Nosso Estranho Amor
O pobre e solitário tigre está bem quietinho em seu canto na Sibéria, camuflado contra o fundo branco da neve, praticamente invisível aos olhos desatentos, quando nota uma correria não muito longe: Alguns predadores, dentre eles ursos, lobos, um condor dos Alpes - que por acaso estava passando e se juntou ao bando - e uma orca - que de tão esfomeada esqueceu que deveria estar no mar -, numa confusão de idiomas e mundos, perseguem a mesma presa: uma linda, apetitosa e, muito provavelmente, saborosa lebre do ártico. Ela ziguezagueia, salta, acelera, mas, se não chega a ser alcançada, também, não consegue se livrar da turba esfomeada.
O grande felino avalia a situação, concorda que a presa é realmente tentadora, mas, diante da quantidade de caçadores, resolve não se envolver na peleja: eles que disputem o belo troféu.
Adormece e sonha que aquela criatura tão ambiciona por todos vem correndo e pula em suas garras. Acorda assustado: Não era um sonho! A louca realmente fez isso e se acomodou como se estivesse em sua própria casa. Seus perseguidores babando de desejo, raiva e, agora, inveja mantêm-se afastados: sabem que mesmo um tigre sonolento deve ser respeitado.
E, assim, num clima de meio suspense, segue pela eternidade nossa pequena fábula de um amor quase impossível: Predadores, postados a uma distância segura, aguardando uma chance para atacar, desmoralizar o grande felino e devorar a presa. A bela e disputada lebre se deixando ficar nas garras daquele tigre sem demonstrar nenhuma vontade de sair. E o pobre, sonolento e espantado tigre, com o cobiçado troféu em suas garras, tentando entender o que aquela deliciosa, louca e cada vez mais oferecida criatura está fazendo ali.
ooOoo