Apenas amigos?

Respirei fundo.

Nós estávamos frente a frente. O meu reflexo era o destaque principal que fulgia daquela bolinha brilhante. Dois pontos pretos nadando tranquilamente em um resplandecente oceano verde. Analisando a minha pele pálida e todas as suas mínimas imperfeições. As estrelas pairavam sobre nossas cabeças, minúsculos e luminosos pontinhos no céu, que vieram nos confrontar como velhas amigas, proporcionando que aquele céu fosse o mais belo, em eras. O cheiro, era de damas da noite, que se espalhava como um gás tóxico em todas as extremidades daquele jardim, só que de uma forma inteiramente agradável. E a têxtura da grama molhada sob os meus pés, sob os nossos pés. Você deu aquele seu típico meio-sorriso que só conseguia se enquadrar dentro do seu rosto, seu maxilar irregular, seus lábios esculpidos na medida certa. Estar diante daquele sorriso, era como esquecer quem eu era, era eliminar toda a tensão e a incerteza que até então estavam perturbando aquele local. E então como se um nós dois fossemos, ímãs, nossos corpos começaram a ficar ligeiramente mais próximos. Sua mão esquerda, grossa e de pele macia, acariciou as costas da minha própria. Intenso. Era o termo para descrever o toque de suas mãos que brincavam nas minhas. E era como se fossemos amigos, apenas amigos. Nós eramos, tirando a tensão romântica.

Apenas amigos?

A brisa era fria e estava congelando cada mínima extremidade do meu corpo, mas seu corpo parecia emanar uma auréa, que era quente como uma chama. Aquele calor me atraía para mais perto, num gesto automatico.

E então ele sussurrou alguma coisa, mas a proximidade era tão enloquecedora que era praticamente impossível distinguir o que eram suas palavras, eu só sabia que eram belas, eram tranquilizadoras, queriam exterminar minhas inseguranças. O ar vibrava até chegar nos meus ouvidos, e sua respiração estava tão próxima de minha nuca que cheguei a sentir arrepios por todo o meu pescoço.

E estava tocando a nossa melodia favorita. Não era a música mais bela. Nem a mais bonita. Mas era a nossa.

Nos encaramos, profundamente, como se pudessemos desvendar as almas, decifrar todos os medos mais infantis e óbvios.

E se eu deixasse tudo ir acontecendo aos poucos, como o natural? As peças de um quebra-cabeça se puxando para encaixarem-se perfeitamente.

Era impossível imaginar como nossas bocas se encaixariam perfeitamente, como se tivessem sido arquitetadas uma para a outra.

Ele segurou a minha nuca, com sua mão quente, desgrudando os cabelos de sua superfície, e me trazendo para mais perto.

E aquele momento era tão necessário, tão inevitável, que não poderia achar que era errado.

E nossos lábios estavam a centímetros. Eu quase conseguia escutar o meu próprio coração, saltitando, dando pulos frenéticos e desesperadores.

Um molde perfeito se formou entre nossas bocas. Um beijo amigo. Um beijo quase infantil. Ele mordiscou meu lábio inferior, fazendo-me abrir a boca. Explorou minha boca com sua língua.

E aí eu consegui ver, que jamais seríamos apenas amigos.

Eu o amava.

Sempre amei.

E sempre amaria.

E isso era somente o óbvio.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 20/12/2010
Código do texto: T2681447
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