VITA & MINA - UMA VITAMINA DO AMOR
Tudo parecia perfeito para a reunião do 5º ano da turma “Cazuza/2000”. No Colégio Skema, toda turma recebia o nome de uma artista nacional já falecido. A escolha era feita por votação. A partir dai então a turma fica conhecida pelo nome do artista e o ano de sua formatura.
Para a turma que entrou no ano de 1998 no primeiro ano do segundo grau, o artista escolhido foi Cazuza, um dos grandes nomes do rock nacional dos anos 80.
Felinta ficara responsável pela segunda reunião que acontecia a cada 5 anos. Ela tinha ligado para todos ou passado e-mail ou ido à casa de alguns mais próximos.
Através dessas visitas ela fica sabendo que um dos três Carlos tinha sido morto. Carlos Maia fora morto num assalto fazia 10 meses. A violência urbana fizera mais uma vitima. Ela não saberia como daria essa noticia a Carlos Melo e Carlos Mota, os amigos inseparáveis durante todo o segundo grau. A turma os comparava aos três mosqueteiros do livro de Alexandre Dumas.
E Manuela, ou Manivela, como a chamavam tinha virado missionária e ido para outro país em uma ação humanitária. Além desta, Douglas e Fabrícia não poderiam vir, pois tinha casado e ido morar no Canadá.
No resto parecia que o reencontro iria contar com o resto da tumultuada turma Cazuza/2005 que dera muito trabalho aos professores, gestores e demais agentes da comunidade escolar.
Na quinta-feira Felinta junto com Ivana, Aline, Alexander e Vitássio chegam a casa de praia previamente alugada na praia do Calhau para sediar o reencontro tão esperado e planejado.
Eles já tinham repassado a lista de compras três vezes, por insistência de Ivana com sua mania de perfeição.
Felinta e Ivana estavam sozinhas, aliás, solteironas, visto que estavam beirando os 30 anos, idade critica para as mulheres. Juntas terminavam a faculdade de Direito.
Alexander estava trabalhando como psicólogo em seu consultório com uma clientela modesta, mas fiel.
E Vitássio e Aline estavam noivos e preferiram não estudar, construíram uma empresa de assistência técnica em informática e seguiam juntos no amor e no trabalho. Uma parceria que não funcionava muito bem e com o esperado por ambos.
Vita como era conhecido estava meio zangado com Aline que não aceitava a ideia de terem filhos antes do casamento. Fora isso ainda não se achava preparada para ser mãe, visto que fugia como o diabo da cruz da responsabilidade. Não queria sentir-se responsável nem por si mesma.
Tanto Aline e Ivana estavam loucas para reverem Firmina, uma grande amiga do grupo FIFA, sigla formada pela letra inicial do nome de cada uma. Felinta, Ivana, Firmina e Aline eram inseparáveis e juntas formavam o quarteto mais descolado e atraente do colégio durante os três que lá estudaram.
A vida após o termino do segundo grau separou um pouco as amigas, principalmente Firmina que tinha praticamente desparecido da vida das três de uma forma misteriosa. Por vezes elas pensavam que tinha feito algo a amiga, mesmo que inconscientemente.
No resto da noite eles juntaram em redor da TV, colocaram um dvd da irreverente Lady Gaga e começaram a beber ices e conversar sobre a turma, os tempos de sala de aula, planos futuros que não vingaram, planos passados que lá ficaram.
Os rapazes logo se juntaram e começaram a eleger a mais gata da época, a que mais embaragou, a mais gostosa que continuou, a que melhorou, a que até hoje não disse a que veio e etc.
Aline, Ivana e Felinta estavam ansiosas para a chegada de Firmina, a única da turma que não viera no primeiro encontro e pelo qual as três tinham um carinho especial, afinal elas eram inseparáveis, tipo amigas para sempre. Por fim todos meio alcoolizados não custaram a dormir.
Na sexta, lá, pelas 10 horas, Aline acorda com alguém batendo na porta com força. Ela levanta meio grogue, praticamente se arrastando e ao abrir a porta dá de cara com uma moça, que de princípio não reconhece, embora o rosto seja meio familiar.
