REMINISCÊNCIAS NATALINAS *

Na sala de espera do consultório, uma árvore de natal encantadora, adornada com lâmpadas multicoloridas , sincronizadas, piscando qual pirilampos nas noites de minha infância, musicada com suaves cantigas de roda...

“Olha o pinheiro, coloque ali naquele canto, crianças, vamos enfeitá-lo" - gritos distantes de minha mãe em minhas saudades, menino irriquieto, maravilhado naquelas fantasias.

Trocava cartões de lindas e ternas figuras , imagens do bom velhinho, rechonchudo na roupa vermelha, cercado por suas renas no trenó repleto de pacotes coloridos. Primeiras palavras escritas pelo amor criança, puro, curioso, imaginativo para sua musa.

As lojas da pequena cidade se travestiam em decorações natalinas, com seus sons e enfeites, criando um cenário inesquecível.

Mês encantado, adornado em alegorias, musical, sublime, quase todo em festa, embora no clima tropical não houvesse neve, logo os galhos apresentavam a representação no alvo algodão. Embaixo do pinheiro, um improvisado presépio, Maria, José e o Bebê amado cercado por animais e os três reis magos. No cimo, o ponteio, uma estrela, leves coloridas bolas orquestravam o cenário inesquecível. Tempo que rescendia aromas no ar, festividades no comércio, alegrias e emoções. Em frente às casas, motivos natalinos, em cores e músicas, luzinhas pisca-pisca. Até mesmo existia a cortesia de um “feliz natal” nas saudações.

No quintal a jabuticabeira se enchia com suas bolotas pretas, doces, redondas e a parreira de uvas em cachos verdes e lilazes, a mangueira se apresentava com seus frutos, mangas espadas e rosas, convidativas e saborosas. Tudo parecia conspirar para a luz que irradiava daqueles dezembros distantes, queridos e saudosos.

Como um canção a entoar:

eflúvios

natalinos

acendem

alentos

encantos

magias

árvores

enfeites

deleites

presentes

alegrias

fantasias

mundo

irmão

civilizado

igualdade

fraternidade

amor

reluz

penitentes

regenerados

abençoados

felizes

anistiados ...

E nós, meninos e meninas, com nossas canecas de espumas aprontávamos nossas artes, em versos que tentei recobrar com os anos:

atentos aos olhos meninos

no ar espalhavam as bolhas

encantos em diáfanas cores

dezenas e centenas por vez

risonhas atração de pedestres

enxames multicores à luz do sol

bolinhas soltas em zigues zagues

mentes em rodopios distantes

viagens em mágicas vertigens

pequenos canudos

borbulhas de sabão

risadas brincadeiras

ranzinzas apressados

maldiziam dos garotos

queixando-se irritados

mas quem parava e sorria

embalava-se nas fantasias

adultos crianças e alegrias...

Interrompido em meus devaneios, aparentando sonolência, quando fui avisado, gentilmente, pela secretária que a minha vez de ser atendido havia chegado.

*Selecionado para figurar na coletânea "Os mais belos textos de natal", editora CBJE, Rio de Janeiro/RJ, edição dezembro/2010