irmão e não quero que aconteça algo com ele. E, peço para você confiar em mim, como sempre confiou.

Eu te amo demais hoje e sempre. Onde quer que eu esteja.

Sua Alice.

Théo começou a chorar, olhou que horas eram, 15: 53 horas, será que ela havia conseguido? Onde será que ele está? Lembrou que uma vez vira Álvaro perto de alguns mendigos, próximo ao colégio que ele e Alice estudaram, na Tijuca. Foi correndo pegar um táxi e pediu para chegar lá.

Ao chegar em frente ao seu antigo colégio, ele se deparou com Alice no pátio externo do colégio, chorando.

--- Alice, o que está fazendo aqui? Cadê o Álvaro?

Ela chorava cada vez mais, até que ele a abraçou e os dois ficaram sem falar nada por alguns minutos.

--- Ele pegou o dinheiro e saiu correndo, disse algo parecido com ”Tenho que fugir, fuja também, eles virão atrás de você”.

--- Eu não entendo. Ele não iria entregar o dinheiro para aqueles caras?

--- Acho que ele me enganou e enganou a eles também. Ele deve ter fugido para outro país, não sei.

Até que alguns homens altos, com caras estranhas, sujos chegaram perto deles e um deles disse:

--- Cadê o dinheiro, patricinha? Não sabia que o playboy está participando também.

--- Por que vocês não a deixam em paz? O irmão dela fugiu com o dinheiro. Ela não tem nada com isso. – disse Théo.

--- Olha, John, que gracinha, o garotinho quer participar da nossa brincadeira. – disse o mais alto.

--- Escuta só, meu irmão, se vocês não derem o dinheiro, vamos levar a garota como a forma de pagamento. – disse o mais forte.

--- Já disse para a deixarem em paz. Eu arranjo o dinheiro para vocês e entrego amanhã.

--- Meu irmãozinho, nós já demos tempo demais para vocês.

Chega o carro da polícia no meio da conversa.

--- Vocês chamaram a polícia, foi? Vocês estão malucos?

Não deu tempo de sair correndo. Só deu tempo de Alice se por na frente de Théo quando a arma foi disparada.

A bala acertou bem no seu fígado e Alice ficou respirando fraco. Théo ficou desesperado quando percebeu que a polícia não estava na direção deles, ela tinha continuado a seguir, sem nem perceber aqueles caras estranhos e muito menos a arma na mão de um deles. A arma que continha a bala que agora estava dentro de Alice, de sua Alice.

--- Você está bem, amor? Continue falando, vou ligar para a ambulância vir aqui.

--- Théo, meu amor, não se preocupe, eu tenho pouco tempo mesmo. Eu sabia que isso iria acontecer. Sabia que me meter nessa história seria perigoso demais. Não me arrependo de ter tentado ajudar ao meu irmão, sei que ele não fez aquilo por mal.

As lágrimas de Théo desciam freneticamente, ele já tinha ligado para o corpo de bombeiros e agora estava em frente a sua namorada, ensangüentada por ter sido atingida pela bala de um vagabundo, tentando salvar seu irmão. Não havia situação pior.

--- Meu amor, me prometa uma coisa? – Alice disse, perdendo as forças.

--- Claro, minha vida. Tudo o que você quiser. Você vai ficar bem, todo esse sofrimento vai passar, eu prometo! – Théo beijou suavemente a mão de Alice que estava segurando.

--- Não prometa o que você pode cumprir. Eu não queria que você prometesse que eu vou continuar a viver. Queria que prometesse que irá conseguir viver sem mim. Que vai continuar na sua faculdade, procure um emprego melhor, um lugar em que seja mais valorizado e, principalmente, crie uma família. Case-se com uma mulher que lhe mereça, sei que são poucas, mas elas existem, basta só procurar.

--- Você não vai morrer, eu já disse. Pare de falar isso, por favor.

--- Amor, eu já sentia que isso ia acontecer. E não estou triste, tá? Melhor vida do que essa seria impossível. Você a fez virar da água para o vinho, a transformou de tal maneira que eu nem me lembro daquela minha vida murcha de antes – riu um pouco, e continuou – Deus foi muito bonzinho em me dar esses anos maravilhosos com você, desfrutar de sua companhia. Por isso que eu quero que fiques com outra, quando eu não estiver mais aqui. Você transforma a vida dos outros com esse seu jeito, e nem sabe, meu lerdinho. Quero que faças mais pessoas felizes, que nem você me fez. Você é um anjo, uma benção e sei que, agora, mesmo com uma bala dentro de mim, só de estar perto de você, ouvindo a sua voz, a sua respiração e os seus cabelos sendo balançados pelo vento, eu sou a mulher mais feliz do mundo. Eu te amo muito, meu amor.

A ambulância chegou, a levou para o hospital, mas, quando estava na mesa de cirurgia, ela não resistiu.

Théo fez tudo o que ela o fez prometer, inclusive casou-se com outra mulher, mas ele nunca, nunca se esqueceu de Alice, a sua doce e eterna Alice.

Larissa Ruiz
Enviado por Larissa Ruiz em 23/01/2011
Reeditado em 24/01/2011
Código do texto: T2747957
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.