O Encontro
- Azul, xadrez, vermelha... ainda não sei! - Jonas tentava decidir qual camisa deveria usar. - Já sei, vou vestir a vermelha. Aquela reportagem que vi na tv outro dia dizia que por alguma razão, a cor vermelha exerce maior influência sobre as mulheres. Ah se eu soubesse disso antes!
Este era um dia especial, depois de tanto tempo, finalmente teria um encontro a sós com Rosa. Esse encontro foi premeditado por muito tempo, tudo deveria ser perfeito, inclusive a cor da camisa.
- Agora o perfume! Gastei um salário inteiro neles, mas vai valer a pena. Vejamos, Hugo Boss, Ferrari Black... Acho melhor não arriscar, eu sei que ela adora o Animale, será este mesmo!
Arrumou o cabelo e alinhou a roupa. Olhava-se no espelho e gostou do que viu, sentia-se pronto para a noite que viria, cada detalhe seria essencial. Estava pronto, bonito e perfumado, pronto para sair, mas foi detido ao olhar para o relógio. Ainda faltavam duas horas, mas tanto era sua ansiedade que decidiu arrumar-se antecipadamente, para evitar contratempos.
Do outro lado da cidade estava Rosa, preparando-se com a mesma avidez para o tal encontro. Sentia-se como em um “dia da noiva”, com direito até a massagem relaxante. Ela estava tão deslumbrada quanto Jonas, arrumou-se com muito esmero e cuidado, queria estar linda, linda como nunca antes. Para Rosa, esse encontro significava muito, ambos pareciam querer isso por muito tempo, no entanto as mazelas e contratempos da vida moderna sempre atrasaram esse encontro. Mas hoje era o dia, finalmente estariam juntos, era tudo o que precisavam.
Horas depois, Jonas foi até o local que previamente combinara com Rosa. Apanhou-a em seu velho fusca 77, que neste dia estava limpo, perfumado e alinhado assim como o dono, e não fazia feio diante dos outros carros do ano que passavam na rua a todo instante.
Os olhos de Jonas brilharam ao pousar o olhar sobre Rosa. “Nossa... nunca a vi tão linda!”, Jonas sussurrava para si mesmo. Sim, ela estava linda, ele tinha toda razão para ficar hipnotizado. Ela usava uma maquiagem leve, que realçava sua beleza natural, deixou os cabelos mais naturais, que os faziam encaracolar, sabia que seu admirador adorava assim. Seu vestido com motivos florais transformavam seu rosto na flor mais bela do jardim desenhado sobre seu corpo. E que perfume maravilhoso Rosa exalava, seu nome nunca refletira tão bem seu significado, Rosa era a rosa mais linda e mais perfumada. Jonas não conseguia esconder seu vislumbre, era impossível, parecia uma estátua.
Rosa sentiu-se grandemente atraída por Jonas assim que o viu. Parece que o negócio da roupa vermelha realmente funcionava. Mas era muito mais que isso, nunca vira Jonas tão charmoso, e ainda usava o perfume que ela mais adorava, “Ele usou esse perfume de propósito...”, pensou Rosa. Os sapatos refletiam os últimos raios de sol do dia, estavam muito bem engraxados.
Jonas havia preparado muito bem este dia, queria estabelecer um clima de romance entre eles. Ele sabia que Rosa era romântica e que ficaria muito mais “maleável” se conseguisse fazer desse encontro algo bem romântico. Primeiramente, ele a levaria até uma bela praça na cidade, para conversarem um pouco, num lugar tranqüilo e tomar sorvete. Isso criaria uma atmosfera deliciosamente romântica, pelo menos era o que ele esperava. Depois, a levaria para assistir um filme no cinema, e de romance claro! Isso a deixaria mais sentimental, para então concluir a noite com um belo jantar em um restaurante cinco estrelas. Mas isso não era tudo, Jonas tinha uma surpresa, depois de toda essa carga romântica, o próximo destino seria sua casa, onde fecharia sua noite com chave de ouro.
Enquanto estavam na praça, conversando alegremente e observando os pequenos animais, Jonas ofereceu-se para buscar o sorvete. Rosa aguardou calmamente em um dos bancos enquanto Jonas voltava com duas casquinhas, cada qual com bolas generosas de sorvete. Ao chegar diante de Rosa para entregar-lhe o sorvete, Jonas atrapalhou-se, e deixou uma das casquinhas cair em sua calça, fazendo uma grande sujeira! “Mas que burrada!”, pensou ele diante da mais inusitada e mais indesejada situação de toda sua vida, e logo com ela! Rosa olhou com expressão de assustada, pensou que seu maravilhoso encontro terminaria ali, pois achava que Jonas nunca iria se recuperar do constrangimento. Jonas pediu que Rosa aguardasse um momento, e dirigiu-se até o banheiro. Limpou-se do jeito que deu, apesar de parecer que tinha urinado em toda a calça, estava bem melhor do que cheia de sorvete de creme. Jonas comprou uma nova casquinha e voltou para Rosa. Ela ainda estava sem graça, já não sentia-se mais a vontade, no entanto, Jonas voltou e continuou a conversar como se nada tivesse acontecido, encarando o evento com muita naturalidade, fazendo-a sentir-se confortável em sua presença novamente. Tal fato fez com que Rosa admirasse ainda mais Jonas, talvez algum outro homem não conseguisse se recompor diante de um contratempo como esses, mas não Jonas, o mundo poderia cair, ele não deixaria nada estragar esse momento.