- Pois não o que deseja?
- Aline, sou eu Maria Firmina, a Mina...
- Mina desculpa, não te reconheci. Você está tão diferente...
- Diferente sendo sinônimo de gorda né? Porque fora os quilos a mais eu continuo a mesma.
Mina entra e abraça Aline, que fica constrangida e meio dolorida com o abraço apertado da amiga, que agora pesava uns 20 quilos a mais, ou seja, estava obesa.
A medida que os outros vão acordando, Mina sente a presença da indiferença. Ela tenta agir naturalmente, não obstante a frieza acaba suplantando qualquer outra emoção proporcionada pelo reencontro.
Alexander é o único que demonstra mais proximidade sem se importar para aparência nova de Firmina, que pensa em ir embora, mas resolve ir contra a vontade a fim de testar seus amigos.
Com o passar das horas o restante dos ex-alunos vão chegando, e Mina se sente aliviada por não ser mais o centro das atenções. Porém ela percebe o cochicho das amigas inseparáveis e mesmo lutando contra si mesma força uma aproximação.
- Puxa meninas, eu estava com saudade de vocês...
- Também estávamos fala Felinta. E porque você não veio no primeiro encontro da turma?
- Minha mãe faleceu um mês antes e eu não tava com cabeça para reuniões...
- E o seu namorado o Rexson? Cadê ele? Pensei que você já estivesse casada e com filhos.
- Nos separamos no ano seguinte após o terceiro ano, ele me traiu com uma amiga minha de infância...
- Eta amiga da onça essa hein. Ei e ai gente vamos para a praia, não viemos para uma casa de praia para ficarmos aqui...
- Sim, vibra Ivana tirando da bolsa os biquínis minúsculos, aos gritos. Eu trouxe quatro biquínis e começa a distribuir... quando percebe a mancada é tarde demais.
- Sinto meninas, eu não vou poder acompanha-las, além de não caber nesse minúsculo biquíni estou me recuperando de uma gripe forte. Obrigada.
Com essas palavras Mina se retira. Do lado oposto Alexander e uns quatros riram da mancada feia de Ivana, que fica sem graça.
Aline sai com Ivana e Felinta e convida Vita, que prefere ficar, eles tiveram outra briga na noite passada pelo mesmos motivos de sempre.
Mina sobe as escadas e fica na varada do primeiro andar observando as três amigas junto com as outras garotas da turma indo correndo com seus biquinis mínimos enfiados na bunda exibindo seus corpos magros e apetitosos que eram admirados pelos rapazes que enchiam o bucho de churrasco, cerveja e outras bebidas na varanda.
Sem conter a emoção ela se retrai senta numa cadeira e começa a chorar quando alguém encosta a mão no seu ombro inesperadamente.
- O que houve com você? Qual o motivo dessa tristeza? Não vai me dizer que é por causa daqueles três carros alegóricos que acabaram de sair e que se diziam suas amigas até a morte?
- Não choro por mim mesmo, por ser uma boba, por ter vindo aqui tentando encontrar afeto em pessoas que agora são como estranhas para mim, por está carente, por estar sozinho, por ser uma pessoa infeliz ao ponto de me execrar em público.
- Puxa cara você tá mal mesmo hein? Cadê aquela garota alegre, bem humorada, irreverente, otimista, motivadora que estudava comigo e que era o centro das atenções? Lembro que todos os rapazes babavam por você... e você nem ligava, dizia-se apaixonado pelo seu namorado de infância, o que tinha nome de cachorro o Rexson... au, au, au. Ele brinca imitando o latido de cachorro.
- Ele me traiu com minha melhor amiga que era como uma irmã, hoje estão casados com 3 filhos...
- E seus pais como vão...? Seu irmão?
- Minha mãe morreu, meu irmão casou faz mais de 8 anos e meu pai depois da morte de mamãe só vive bêbado, gasta todo o dinheiro da aposentadoria com bebidas, cigarros, mulheres e festas.
