Um Conto Quase Real
Só quero que me abrace e nunca mais me solte. Não me deixe ir, não me deixe afastar de você. Me segure firme, sinto as ondas do mar me puxando, e não tenho onde me apoiar. Tudo o que vejo a minha frente é sua mão estendida a mim, mas não consigo alcançá-la. Deixe-a estendida e eu, com tempo, alcançarei. Estou apenas um pouco atordoada com as toneladas de água salgada, mas ainda consigo ver sua mão estendida. Meu conforto é ver em seus olhos a desistência da desistência, você fincando sua espada na areia molhada e firmando seus pés para lutar melhor por mim. Você não é tudo que eu tenho, mas sem você não terei mais nada.
O brilho intenso de sua armadura nova às vezes reflete o sol em meus olhos, então as ondas parecem me puxar com mais força, mas ainda vejo sua mão, ela agora está a meu alcance, e para minha surpresa, ela sempre esteve. E então percebi que eu só não a alcançava, porque ao poucos eu permitia me afogar nas ondas agitadas que eu mesma as criei.
Minha recente descoberta me fez segurar firme sua mão e firmar meus joelhos esfolados na areia, uma calmaria invadiu meu peito e o interior dos seus olhos numa harmonia incomparável. E quando menos esperava, éramos apenas eu de pé diante no homem que mais amo e que mais amarei no mundo. Exatamente como nos velhos tempos, onde mais nada importava. Mas novas e maiores ondas avançavam vorazmente atrás de mim. E dessa vez, não fui eu quem as criei. Uma tempestade estava por vir, a pior de todas.
Num repente, senti a intensa dor de uma enorme onda quebrando em minha cabeça. Minha mão se desprendeu da sua e por muito tempo não consegui respirar direito. Já era tarde demais para nós e quase tarde demais para mim. Meus pulmões ardiam com a água salgada e o impacto da onda sobre minhas costas me fizeram mancar por quase um mês. Meu estado físico só não ficou melhor, porque meu psicológico, já o estava afetando.
Como punição uma ilha me resgatou, agora sou prisioneira das águas que me separaram do meu grande amor.
Muito tempo se passou e ainda posso ouvir sua respiração ao meu lado enquanto durmo, e às vezes posso jurar sentir seu suave toque com as pontas dos dedos em meu rosto, mexendo suavemente nos meus cabelos perfeitos e sentir seu calor tão próximo da minha pele.
Hoje, na melhor fase da minha juventude, 153 anos depois, grito seu nome todas as noites esperando uma resposta em vão, mas de alguma forma sinto que você me ouve. E sei que só não me responde porque também vive gritando por mim.
By Numanny