Após o agradável fim de tarde, dirigiram-se para o cinema. Pareciam dois adolescentes diante de tantos jovens que estavam ali. Mas não se sentiram deslocados, afinal, estavam muito mais preocupados em estar um do lado do outro no escurinho do cinema. Tão logo a sessão iniciou, Jonas investiu em um carinho na mão de Rosa, que estava disponível no braço do assento, parecia de propósito. Ora, era claro que Rosa deixara sua mão de propósito, ela queria tanto quanto ele. Jonas acariciou a mão de Rosa durante toda a sessão, que por sua vez mal prestara atenção no filme, preocupava-se mais sentir a pele de Jonas sobre a sua. Em alguns momentos, ambos se entreolharam e sorriram, não houve disposição para sentir timidez e recolher a mão, estavam muito bem assim.
A sessão terminara, e o plano de Jonas estava indo bem, a sessão enalteceu ainda mais a atmosfera de amor e romance que pairava no ar, tanto que ambos saíram de mãos dadas, se misturavam aos outros casais que também saiam do cinema trocando carinhos e beijos. Não muito longe do cinema, Jonas conduziu Rosa ao restaurante. Ao invés de sentarem-se frente a frente, ele fez questão de sentar ao lado dela, poderia assim tocar sua mão mais vezes. Continuaram a agradável conversa, riam, sorriam, trocavam olhares “diferentes” e brilhantes. Tocavam um ao outro a todo instante, como se trocassem carícias, mas fazendo parecer que era sem querer. E o que importa? Ambos adoravam o toque das mãos, o toque no rosto, no braço. Logo estavam com as cadeiras coladas uma na outra, tudo ia maravilhosamente bem. A música embalava ainda mais os sentimentos já exacerbados de ambos e Jonas sentira que estavam no ápice do romantismo daquela noite. Um telefone celular tocou, era o de Jonas, era apenas uma mensagem que dizia: “Aqui está tudo pronto! Pode vir!”.
- Tudo bem? – Perguntou Rosa, pensando ser algo importante.
- Tudo bem, isto não é nada. Aliás, esqueci de desligar, nada é mais importante pra mim hoje.
Rosa mal se conteve diante da declaração. Jonas desligou o celular, e após mais alguns instantes, fez o fatídico convite, para que ambos fossem para casa, continuar a curtir a noite. Rosa sorriu, lindamente sorriu, isso com certeza era um sim! Jonas havia planejado muito bem, era impossível que ela resistisse a esse convite, principalmente porque finalmente ele aproximou-se mais e beijou-a. E não fez questão que fosse um beijo curto, mas foi longo, ambos transportados para outro mundo, e de lá não queriam sair.
Tão logo o apaixonado beijo terminou, apressaram-se em deixar o restaurante. Jonas com um pouco mais de pressa dirigiu seu fusca 77. A surpresa estava pronta, sua casa estava preparada para receber sua bela flor. Ele conduziu-a como uma dama, a noite fora inesquecível e ainda prometia mais. Enquanto dirigiam-se para porta de entrada, com tom malicioso ele disse:
- Tenho uma surpresa para você.
- Hum... estou curiosa!
- Hoje foi uma noite realmente inesquecível e quero te agradecer por isso.
- Não há o que agradecer, foi maravilhoso para mim também. Você fez dessa noite a melhor noite que já tive.
- Obrigado! Fiz tudo pensando em você! Inclusive o que vou te mostrar agora.
Jonas abriu a porta, e Rosa vislumbrou uma belíssima faixa com os dizeres:
“FELIZ BODAS DE OURO. DE SEUS FILHOS, NETOS E BISNETOS!”
Não só isso, mas a casa estava cheia de flores e presentes espalhados em todo canto, e na faixa havia uma foto de cada filho, neto e bisneto. Eram 4 filhos, 10 netos e 12 bisnetos. Sim, estavam comemorando 50 anos de união e finalmente tiveram uma noite só deles, pois não é fácil momentos a sós com uma família tão grande. E esta noite ainda não terminara, continuaria até a manhã seguinte, e não só isso, iria muito mais longe, até onde os seus dias nessa terra durarem, e por que não ainda, além disso, por toda eternidade? Esse amor inspirou filhos, netos e bisnetos e ainda há de inspirar muitas gerações.