Amor sem limites
José era casado à vinte e quatro anos, e vivia feliz ao lado de Marta sua esposa. Tinha dois filhos, Raul e Gerson, ambos já casados. Ele havia se casado exatamente no mês de dezembro, dia treze, e faltava exatamente um ano para completar suas bodas. E naquele dia, naquele instante de luz que ele decidiu fazer uma homenagem à sua mulher. Mas para que a mesma fosse realizada ele deveria se esforçar muito, pois não demonstrava aptidão nenhuma para o que decidira realizar. Saiu naquela tarde rumo ao centro daquela enorme cidade a fim de encontrar o endereço de uma senhora que descobriu pelo anúncio no jornal. Chegando a porta do apartamento tocou a campainha e de lá saiu uma bela mulher, loira, 1,86 de altura, corpo perfeito, lábios sensuais, e um par de olhos azulados, cabelos sedosos e lindos. Mas ele mal notou sua beleza, estava tão determinado, que logo disse a que veio como um narrador de rádio num programa ao vivo.
- Boa tarde madame! Me chamo José, e venho pelo anúncio do jornal. Vim com interesse de me tornar seu aluno.
- Você? Desculpe-me mas fui bem clara no anúncio, dou aulas apenas para crianças.
- Sim eu sei mas é que preciso muito aprender. É um presente que dar a minha esposa na comemoração de nossas bodas, e pelo que vejo a senhora é uma ótima professora e então pensei que poderia me ajudar.
A mulher examinou-o de cima abaixo e viu um homem de 66 anos, vestido de terno, parecendo um crente, daqueles que te visita com a bíblia debaixo do braço. Mas era só um homem determinado a agradar sua mulher. Com seus sapatos engraxados, cabelo bem penteado, olhos castanhos, moreno, 1,73 de altura, gordinho como a própria Marta dizia “meu gordinho”. Ela o olhava , e ele já meio sem graça... Foi quando enfim ela disse:
- E quando quer começar?
- Quando puder! Ele disse revigorado.
- Na verdade o mais breve possível.
- Bem, venha amanhã, às oito, terá aulas uma hora por dia, teremos um longo ano.
- Sim senhora!
- Ah, e não me chame assim, apenas Helena por favor.
- Sim senhora, quer dizer senhora Helena, não Helena. Rsrs...
Ele se virou e foi embora feliz por ter conseguido convence-la. Chegando em casa Marta estava preparando o jantar, já eram seis e meia da tarde.
- Boa noite querido! Por onde andou? Estava preocupada.
- Estava dando uma volta pelo centro querida.
- Bem, que bom que chegou, amanhã irei para o salão aprontar meu cabelo e fazer as unhas, Janete irá comigo, Depois iremos passar numas lojinhas no centro.
Janete era a melhor amiga de Marta, uma mulher que havia se separada do marido com quem viveu sete anos, e que tinha um bom coração.
- Tudo bem querida, também sairei amanhã cedo, tenho um trabalho a fazer.
E assim passou-se o restante da noite, Marta como de praxe pegou um Cd e colocou pra tocar, era do rei, “Roberto Carlos”. Ela adorava todas as músicas dele, mas havia em especial uma que ouvia repetitivamente.
A noite caiu e o dia nasceu e ambos saíram para seus compromissos.
O primeiro dia de aula transcorreu acima do esperado segundo a professora Helena, e José voltou feliz para casa, passou por uma floricultura e levou flores para sua amada, que lhe comprou também uma bela camisa que encontrou com um belo desconto em uma loja das quais visitou. Ela e Janete conversaram o tempo todo no salão e a cada passo que davam faziam suas compras.
Passou-se um mês, dois meses, três e José ainda dava suas desculpas para marta que ainda as engolia, “Vou sair com os amigos”, “ Vou na casa de fulano”, “Querida recebi um telefonema do Raul e vou lá visita-lo”, mas no salão de beleza suas amigas começavam a falar na cabeça de Marta, “Onde é que o José vai todos os dias”, “ Olha é melhor você tomar cuidado”, “Homem é tudo igual”,“Abre seu olho querida”. Mas ela sempre o defendia.
– Que nada, meu José é diferente e nunca me trocaria por uma rameira qualquer, ele me ama, e sei muito bem disso.
E o tempo passou e já em outubro, helena comunicou a José que teriam que mudar o horário das aulas que passariam a ser noturnas. Mais um mês se seguiu e as desculpas continuavam... “ Amor estou indo na casa de tal amigo jogar um baralho, mas volto logo”, “ Amor prepare o jantar que já estou chegando”, “ Querida volto logo, vou fazer minha caminhada”.... e assim ele continuava suas aulas. Mas Marta estava cercada por todos os lados.
