PRÓLOGO (Byron Rider – A história por trás de um ladrão)
— O-oquê?! — Minha voz, fraca, saiu em uma tentativa de grito, o que fez minha garganta arranhar.
Porque isso estava acontecendo? Porque tudo pelo qual eu lutei esse tempo todo teve que terminar assim? Eu me recusava a crer que aquilo era verdade.
— Você já não tem força alguma, Byron Rider — o soldado da guarda real sussurrou, se aproximando de mim com a espada em mãos.
Eu sentia aquele cheiro de pedra molhada pela água salgada do mar; meus cabelos, encostados no meio dos pedregulhos encharcados, jaziam ao chão, movimentando-se, vez ou outra, de acordo com a minha cabeça. Por mais que eu tentasse mover o meu braço direito, os músculos não me obedeciam; meu sangue estava espalhado no meio das pedras e da areia da praia.
Ali estava meu navio, atracado à beira-mar; ali estava o velho, caído ao chão; ali estava o guarda, caminhando na minha direção enquanto sussurrava palavras contra mim; ali estava ela...
Como um ser tão simples e igual a qualquer outro humano, podia ser tão bonito? Era como se aqueles olhos castanhos me fizessem querer viver a todo o momento.
Porque aquilo teve que acontecer? Porque eu havia lutado contra tudo e todos para descobrir algo como isso?
— Por que...? — sussurrei, tirando forças de um lugar que até eu desconheço e erguendo o braço, que havia sido machucado por aquela bala.
O soldado ria, me esnobando; atrás dele, estava o homem mais importante de toda a Clarintown, o Imperador Runst parecia feliz naquele momento.
A princesa; aquele ser de extrema beleza; delicadeza; e elegância, me encarava; seus olhos já estavam marejados de lágrimas, mas da sua boca, nenhuma palavra foi proferida para mim.
Era isso? Minha vida se resumia àquilo?
Meu amigo, quase morto ao meu lado; o soldado do império, do qual eu havia sido exilado, se aproximando com aquela espada e aquele sorriso maligno no rosto; o imperador, alegre como nunca; e ela... A princesa Anne, meu proibido amor, chorando, sem falar uma palavra sequer para mim...
Eu me recusava a deixar aquilo acontecer... Depois de tudo o que eu vivi por ela... Morrer sem ouvir um último “eu te amo”? Inaceitável. Pena que eu não podia fazer nada contra aquela espada.
Fechei meus olhos, esperando a dor da morte, não queria ver o rosto dela; não queria ter que encarar a expressão que ela faria quando eu morresse...
“Até onde você iria por alguém que você ama?”
“Até que ponto você enfrentaria tudo e todos, para pegar a mão dela apenas mais uma vez?”
“Até quando você suportaria sofrer por amor?”
Byron Lauper, um dos maiores ladrões do império de Clarintown, conhecido pelo nome de Sombra... Famoso por suas façanhas espetaculares, e por suas fugas dignas de mestre... Meu nome ficou conhecido entre as maiores guildas do mundo. “O homem que vai aonde nenhum outro vai.”. Era como eu era conhecido.
“Byron, nunca se deixe levar por paixões...”, lembro-me de ter ouvido essa frase sair da boca de meu pai – e mestre – por diversas vezes.
Apesar de eu não entender bem o que elas queriam dizer, me deixei levar pelo amor apenas duas vezes... Uma delas já havia sido o bastante para eu descobrir que tudo o que eu aprendera na infância era verdade.
Minha história não é referente à primeira vez, eu até já havia me esquecido desse acontecimento...
Eu nunca pensei que poderia chegar a sofrer tanto por amor; não, até conhecer a princesa Anne Runst...
Aqueles olhos; aquele sorriso; aquele rosto; aquele corpo... Eu detesto o amor mais que tudo na minha vida...
Porque por ele... Eu sempre vou longe demais.