Do meu lado.

Não sei bem como isso aconteceu logo comigo, mas eu gostei muito do que passei, e se tivesse que passar por isso novamente, faria tudo igual, só para não correr o risco de perder o que tenho agora, o que vivenciei esses dias.

Era noite, pelo que me lembro passava das 22h de uma sexta feira, e infelizmente estava chovendo muito, tudo estava dando errado para mim, tive que andar muito para chegar ate a minha casa, não havia cobertura, e a porta de entrada dava para a rua, não havia muro, apenas a porta de entrada e as paredes que cercavam a casa.

- Mas que droga, perdi a minha chave. – xinguei enquanto procurava a minha chave.

Fiquei sentado em frente a minha porta, pensando no que poderia fazer, já havia ligado para o chaveiro, mas ele não iria aparecer ate as 7 da manhã, teria que passar a noite em frente de casa, me xinguei varias vezes por conta disso, mas de nada iria adiantar, não havia hotel por perto, nem casa de amigos íntimos, nem parentes, não tinha outro jeito, iria ficar aqui na frente torcendo para a chuva passar e ver o tempo se arrastar ate as 7 da manhã, pelo menos amanhã seria sábado, sendo assim, não seria necessário me preocupar com trabalho, serviço somente na segunda.

Havia recostado a cabeça na porta, depois de alguns minutos acabei cochilando, mas isso não durou muito tempo, comecei a escutar alguns passos se aproximando de mim, tentei enxergar de onde vinha, mas quando me dei conta havia alguém na minha frente, estava de pé segurando algo em suas mãos.

- Olá vizinho, aceita algo para aquecer essa sua barriga? – perguntou uma jovem enquanto se sentava ao meu lado.

- Desculpa, não me lembro de você, mas eu aceito sim – estava gostoso, era chocolate quente, e fazia muito tempo que eu não bebia um tão gostoso assim. – Muito obrigado, desculpe, não sei o seu nome.

- Não tem problema, me chamo Maysa, pode me chamar de May, você é o Marcos não é mesmo? – perguntou com um leve sorriso em seu rosto.

- Sou sim, agora estou me lembrando de você, desculpe não ter te reconhecido antes. – na verdade não me lembrava muito dela, vivia sempre ocupado e nunca tinha conversado com meus vizinhos. – Desculpa mesmo Maysa. – ela me olhou carrancuda com o rabo dos olhos ao ouvir o seu nome. – Desculpe, May.

- Sem problema, eu não me lembraria de você também se eu tivesse o seu ritmo de vida, mas me diga uma coisa, porque você esta aqui fora ao invés de estar do lado de dentro da sua casa?

- Infelizmente não estou encontrando a minha chave, e o chaveiro só ira poder aparecer aqui pela manhã, diz se isso não muito azar. – tentei achar graça disso com um sorriso amarelo.

- Entendi, então vamos, fique em casa essa noite. – se levantou e começou a me puxar pelas mãos.

- Obrigado, mas não precisa May, é sério, eu não quero te atrapalhar. – estava ficando sem jeito pelo convite, mas bem que isso seria ótimo, já que aqui do lado de fora estava muito frio.

- Você não ira me atrapalhar, eu vou embora essa semana, e a companhia de alguém seria muito bom, vamos lá, eu prometo não te morder. – falou com um sorriso de criança em seu rosto, ela era linda, e naquele momento estava começando a enxergar isso.

- Tudo bem, eu vou, mas eu irei voltar pra casa bem cedo, não quero te incomodar.

- Certo, sem problemas. – disse por fim e estendeu as mãos para me puxar.

Sua sala era pequena, mas confortável e bem organizada, não havia fotos de família nem amigos, apenas algumas fotos dela, bem no meio da sala, havia um sofá em “L”, com uma pequena televisão e uma mesinha de centro, quando me sentei comecei a reparar em May, ela tinha os cabelos escuros e lisos, sua pele era bem clara, não era muito alta, corpo esguio, não muito magra, tinha um sorriso divertido e parecia sempre de bem, mas ainda era cedo para pensar essas coisas, afinal de contas, não a conheço ainda.

- Bem, o que podemos fazer agora Marcos? – perguntou ao sentar-se ao meu lado. – Gostaria de saber mais sobre a sua vida.

