“Precisa-se de um namorado!”

Cansada das grosserias do seu namorado, Fernanda resolveu dar um tempo nesse negócio de relacionamento. Mas depois de um mês sozinha, vivendo para o trabalho e para o filho de três anos, achou que devia se dá outra chance. Afinal o mundo não podia ser cheio de cafajestes assim! Pobrezinha! Quanta ingenuidade!

Imaginem a vida de uma mãe solteira, com um filho pra criar, sem receber pensão alimentícia (outra ladainha que não vale a pena nem discutir), desprezada pelo parceiro e tendo que trabalhar para pagar a creche, alimentação e etc.! História triste! Mas a vida de Fernanda era uma maravilha comparada com o que iria acontecer a partir daquela tarde de um dia de verão.

Foi por causa da idéia de uma de suas amigas que resolveu dar um empurrãozinho na sorte de Fernanda e fizeram uma brincadeira nada convencional. No dia seguinte, pensando em tirar o dia de folga para por o serviço de casa em dia, Fernanda acordou cedo, colocou o filho na creche e depois de planejar tudo, resolveu se dá ao luxo de saborear um gostoso café da manhã lendo o jornal.

A moça de cabelos castanhos não tinha o hábito de prestar atenção em detalhes e foi logo para as páginas de fofoca e notícias do mundo todo. Aliás, jornalzinho pobre! Nada que pudesse aproveitar. Largou-o ali mesmo, em cima da mesinha. Foi até a janela e olhou a Rua das Margaridas onde vivia há alguns meses. Tudo normal! O som do telefone afugentou seus pensamentos.
- Não estou entendendo? O que o senhor quer? Hum! Imbecil! Gritou batendo o telefone na cara do tal sujeito! Mas que abuso! Falou irritada por causa do trote!

Trote nada! O telefone não parava de tocar e cada vez era uma brincadeira diferente. Foi então que ela resolveu desligar o aparelho.
- Que inferno! Deus só podia estar brincando comigo! Falou irritada!
Pobre Fernanda, como se não bastasse os problemas com os pais, a desilusão amorosa e as dificuldades financeiras e agora isso: Um bando de desocupado falando gracinha pra ela por telefone! As lágrimas escorreram pela face. Quando a verdadeira felicidade bateria em sua porta? Pensou desiludida.

Olhou as horas no relógio e se deu conta que estava atrasada para buscar o filho na creche. O dia havia passado tão rápido que ela não teve tempo de fazer tudo o que queria. A vida era assim mesmo uma correria só! Foi então que ela se lembrou que não teve tempo de comer. Quando chegou a sua casa resolveu pedir uma pizza. Já havia feito outros pedidos de lá e sinceramente, a pizza era ótima!

Na pizzaria, a vida também não era nada fácil. Richard fazia de tudo para o negócio dar certo. Nem podia imaginar sua vida sem aquele corre-corre, pedidos e o dinheiro entrando no caixa. Mas justo naquele dia, ele também estava de mal com a vida. Tinha tudo o que pediu a Deus e Deus deu, mas faltava algo e ele sabia o que era.
Debruçado sobre o balcão olha insistentemente para a página do jornal. Quem em sã consciência faria um anuncio desses? Pensou meneando a cabeça. Automaticamente pegou uma caneta e fez um círculo no número do telefone anunciado. Nem ele sabia dizer por que.

Um dos atendentes pediu para sair mais cedo para resolver um problema de família e Ricardo ficou de atender os últimos pedidos. O telefone tocou e uma voz feminina pediu uma pizza. A voz parecia triste, como se quisesse esconder que tinha chorado.
Richard escreveu o pedido da mulher e anotou o endereço para entrega e como era de costume pediu o telefone para contato. Ele riu ao comparar os números. Os empregados estranharam que ele mesmo quisesse fazer a entrega.

Fernanda tomou um banho e colocou o filho para dormir. Queria ficar só e saborear aquela pizza inteira. Dane-se o regime! Pensou em voz alta. Novamente aquele barulho irritante da campainha da porta assustou-a. Ainda quebro essa droga! Falou alto ao abrir a porta.
- Como? Perguntou Richard.
- Não, nada! Desculpe! Falou constrangida com sua falta de modos.

Os dois ficaram parados, se olhando, como se o tempo desse uma pausa por alguns segundo. O coração dele disparou ao ver os lindos olhos verdes de Fernanda. Não podia imaginar uma mulher tão bonita!
- O que quer? Gaguejou a moça.
- Você... Vim pelo anúncio... Sussurrou ele. Quer dizer a pizza. Você pediu? Tentou inutilmente corrigir-se. Fernanda sorriu sem entender direito o que ele estava dizendo.
- Vou pegar o dinheiro, só um instante. Entre!

Richard deu alguns passou para dentro da casa e olhou tudo a sua volta. Era um ambiente bem modesto. Colocou a pacote em cima da mesa e quando recebeu o dinheiro, a ponta de seus dedos tocaram na mão de Fernanda e novamente os dois perderam a fala e ficaram se olhando, como se fossem dois adolescentes.
- Obrigada. Gaguejou a mulher. Richard saiu com um sorriso no rosto. Que anúncio? Perguntou de repente ao se lembrar do início da conversa.
- Ah! Do jornal!

O homem de ombros largos e pele clara voltou alguns passos e encarou o rosto dela. À medida que ela lia o pequeno pedaço de papel que ele tirou do bolso, seu rosto ficava cada vez mais vermelho. Primeiro de vergonha e depois de raiva!
- “Precisa-se de um namorado!” Alto, bonito, trabalhador e que goste de crianças. Não fumante e sem tatuagens. Telefone para contato: xxxx-xxxx” Que idiotice! Eu não fiz isso! Falou alto.
- Você fica mais linda quando está com raiva. Falou com carinho amenizando a situação. Não fica chateada, deixa pra lá. Imaginei que não fosse verdade!
- Não! Choramingou. Isso não se faz com ninguém. Meu dia foi um inferno e eu nem sabia por quê! Ele queria aproximar-se dela e abraçá-la. Mas apenas tocou em seu cabelo.
- Não chora! Deve ter sido brincadeira de alguém. Ela consentiu fazendo uma careta e meneando a cabeça. Droga de vida! Resmungou.

As estrelas do céu esconderam-se entre nuvens densas anunciando a mudança do tempo, um vento forte passou entre eles e Richard resolveu ir embora.
- Eu já vou indo e... Aproveite a pizza antes que esfrie. Feh tentou sorrir. Ele já estava no portão quando resolveu voltar. Já que eu tenho seu telefone p-posso te ligar? Hum!
- Talvez... Respondeu aderindo à brincadeira.

Ele foi embora satisfeito e ela voltou sua atenção para aquela deliciosa pizza em sua da mesa. À medida que saboreava cada pedaço relembrava os últimos acontecimentos. Junto com o sachês de ketchup havia um cartão da pizzaria com o número de um celular. Fernanda sorriu: Deus só pode estar brincando! Disse olhando pra cima. Talvez não!
Marion Vaz
Enviado por Marion Vaz em 14/12/2010
Reeditado em 11/06/2011
Código do texto: T2671477
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