Pensar Faz Mal
"Já falei de dedos entrelaçados e de maxilares quadrados. De abraços únicos e de beijos avassaladores. Já falei de olhares de ternura e de olhares de devassidão. Já falei de lágrimas e de silêncios. Já falei de sentimentos e de coitos promíscuos. Creio eu que tudo já foi dito. E que tudo que eu posso falar soará inferior ao que vivo no momento. Eu ficar sem verbalizar diante de você não significa que eu não tenho nada pra falar. Significa que a efervescência que a simples e mansa contemplação do seu maxilar quadrado e dessas expressivas e radiantes dupla de esmeraldas - enquanto nos abraçamos nesta praça e cedemos ao encanto mútuo dos nossos lábios e depois caminhamos de mãos dadas nesta noite de verão - já é eloqüente por si só. E se eu me resigno a te olhar em silêncio é por que quero que a minha alma diga o que está acontecendo - vai de você compreender e, quiçá, corresponder".
- E então, é recíproco?
- O quê?
- "O quê?" o quê!?
- Você perguntou se é recíproco...
- Eu!?
- Oras, claro hahaha Quer reciprocidade no quê?
- Como assim?
- Quanto rodeio! Fala de uma vez, chatão!
- Não tenho nada pra falar... Acho que pensei alto...
- Tem certeza?
- Não... Mas preciso cristalizar o que estava pensando e quem sabe um dia, falar...
- "Um dia" pode ser tarde demais.
- Isso foi clichê.
- Mas é verdade. O agora é este. O momento é este.
Silêncio. De suas vozes, pelo menos. Os grilos continuavam a cricrilar ao redor, as outras pessoas continuavam emitindo seus barulhos.
- Vou falar.
- Tá.
- Bem, é que...
Tiveram uma noite maravilhosa juntos.