- Nem sei o que falar... sua vida parece ter virado de pernas pro ar. Você deve se sentir sozinha...
- Você nem sabe como, tem horas que não sei como ainda acordo e vou trabalhar...
- Também me sinto assim sozinho, mesmo passando o dia todo com a Aline. Nós trabalhamos e moramos juntos...
- Tem filhos...?
- Não, ela não quer ser mãe, diz que não quer sentir-se responsável por ninguém, nem por ela mesmo, que ainda é imatura, que não temos condições financeiras, que o apartamento é pequeno, que não se imagina com barrigão, que gosta do corpo como está..
- Eu adoraria ser mãe, pena que nunca serei... ela lamenta-se enxugando as lágrimas.
- Só se não quiser, você é jovem e parece saudável, o que impediria?
- Não teria coragem de ter filhos sozinha, ou recorrer a doadores anônimos ou adoção, queria um filho meu, queria uma família completa e isso está ficando mais distante a cada dia. Olha pra mim, sou gorda agora. Aquela Mina paquerada, desejada, gostosa imergiu em 20 kg de gordura. Que homem se interessaria por mim...?
- Eu me interessaria, contudo você é que não se interessaria, afinal eu sempre fui feio e super afim de você, te curtia de longe durante todo o segundo grau.
- Você está tentando tirar onda com minha cara né Vitássio...? Naquela época você era tímido, feinho, magrelo e parecia ter construído uma torre ao redor de você, só conversava com a Aline. E nunca pensei em namorar ninguém da turma, eu era apaixonada pelo Rexson, pensava que ia casar para ele, não tinha olhos para mais ninguém. O Alexander e os Carlos viviam me assediando, agora nem olharam para minha cara direito.
- Eu não sei eles, já eu estou aqui te olhando e quando te vi reacendeu tudo que sempre senti, aquela paixão de adolescente ainda está aqui viva...
- Num creio, você já olhou bem para mim, a Gata Mina não existe mais, eu estou gorda, eu mudei e você também olha para você...
- O que tem eu....? Piorei?
- Cara você tá um tesão, nós dois parece que invertemos, você está gato demais. Quando te vi nem acreditei que era o Vitássio, você mudou da água para o vinho. A Aline deve morrer de ciúmes de você.
- Não, pelo contrário sente-se segura. Acha que sempre estarei a sua disposição e que ficarei eternamente esperando que resolva suas crises existenciais ou que eu me der por vencido e aceite suas condições de vida perfeita. Então que chances tenho com você agora, sabia que sempre quis namorar uma gordinha, não aguento mais a Aline com sua mania de magreza, produtos diet, light, quase uma neurose. Sabe eu não estou de dieta... adoraria uma carne menos magra. O sorriso malicioso de Vitássio deixa Firmina sem graça.
Esse é o sinal que falava para que Mina mandasse as favas algumas convenções sociais e algumas sutilezas entre amigas, já nem tão amigas tanto assim. Logo em segundos Vita e Mina estão se beijando vorazmente. Um estava carente a anos e o outro liberando uma paixão platônica de quase uma década misturada agora a uma vontade louca de mudança, de fugir de uma mesmice de uma relação já fracassada e extremamente morna.
Sorrateiramente eles saem de fininho da reunião e não aparecem mais durante aquele fim de semana prolongado. Assim que pode Vita tem uma conversa com Aline e eles resolvem terminar amistosamente. Ele porém não conta nada sobre sua relação com Mina. A partir daí ele e Mina começam a namorar sério e em poucos meses estão morando juntos, um mês depois ela fica grávida.
Após o parto dos gêmeos, algo surpreendente acontece nos próximos meses que se seguem: Mina emagrece. Ela volta a ter seu peso normal antes da fase depressiva que tivera com a decepção do romance com seu namorado de infância e da morte da mãe.
A felicidade parecia ter sido o melhor remédio para alguém que parecia tão desencantada pela vida. O mesmo valia para quem também se via tão distante dos seus sonhos mais caros e improváveis.
Vitássio e Firmina – Vita e Mina - uma junção que resultou numa verdadeira vitamina do amor.
