Promessas ao Mar

Porque uma Promessa é tudo o que eu preciso...

O som das ondas, quebrando sob a forte luz do luar dos dias trinta e um de dezembro de dois mil e dez, eram os únicos sons que me mantinham acordado àquela noite. Minutos, talvez segundos – eu nem ao menos conseguia distinguir o tempo – me separavam de um novo ano. E o motivo pelo qual eu me afastara do pessoal que estava comigo era um só: assuntos inacabados; coisas que foram guardadas no meu armário de “as diversas coisas que não foram ditas”. Era o que, naquele exato momento, me atormentava.

Olhei para o relógio que trazia no pulso, parado, estranhamente, às onze horas e cinqüenta minutos. O pior é que eu nem sabia por quanto tempo estava encarando o mar, esperando os fogos de artifícios explodirem, selando completamente minhas chances de contá-la o que eu queria.

Enquanto me arrependia por não tê-la puxado comigo, meus pés molharam-se em mais uma leva de ondas que chegavam à praia. Meu cabelo esvoaçou com a leve brisa gélida que se abateu sobre mim e meu coração pareceu parar, por um ou dois segundos talvez, fazendo meu corpo tremer instantaneamente. Alguém se aproximava pelas minhas costas. Sutil e graciosa. Virei-me rapidamente, só para confirmar o que já sabia.

— Mike...

Era ela. Emmily. MINHA Emmily. O anjo mais lindo que Deus podia ter posto perante meus olhos.

O castanho claro de seu olhar fitou-me ao perceber que eu perdera a pose por um segundo.

Emmily riu. Um sorriso que me fez querer avançar. Agarrá-la. Tomá-la em meus braços. Sentir o cheiro do seu liso cabelo. Beijá-la, mas eu me contive ao fitá-la nos olhos e perceber que era ela quem se aproximava de mim.

— Bem... Você se afastou tão de repente. Achei que precisasse de mim — suas mãos abraçaram minha cintura enquanto ela falava. — Já está quase na hora.

Não! Eu não podia mais deixar passar, não depois de ela ter vindo a mim por livre e espontânea vontade. Respirei fundo.

— Emmy... — somente com aquele sussurro eu tomei sua atenção.

Meu corpo sobressaía o de Emmily um pouco, o que forçou uma leve erguida de sua cabeça.

— Hm?

— Essa é a primeira virada de ano que nós passamos juntos... E, tem algo que eu queria que você soubesse — beijei-a a testa em uma tentativa de fazer o nervosismo passar. Em vão.

O fato de Emmily não dizer uma palavra sequer e permanecer apenas me encarando nos olhos não foi nada agradável. Por outro lado, aquele era um sonho, que eu cultivara a mais de meio ano, que se realizava. Eu a tinha em meus braços, e aquela não era uma das noites em que eu acordava assustado por que ela havia sumido no meu piscar de olhos.

— Eu acho... Não, eu tenho certeza... Que ter te conhecido foi a melhor coisa que me aconteceu nesse ano. O tempo que nós passamos juntos vai ficar marcado, não na minha memória, mas no meu coração. Porque eu sei que onde eu for você ainda vai estar comigo...

Emmily riu.

— É assim que eu me sinto, Emmy, mas é assim que você se sente também?

Saiu. Finalmente a pergunta que martelava em minha cabeça tinha saído. Eu tremia enquanto esperava a resposta. Emmily podia me soltar a qualquer momento, evaporando-se em seguida, como muitas vezes acontecera, mas não, contrariando o que eu imaginava, Emmy me abraçou mais forte ainda, pondo-se na ponta dos pés, aproximando seus lábios dos meus.

— Eu costumava ser solitária — ela disse. — Vivia no meu espaço, sem dar bola para mais ninguém, até que alguém me resgatou e me mostrou como é viver. Alguém que fez a vida valer à pena. Alguém que se tornou especial em um curto espaço de tempo. Alguém que eu amo, e que eu quero levar comigo para sempre. É assim que eu me sinto, Mike... Essa é minha promessa...

Seus lábios quase tocavam os meus quando várias pessoas começaram a contar.

— Dez... Nove... Oito...

Não dava mais para esperar. Tinha que ser ali. Com nossos pés molhados pela água, os corpos tremendo pelo leve frio, as mãos entrelaçando-se sobre os corpos.

— Sete... Seis...

— Eu te amo... — nós dois falamos ao mesmo tempo. — E eu vou te amar cada minuto mais...

Nós sorrimos.

— Cinco... Quatro...

— Cada hora mais... Cada dia mais...

— Três... Dois...

— Cada ano mais!

O som da explosão de fogos de artifícios e o beijo que Emmy me deu foram o bastante para me dar aquela sensação de que o chão havia sumido dos meus pés e de o que eu pisava eram apenas nuvens. Enquanto a beijava, comecei a lembrar do NOSSO ano de dois mil e dez, querendo, do fundo do meu coração que dois mil e onze fosse ainda melhor, se é que assim é possível...

LF Oliveira
Enviado por LF Oliveira em 11/01/2011
Código do texto: T2722677
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