Nesse momento ficamos conversando sobre diversas coisas, falei um pouco da minha vida, sobre meu emprego, minha família, meus hobbies, e também ouvi ela falar muito de si, ela era uma mulher inteligente, gostava de ler, trabalhava em casa, corrigindo livros da editora em que trabalhava, e adorava tirar fotos, “espontâneas” como ela gostava de dizer, sua vida me pareceu muito divertida, ela não havia falado de nenhum namorado ou homem qualquer, nem mesmo mulher.

- Sabe Marcos, nós moramos tão próximos um do outro durante tanto tempo, mais ou menos uns 2 anos e maus nos falávamos, e agora que eu estou para ir embora, nós temos nossa primeira oportunidade de conversa, mas como falam, antes tarde do que nunca não é mesmo? – falou com um sorriso infantil no seu rosto.

- Realmente, mas nos estamos aqui não é mesmo? Melhor agora do que nunca.

Conversamos pelo resto do dia, assistimos alguns filmes, e conversávamos durante eles, trocamos telefone, email, MSN, eu havia gostado daquela garota, me sentia confortável em sua companhia, ela era divertida, alegre, espontânea, diferente de mim que só pensava no trabalho, e quando estava de folga dormia o dia todo, não aproveitava nada, agora de repente aqui estava eu, na companhia de uma garota que sempre esteve por perto, do lado de minha casa para ser mais exato, e eu nunca havia percebido.

- O que foi Marcos? – perguntou com o rosto corado e com um sorriso envergonhado.

- Nada, não é nada não. – ela havia percebido que eu estava olhando para ela.

Ficou me olhando por alguns segundos, mas para mim eram eternos, como eu poderia estar me sentindo assim com uma pessoa que eu acabei de conhecer? Não sabia responder isso, sentia medo com tudo isso, pois estava acontecendo algo novo comigo, e não sabia como agir.

- Bem, vou deixar você descansar um pouco, você deve estar quebrado por causa do seu trabalho. – falou enquanto se levantava.

- Tudo bem, desculpe te tirar a sua privacidade.

- Que é isso Marcos, não se preocupe com isso rapaz, agora te deita e aproveita bem o sofá para descansar. – sorriu achando graça do que acabará de falar, sorri com ela também.

Deitei para dormir, mas não conseguia pregar os olhos, fiquei pensando nela o que me restava daquela noite, nunca havia olhado para o lado, nunca havia percebido aquela garota que morava do lado da minha casa a alguns anos, e agora estava aqui, interessado por uma garota que poderia ter conhecido a mais tempo, mas não tive que conhecê-la quando esta prestes a partir, essas coisas tinham que acontecer comigo.

Meu celular começou a despertar, já eram 6:30h da manhã, me aprecei para desligá-lo antes de acordar May, por sorte ela continuava dormindo, fiquei sentado por alguns minutos, olhando para a mesinha de centro, ate que acabei percebendo um pequeno bloco de papel com uma caneta, peguei os dois e comecei a escrever uma carta para May, agradeci a sua hospitalidade, por ter sido uma pessoa legal comigo, dentre outras coisas, e finalmente quando terminei me levantei e fui em direção a porta, mas sem saber o porque, acabei roubando uma de suas fotos expostas pela casa antes de passar pela porta, não tinha entendido o porque havia feito isso, mas quando estava em dentro de casa descobri o porque, eu estava apaixonado.

Na foto que eu havia roubado, ela estava linda, era uma foto em preto e branco, ela estava com seus óculos e um pequeno livro em suas mãos, estava deitada em um sofá, era uma foto bem espontânea, do jeito que ela dizia gostar de fazer, e realmente, as fotos ficam mais bonitas quando as pessoas que ali estão não posam para o retrato.

Corri para a casa dela, toquei a campainha e esperei, mas na veio, toquei uma segunda vez, e nada novamente, quando voltei para a minha casa havia um bilhete em frente a minha casa, estava pendurado na maçaneta da porta, era dela.

"Olá meu caro vizinho, obrigado por sua companhia nessa noite que passamos juntos, foi muito divertido para mim, espero ter outras oportunidades iguais a esta com você, pois você é uma otima companhia, só falta se soltar um pouco mais Marcos, como eu havia te falado antes, eu não mordo.