Tudo parecia perfeito para a reunião do 5º ano da turma “Cazuza/2000”. No Colégio Skema, toda turma recebia o nome de uma artista nacional já falecido. A escolha era feita por votação. A partir dai então a turma fica conhecida pelo nome do artista e o ano de sua formatura.
Para a turma que entrou no ano de 1998 no primeiro ano do segundo grau, o artista escolhido foi Cazuza, um dos grandes nomes do rock nacional dos anos 80.
Felinta ficara responsável pela segunda reunião que acontecia a cada 5 anos. Ela tinha ligado para todos ou passado e-mail ou ido à casa de alguns mais próximos.
Através dessas visitas ela fica sabendo que um dos três Carlos tinha sido morto. Carlos Maia fora morto num assalto fazia 10 meses. A violência urbana fizera mais uma vitima. Ela não saberia como daria essa noticia a Carlos Melo e Carlos Mota, os amigos inseparáveis durante todo o segundo grau. A turma os comparava aos três mosqueteiros do livro de Alexandre Dumas.
E Manuela, ou Manivela, como a chamavam tinha virado missionária e ido para outro país em uma ação humanitária. Além desta, Douglas e Fabrícia não poderiam vir, pois tinha casado e ido morar no Canadá.
No resto parecia que o reencontro iria contar com o resto da tumultuada turma Cazuza/2005 que dera muito trabalho aos professores, gestores e demais agentes da comunidade escolar.
Na quinta-feira Felinta junto com Ivana, Aline, Alexander e Vitássio chegam a casa de praia previamente alugada na praia do Calhau para sediar o reencontro tão esperado e planejado.
Eles já tinham repassado a lista de compras três vezes, por insistência de Ivana com sua mania de perfeição.
Felinta e Ivana estavam sozinhas, aliás, solteironas, visto que estavam beirando os 30 anos, idade critica para as mulheres. Juntas terminavam a faculdade de Direito.
Alexander estava trabalhando como psicólogo em seu consultório com uma clientela modesta, mas fiel.
E Vitássio e Aline estavam noivos e preferiram não estudar, construíram uma empresa de assistência técnica em informática e seguiam juntos no amor e no trabalho. Uma parceria que não funcionava muito bem e com o esperado por ambos.
Vita como era conhecido estava meio zangado com Aline que não aceitava a ideia de terem filhos antes do casamento. Fora isso ainda não se achava preparada para ser mãe, visto que fugia como o diabo da cruz da responsabilidade. Não queria sentir-se responsável nem por si mesma.
Tanto Aline e Ivana estavam loucas para reverem Firmina, uma grande amiga do grupo FIFA, sigla formada pela letra inicial do nome de cada uma. Felinta, Ivana, Firmina e Aline eram inseparáveis e juntas formavam o quarteto mais descolado e atraente do colégio durante os três que lá estudaram.
A vida após o termino do segundo grau separou um pouco as amigas, principalmente Firmina que tinha praticamente desparecido da vida das três de uma forma misteriosa. Por vezes elas pensavam que tinha feito algo a amiga, mesmo que inconscientemente.
No resto da noite eles juntaram em redor da TV, colocaram um dvd da irreverente Lady Gaga e começaram a beber ices e conversar sobre a turma, os tempos de sala de aula, planos futuros que não vingaram, planos passados que lá ficaram.
Os rapazes logo se juntaram e começaram a eleger a mais gata da época, a que mais embaragou, a mais gostosa que continuou, a que melhorou, a que até hoje não disse a que veio e etc.
Aline, Ivana e Felinta estavam ansiosas para a chegada de Firmina, a única da turma que não viera no primeiro encontro e pelo qual as três tinham um carinho especial, afinal elas eram inseparáveis, tipo amigas para sempre. Por fim todos meio alcoolizados não custaram a dormir.
Na sexta, lá, pelas 10 horas, Aline acorda com alguém batendo na porta com força. Ela levanta meio grogue, praticamente se arrastando e ao abrir a porta dá de cara com uma moça, que de princípio não reconhece, embora o rosto seja meio familiar.