Janete por fim também já não acreditava na fidelidade de José e tinha certeza que ele traía sua amiga, e queria fazê-la enxergar isto.
- Olha marta, amiga, veja bem, sei que sou apenas uma separada, e sofro muito por isso, mas não quero que viva tudo que eu vivi, tem horas que o amor acaba e o José ele só pode ter outra mulher querida. Sei que você confia muito nele, mas pense porque ele sai todas as noites e nunca te leva. Há algo de errado.
Marta ainda permanecia relutante, mas se entregava aos poucos a desconfiança.
- Eu sei o que parece amiga, mas ele não me trai, não o José, não meu José.
- Tudo bem! Então porque você não se oferece para acompanha-lo uma noite destas.
- Tá bom amiga! Vou fazer isto. Verá que irei com ele sem problemas.
E chegou a noite e José pronto para sair, deu um beijo em Marta, que logo o segurou pela mão.
- Onde você pensa que vai?
- Bem, caminhar como sempre!
Esta desculpa emplacou nos últimos meses e para não dar várias ele insistia nesta.
- Bem, então posso ir junto!
- O quê? Bem... é...
- Posso ou não posso?
Ele se sentiu acuado e se lembrou do que Helena havia falado. Olha você progrediu muito mesmo, realmente está se saindo tão bem para uma pessoa que faz isto a tão pouco tempo... mas para agrada-la ainda mais terá que se esforçar dobrado nestes últimos dias. E ele não podia perder esta aula, não agora. Estava ansioso para que tudo corresse bem.
- Querida é melhor não. Você vai me atrasar e eu caminho muito rápido!
Marta sentiu seus ombros caírem, e perdeu suas forças.
- É claro. Me desculpe, eu te espero pro jantar.
- Sim... sim amor... e saiu ele apressado para sua suposta caminhada.
Marta apenas viu a silhueta dele dobrar a esquina e sentiu uma lágrima desabar pesadamente pelos seus olhos, e escorregar pelo seu rosto, parecendo fugir das que vinham logo em seguida. Olhava pros lados, procurando conforto, tirar aqueles pensamentos loucos e enciumados da cabeça, mas eles eram tão visíveis, tão aparentemente concretos. Ela pegou o telefone e teclou.
Enquanto isso um táxi seguia em direção ao centro e dentro dele José mudava sua roupa preparando-se para aula. Chegando ao prédio onde Helena morava ele pagou ao motorista e agradeceu.
- Obrigado seu Joaquim, me pegue no mesmo horário por favor. E muito obrigado por trazer a roupa novamente. Está me ajudando muito.
- A marta merece, meu filho. Conheço ela desde de que ainda era só uma garotinha.
Eles se despediram e ele entrou em direção do apartamento. Chegando lá tocou a campainha e Helena o recebeu.
- Oi...
- Olá professora. Vamos começar.
- Claro que sim. Sente-se que já volto.
Logo ela chegou, como de praxe segurando sua xícara de chá.
- E você como tem se saído com a Marta?
- Muito bem. Tenho conseguido engana-la, ainda bem que o curso está chegando ao fim. Rsrsrs...
- Mas e ano que vem... você pode continuar... tem se saído tão bem. Parece um dom natural seu, que estava guardado.
- Não me elogie tanto... rsrs
- Mas é verdade, e quero inclusive te fazer um convite para fazer parte do meu grupo ano que vem.
- Como? Não sei se posso.Não estou a altura de...
- Quem decide isto sou eu... e você está pronto, mas a escolha quem faz é você. E por mim já estaria no grupo este ano. Mas você não pode ainda, pelas bodas, a apresentação é no mesmo dia.
- Sim, é claro. Mas vou pensar no ano que vem. Com muito carinho. Eu prometo.
- Tudo bem! Vamos pra aula.
E chegou novembro, e Marta parecia cada vez mais desanimada com os preparativos da festa de bodas, e mesmo notando, José não conseguia faze-la melhorar. Ela recusava seus carinhos, seus beijos, seus abraços, e ele achava que ela estava apenas preocupada com a festa. E ele focado em suas aulas estava imerso em ansiedade.
Os dias se passaram e faltavam apenas dez dias para a festa. Era o último dia de aula de José.
- Querida já vou.
Marta estava sentada à mesa, conversando com Janete, que a ajudava sempre com os preparativos.
- Até amor! Nos veremos mais tarde!
