O pecado.

Porque erámos só eu e ele entre quatro paredes.

Rosa. 32 anos. Bancária. Casada.

&

Thiago. 31 anos. Advogado. Casado.

Errado. E não havia mais nenhum termo que pudesse definir àquilo. Talvez repugnante também pudesse se encaixar.

A faixada monótona e vazia do casamente nos transformara naquilo, dois adultéros.

No começo, tudo era bom, casamento. Aliás, sempre que começamos algo novo ele parece ser bom, parece ser algo inusitado e fantástico. Mas os dias passam. As horas passam. O relógio tiquetaqueia, informando cada segundo que vai fazendo as coisas se complicarem, nos afastarmos cada vez mais. O amor foi indo embora de carona com o tempo.

E ali estava eu, Rosa Leslie, entre quatro paredes, com o melhor amigo do meu marido.

Tudo começara de um jeito surpreendente. Algo tranquilo, suave. Thiago tinha vindo até aqui para nos visitar. Mas eu estava sozinha. Olhares. Respirações. Batimentos cardíacos. Um beijo. Um remorso. Carícias. Mais remorso. Sexo.E Mais remorso.

Mas não estaríamos ali, se não precissásemos daquilo. O cotidiano vinha torturando nossas vidas, tornando-as algo tão entediante e rídiculo, que nada mais importava, muito menos dois casamentos toscos.

E quando o amor verdadeiro surge, mesmo que de um pecado, ele prevalece.

E ali estava nós dois, entre quatro paredes.

Ele me lançou um daqueles sorrisos irresistiveis habituais, capazes de deixar qualquer uma tonta.

Proibido.

Os 40 cm de distância entre nossas bocas, meus olhos analisando com cuidado as linhas bem desenhadas, seus lábios.

Tentador.

Os olhos dele tinham um brilho acolhedor, e as duas bolinhas que dançavam no fundo azul, refletiam o meu rosto sóbrio e tediante, mas que exibia um sorriso de satisfação naquele momento.

Errado.

Nossos corpos já estavam colados, sua gravata jogada na poltrona em que antes eu descansava com alguém, alguém que já não importava. E os centímetros diminuiam, se transformavam em milimetros, milimetros que eram ínvisiveis. E o beijo traidor, era quase infantil. Fechei os olhos lentamente. Duas bocas apenas se tocando, dois lábios apenas se chocando. Ele mordiscou o meu lábio inferior, fazendo com que a minha boca se abrisse involuntariamente, aproveitando o momento de fraqueza para penetrar a língua ali.

Medo.

O medo de sermos pegos no ato deplorável era imenso, mas o desejo era maior. Nossas línguas exploravam cada extremidade da boca de ambos, e uma de suas mãos percorriam a minha coxa sem pudor. Agarrei-me a sua nuca, suavemente, e ele acariciou meus cabelos com a mão esquerda.

Casamento? Argh... A prova de amor entre dois indevidos, devia trazer felicidade. Mas para ambos, só o que trazia era uma vida monótona e sem-graça, sem alegria, sem felicidade.

Mas com ele era diferente. Com ele eu sempre me surpreendia, ele sempre me fazia sorrir, sempre me fazia ficar hipnotizada. Diferente de qualquer um. Patético. Casada. 32 anos. E apaixonada, feito uma adolescente.

Mas o amor não informa a data e nem a hora que vai aparecer, e muito menos, se a coisa que o trará será o matrimônio ou...

O pecado.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 21/12/2010
Código do texto: T2683283
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