- Pois não o que deseja?
- Aline, sou eu Maria Firmina, a Mina...
- Mina desculpa, não te reconheci. Você está tão diferente...
- Diferente sendo sinônimo de gorda né? Porque fora os quilos a mais eu continuo a mesma.
Mina entra e abraça Aline, que fica constrangida e meio dolorida com o abraço apertado da amiga, que agora pesava uns 20 quilos a mais, ou seja, estava obesa.
A medida que os outros vão acordando, Mina sente a presença da indiferença. Ela tenta agir naturalmente, não obstante a frieza acaba suplantando qualquer outra emoção proporcionada pelo reencontro.
Alexander é o único que demonstra mais proximidade sem se importar para aparência nova de Firmina, que pensa em ir embora, mas resolve ir contra a vontade a fim de testar seus amigos.
Com o passar das horas o restante dos ex-alunos vão chegando, e Mina se sente aliviada por não ser mais o centro das atenções. Porém ela percebe o cochicho das amigas inseparáveis e mesmo lutando contra si mesma força uma aproximação.
- Puxa meninas, eu estava com saudade de vocês...
- Também estávamos fala Felinta. E porque você não veio no primeiro encontro da turma?
- Minha mãe faleceu um mês antes e eu não tava com cabeça para reuniões...
- E o seu namorado o Rexson? Cadê ele? Pensei que você já estivesse casada e com filhos.
- Nos separamos no ano seguinte após o terceiro ano, ele me traiu com uma amiga minha de infância...
- Eta amiga da onça essa hein. Ei e ai gente vamos para a praia, não viemos para uma casa de praia para ficarmos aqui...
- Sim, vibra Ivana tirando da bolsa os biquínis minúsculos, aos gritos. Eu trouxe quatro biquínis e começa a distribuir... quando percebe a mancada é tarde demais.
- Sinto meninas, eu não vou poder acompanha-las, além de não caber nesse minúsculo biquíni estou me recuperando de uma gripe forte. Obrigada.
Com essas palavras Mina se retira. Do lado oposto Alexander e uns quatros riram da mancada feia de Ivana, que fica sem graça.
Aline sai com Ivana e Felinta e convida Vita, que prefere ficar, eles tiveram outra briga na noite passada pelo mesmos motivos de sempre.
Mina sobe as escadas e fica na varada do primeiro andar observando as três amigas junto com as outras garotas da turma indo correndo com seus biquinis mínimos enfiados na bunda exibindo seus corpos magros e apetitosos que eram admirados pelos rapazes que enchiam o bucho de churrasco, cerveja e outras bebidas na varanda.
Sem conter a emoção ela se retrai senta numa cadeira e começa a chorar quando alguém encosta a mão no seu ombro inesperadamente.
- O que houve com você? Qual o motivo dessa tristeza? Não vai me dizer que é por causa daqueles três carros alegóricos que acabaram de sair e que se diziam suas amigas até a morte?
- Não choro por mim mesmo, por ser uma boba, por ter vindo aqui tentando encontrar afeto em pessoas que agora são como estranhas para mim, por está carente, por estar sozinho, por ser uma pessoa infeliz ao ponto de me execrar em público.
- Puxa cara você tá mal mesmo hein? Cadê aquela garota alegre, bem humorada, irreverente, otimista, motivadora que estudava comigo e que era o centro das atenções? Lembro que todos os rapazes babavam por você... e você nem ligava, dizia-se apaixonado pelo seu namorado de infância, o que tinha nome de cachorro o Rexson... au, au, au. Ele brinca imitando o latido de cachorro.
- Ele me traiu com minha melhor amiga que era como uma irmã, hoje estão casados com 3 filhos...
- E seus pais como vão...? Seu irmão?
- Minha mãe morreu, meu irmão casou faz mais de 8 anos e meu pai depois da morte de mamãe só vive bêbado, gasta todo o dinheiro da aposentadoria com bebidas, cigarros, mulheres e festas.