- Como de costume ele saiu com sua roupa de caminhada e pegou o táxi assim que dobrou a esquina. Só não sabia que estava sendo seguido por Marta, que estava dentro do carro de Janete, que o dirigia de óculos escuros em plena noite... parecia estar em um filme de espionagem...rsrsrs.
- Não se aproxime muito Janete, ele pode nos ver. Aquele safado! Perto de nossas bodas e ele me traindo...
- Olha lá amiga, ele tá trocando de roupa no carro... que safado. Disse Janete.
- Sem vergonha! Eu pego aquele Filho da ...
Passados alguns minutos lá estava o prédio de Helena. José desceu do táxi e nem notou o carro da Janete que parou colado na traseira do seu Joaquim.As duas desceram e seguiram no encalço de José que pegou o elevador.
- E agora o que vamos fazer? Como saberemos pra onde ele foi.
- Calma amiga! Eu resolvo isso. Disse Janete.
- Olá senhor! Disse ao porteiro.
Colocou seu decote à mostra e se jogou sobre o balcão insinuantemente. O homem de cerca de quarenta e cinco anos, bem afeiçoado por sinal, quase teve um desmaio com a cena. Janete era uma mulher bonita, uma coroa enxuta e esbanjava sensualidade.
- Olá senhora!
- Senhorita, por favor.
- Poderia me ajudar.
- Sim é claro. Com certeza.
- Meu irmão acaba de entrar aqui, pegou o elevador e preciso muito saber para qual quarto ele foi... será que o senhor poderia me dizer...
- Se eu posso te dizer? Bem, você deve estar falando do José.
- Sim é ele mesmo.
O porteiro não tirava os olhos de Janete, quer dizer de seu decote.
- Ele foi pro 42, 5º andar.
Janete agradeceu e as duas entraram no elevador.
Enquanto isto no quarto José e Helena permaneciam sentados à mesa da sala.
- Hoje não haverá mais aula amigo. Apenas quero te dar um presente.
- Um presente?
- Sim, é um terno para que use nas bodas.
Ela pegou a sacola e dentro havia um terno de corte italiano maravilhoso, algo realmente divino.
- Meu Deus! Mas é lindo.
José a abraçou em agradecimento. E ela o retribuiu o carinho. E foi pelo descuido de uma porta não trancada à chaves, que um equívoco aconteceu.
Marta enfurecida abriu a porta como se estivesse entrando em sua casa, e pegou os dois num suposto abraço caloroso.
- José!!!
- Marta???
- Marta? A sua Marta? Disse Helena!
- Sua cadela cretina! E marta avançou pra cima de Helena, de tal forma que ela não teve como reagir. Deu-lhe uma saraivada de tapas, e puxões de cabelo, as duas caíram por cima da mesa da sala e Helena bateu com a cabeça.
Foi tudo tão rápido. José sem ação tentava socorrer Helena... se explicar para Marta. Mas não deu tempo. Helena estava desmaiada na sala. E marta começou a jogar tudo que via em José, Jarros de flor, cadeiras, copos e taças, até a xícara em que Helena habitualmente tomava seu chá da tarde.
- Querida, eu posso explicar...
- Seu vagabundo... pilantra... e tome coisas pra cima dele.
Ele não pode dizer nada.
- Suma da minha vida! Acabou! Eu te odeio seu promiscuo!
E marta saiu do quarto deixando José ali, acuado, sem poder segui-la. Ele precisava cuidar de Helena.
- Calma amiga! Dizia Janete, tentando conforta-la. Foi melhor assim! Ele não te merecia.
E entraram no carro e foram pra casa.
Passaram-se seis dias e Marta havia abandonado José e ele não tinha notícias dela. Ela entendeu tudo errado. Deixou a casa vazia. Levou suas roupas. Tudo. Até seu coração. Ele ficava lá sentado na sua poltrona, olhando para o vazio que ficara em cima da estante. Até a televisão ela tinha levado. Tudo estava perdido. Tudo que ele havia planejado. Ela tinha cancelado a festa. O seu mundo estava desabado.
Os três dias se passaram. José recebeu um telefonema às 20:00 horas, dia de suas bodas.
- José?
- Sim, é você Helena.
- Preciso muito de sua ajuda amigo. Olha depois do que aconteceu, sei que está triste, que deve estar arrasado, mas hoje é a apresentação do grupo e todos estão aqui, menos o Marcos. Preciso que você o substitua.
- Como? Esta louca Helena. Eu não posso.
- Só tenho você, amigo.
José estava arrasado, e agora helena precisava de sua ajuda.