Beijos e tenha um bom dia

P.S Espero manter contato com você.

Ass May"

Assim havia terminado o seu pequeno bilhete, se eu não a visse antes de partir iria me arrepender amargamente por não ter tentando, por não ter dado uma chance, e pensando nisso peguei um taxi ate ao aeroporto, procurei por todas as partes, e a encontrei na sala de embarque, estava sozinha com sua bagagem de mão, me sentei ao seu lado sem ela perceber que era eu.

- Ola minha vizinha, vai uma companhia aí? – perguntei tentando brincar.

- Olá vizinho. – respondeu e numa surpresa ela me abraçou como automaticamente. – O que você faz por aqui?

- Ora bolas, eu vim ver você, te fazer companhia enquanto espera o seu vôo.

- Obrigada, desculpa incomodar.

- Não precisa se desculpar, você fez muito por mim ontem, e isso é o mínimo que poderia fazer por você.

- Sendo assim obrigada. – falou com seu costumeiro sorriso de menina.

Ficamos conversando durante alguns minutos antes de seu vôo, prometemos um ao outro a manter contato, não iríamos mais passar por despercebidos um pelo outro novamente.

- Sabe, queria te entregar algo, vi você saindo de sua casa com tanta pressa, e quando passei pela sua casa vi que você havia deixado a sua chave na porta, guardei ela para você, iria lhe entregar hoje pela manhã, mas você já Havaí voltado para a sua casa quando acordei. – falou com o rosto corado.

- Mas porque você fez isso? – perguntei tentando imaginar o motivo.

- Porque queria ter uma chance de conversa com você, queria a que você me notasse. – falou olhando para o chão.

- Mas porque isso, continuo sem entender. – perguntei aflito, não sabia o que porque ela iria querer a minha atenção.

- Porque eu gosto de você Marcos, mas nunca tive oportunidade de falar com você, nunca consegui parar você um instante se quer, porque você estava sempre ocupado, mas ontem eu tive essa chance, me desculpa ter feito isso com você, não tinha o direito de fazer, mas eu fiz o que o meu coração mandou.

- Tudo bem, eu não estou chateado, obrigado por ter me parado, nem que tenha sido por um instante.

Ficamos nos olhando durante alguns segundos, nada havia sido dito, de repente, veio a chamado do vôo da May, algo que estava temendo desde a hora que eu tinha chegado.

- Então é isso não é mesmo? Você esta indo embora. – falei, estava descontente com o que estava acontecendo, mas não podia fazer mais nada.

- É, mas eu volto, e além disso, nós não deixaremos de nos falar não é mesmo. – falou mostrando o seu sorriso depois de levantar o seu rosto. – E, além disso. – dessa vez estava se aproximando de meu rosto. – Você terá uma foto minha de recordação enquanto eu estiver fora. – falou e depois beijou calorosamente em meus lábios. Ela havia visto eu pegar a sua foto, e isso pareceu agrada-la muito, e a mim também.

- Quanto tempo você ira passar fora?

- Não sei, mas espero ter a sua companhia o quanto antes, espero poder visitá-lo logo, ou quem sabe receber a sua visita.

- Tudo bem, vamos manter contato.

Bem, isso tudo foi apenas o inicio do meu romance, eu e a May passamos alguns meses sem nos ver, mas sempre trocávamos cartas, email, mensagem, nunca deixávamos de nos falar, e isso ajudou a manter o que eu havia começado a sentir por ela, e o que ela sentia por mim, depois de alguns meses não agüentei ficar longe dela, e consegui uma transferência para a cidade onde ela estava, ficamos morando juntos, construímos a nossa casa, e dentro de um ano nos casamos, uma coisa aprendi quando nos conhecemos, aprendi que a vida tem que ser aproveitada, e não passada em velocidade avançada, que cada segundo é importante para nos, as vezes devemos ser cautelosos, mas tem vezes que devemos fazer loucuras para conseguir atenção, amor, esperança, e coisas do gênero, se a May não tivesse me parado um instante, eu nunca teria notado que ela mora ao meu lado, e hoje depois de 5 anos vivendo com essa mulher, me lembro desse inicio de romance como se fosse hoje, agora. Que bom que ela me parou, que eu a notei.