- Nem sei o que falar... sua vida parece ter virado de pernas pro ar. Você deve se sentir sozinha...
- Você nem sabe como, tem horas que não sei como ainda acordo e vou trabalhar...
- Também me sinto assim sozinho, mesmo passando o dia todo com a Aline. Nós trabalhamos e moramos juntos...
- Tem filhos...?
- Não, ela não quer ser mãe, diz que não quer sentir-se responsável por ninguém, nem por ela mesmo, que ainda é imatura, que não temos condições financeiras, que o apartamento é pequeno, que não se imagina com barrigão, que gosta do corpo como está..
- Eu adoraria ser mãe, pena que nunca serei... ela lamenta-se enxugando as lágrimas.
- Só se não quiser, você é jovem e parece saudável, o que impediria?
- Não teria coragem de ter filhos sozinha, ou recorrer a doadores anônimos ou adoção, queria um filho meu, queria uma família completa e isso está ficando mais distante a cada dia. Olha pra mim, sou gorda agora. Aquela Mina paquerada, desejada, gostosa imergiu em 20 kg de gordura. Que homem se interessaria por mim...?
- Eu me interessaria, contudo você é que não se interessaria, afinal eu sempre fui feio e super afim de você, te curtia de longe durante todo o segundo grau.
- Você está tentando tirar onda com minha cara né Vitássio...? Naquela época você era tímido, feinho, magrelo e parecia ter construído uma torre ao redor de você, só conversava com a Aline. E nunca pensei em namorar ninguém da turma, eu era apaixonada pelo Rexson, pensava que ia casar para ele, não tinha olhos para mais ninguém. O Alexander e os Carlos viviam me assediando, agora nem olharam para minha cara direito.
- Eu não sei eles, já eu estou aqui te olhando e quando te vi reacendeu tudo que sempre senti, aquela paixão de adolescente ainda está aqui viva...
- Num creio, você já olhou bem para mim, a Gata Mina não existe mais, eu estou gorda, eu mudei e você também olha para você...
- O que tem eu....? Piorei?
- Cara você tá um tesão, nós dois parece que invertemos, você está gato demais. Quando te vi nem acreditei que era o Vitássio, você mudou da água para o vinho. A Aline deve morrer de ciúmes de você.
- Não, pelo contrário sente-se segura. Acha que sempre estarei a sua disposição e que ficarei eternamente esperando que resolva suas crises existenciais ou que eu me der por vencido e aceite suas condições de vida perfeita. Então que chances tenho com você agora, sabia que sempre quis namorar uma gordinha, não aguento mais a Aline com sua mania de magreza, produtos diet, light, quase uma neurose. Sabe eu não estou de dieta... adoraria uma carne menos magra. O sorriso malicioso de Vitássio deixa Firmina sem graça.
Esse é o sinal que falava para que Mina mandasse as favas algumas convenções sociais e algumas sutilezas entre amigas, já nem tão amigas tanto assim. Logo em segundos Vita e Mina estão se beijando vorazmente. Um estava carente a anos e o outro liberando uma paixão platônica de quase uma década misturada agora a uma vontade louca de mudança, de fugir de uma mesmice de uma relação já fracassada e extremamente morna.
Sorrateiramente eles saem de fininho da reunião e não aparecem mais durante aquele fim de semana prolongado. Assim que pode Vita tem uma conversa com Aline e eles resolvem terminar amistosamente. Ele porém não conta nada sobre sua relação com Mina. A partir daí ele e Mina começam a namorar sério e em poucos meses estão morando juntos, um mês depois ela fica grávida.
Após o parto dos gêmeos, algo surpreendente acontece nos próximos meses que se seguem: Mina emagrece. Ela volta a ter seu peso normal antes da fase depressiva que tivera com a decepção do romance com seu namorado de infância e da morte da mãe.
A felicidade parecia ter sido o melhor remédio para alguém que parecia tão desencantada pela vida. O mesmo valia para quem também se via tão distante dos seus sonhos mais caros e improváveis.
Vitássio e Firmina – Vita e Mina - uma junção que resultou numa verdadeira vitamina do amor.