- Tá bem. Eu vou. Mas minha roupa está um lixo.
- Eu tenho algo pra você.
- Onde vai ser?
- Teatro municipal!
- Meu Deus...está louca?
- Por favor! Sua voz era tão doce ao telefone.
- Tá bem! Chego em 20 minutos.
Passaram-se dezenove minutos e lá estava ele.
- Ande entre, venha se trocar. Mas o que é isso! De terno. Esse terno!
- Sim e mudamos algumas coisas. Primeiro você entra sozinho. E sei que não ensaiou muita coisa diferente. Então peço que faça apenas aquilo que ensaiamos mais, depois a gente prossegue com o restante do show.
- Você esta falando sério! Logo ela.
- Sim amigo. Te peço por favor.
- Tudo bem. Quando entro?
- Em cinco minutos.
O teatro estava lotado, ainda às escuras. As fileiras da frente sempre eram reservadas para celebridades e convidados especiais. Helena havia alugado aquele teatro junto á investidores para promover seu grupo.
- Vamos lá.... Chegou a hora.
Sentada na primeira fila, usando um vestido azul maravilhoso estava Marta ao lado de Janete.
- Não sei porque me trouxe aqui!
- Calma Marta! Querida de que adianta ficar em casa. Logo hoje. Esqueça-se do que era pra ser. Viva o hoje. E veja as surpresas que a vida lhe guarda.
Relutante Marta se acalmou.
- Tudo bem!
Foi quando as cortinas se abriram e ele se apresentou.
Ele não sabia como começar. Foi quando escutou o som da banda no fundo, era a introdução. E se lembrou do que havia ensaiado
- Bem...a todos meu muito obrigado, por nos prestigiarem esta noite com suas presenças. Preparei um discurso mas infelizmente ele era para apenas uma pessoa, não é a ocasião mais, o que vou fazer aqui hoje, queria sim fazê-lo, mas não nestas circunstâncias. Dedico este show, esta pérola da arte de um rei, de um mito, de um ídolo de um amor que perdi, a este alguém que se desencontrou de mim, hoje, dia 13, o meu ano 25, o meu “Amor sem Limites”...
E com o microfone na mão José seguiu a banda, que na verdade foi quem o seguiu...
Quando a gente ama alguém de verdade
Esse amor não se esquece
O Tempo passa, tudo passa, mas no peito
O amor permanece
E qualquer minuto longe é demais
A saudade atormenta
Mas qualquer minuto perto é bom demais
O amor só aumenta
Vivo por ela
Ninguém duvida
Porque ela é tudo
Na minha vida
As lágrimas desciam pelo seu rosto... sua voz e seu ritmo contagiavam todo o público. Era a canção do rei, aquela que se repetia naquele cd, por vezes e mais vezes... um ano de preparação pra cantar pra ela...sua Marta. Seu coração batia mais forte, foi quando ele olhou para o publico e começou a reconhecer rostos nas primeiras fileiras... amigos... o que era aquilo...ele continuava cantando... eles acenando pra ele... seus filhos... seus netos... todos estavam lá. Mas e ela... bem ela levantou-se... Suas lágrimas desciam lindamente pelo extremo de sua face... ela estava linda...e ele não parava de cantar... agora ele apontava sua mão para ela... dedicava pra ela... um brilho cobria seus olhos e seu coração pulava do peito... mas ele continuava...
Quem ama não esquece quem ama
O amor é assim
Eu tenho esquecido de mim
Mas dela eu nunca me esqueço
Por ela esse amor infinito
O amor mais bonito
É assim nosso amor sem limite
O maior e mais forte que existe
Ela pediu ajuda a seus amigos... e eles a levantaram. José foi de encontro a ela e a puxou para cima e ela de frente a ele, olhares amarrados, de mãos dadas. Lágrimas mutuas, sentimentos a tona, amor sem limites... e quando a música terminou... bem, ela nunca mais terminou... o amor dos dois superou tudo... até mesmo um equívoco. Eles se beijaram em frente à todos, um simples e mágico beijo de amor.
Quanto a Janete, bem ela vai sempre ao prédio de Helena, isso por causa de seu namorado que é porteiro de lá. As duas também viraram amigas após a brilhante idéia de Helena que procurou Janete e esclareceu todo mal entendido e juntas elabolararam este maravilhoso plano para que José e Marta reatassem seu casamento e tivessem a sua festa de bodas. O grupo músical, bem, este encontrou um novo vocalista, e se tornou o grupo Amor sem Limites.
E assim termina esta história de um amor que não tem fim.