A menina de saia xadrez

Sempre de tarde, quando era um jovem mancebo – e isso já faz muito tempo! – via uma menina passar por mim vestindo uma graciosa saia xadrez.

A moleca, sim porque era uma garotinha que sempre desfilava sorrindo de um jeito de quem iria dar muito trabalho aos pais dali a uns dez ou 15 anos, caminhava – lembro-me bem – com os cabelos negros balançando.

Eram duas tranças artisticamente trabalhadas, que sempre terminavam com laços de fitas coloridas. Ela andava pela calçada, pisando como se o longo passeio público tivesse se transformado em um grande jogo de amarelinha.

Não me pergunte o seu nome.

Não sei.

Não me pergunte onde morava, também não poderei dizer.

Só sei do sorriso largo que ela me dava quando passava saltitando em frente à farmácia onde eu trabalhava.

Um sorriso infantil, com uma charmosa ausência de dois dentinhos frontais. A saia xadrez fazia parte fazia parte do uniforme que ela usava para ir ao colégio, também não sei onde.

Passados tantos anos, pergunto-me:

Onde andará aquela menininha?

Será que casou?

Teve filhos?

Encontrou um grande amor?

Ou será que a vida – sempre ela – a tragou, a levou para as correntezas da desilusão?

Não sei, não sei.

Como posso saber, não é mesmo ?!

O que sei é que eu não sou mais aquele mancebo, hoje sou um velho ancião. Eu sei… eu sei, estou me repetindo, pois ancião quer dizer que sou velho. Mas permita-me intensificar a minha idade. Demonstrar para você, que me lê – e não me vê –, o quanto de peso do tempo tenho acumulado nos ossos…

O tempo passa como se fosse areia a se perder entre os dedos.

Quando jovem, não tinha noção da rapidez e do poder de Cronos: um dia nasci e, sem saber o porquê, me vejo velho, tendo saudade de uma menininha de quem nem sei sequer o nome.

Hoje vejo que meu menino interno, aquele que a vida volta e meia quis matar, queria sair e brincar com aquela menininha, como se fossem dois irmãos, dois primos, dois (quem sabe?) futuros amantes.

Porém, a vida me tragou e o menino que habitava em mim teve que crescer muito rápido, teve que sair, pagar contas, batalhar por um espaço na vida – docemente amarga vida.

Com isso, a menininha ficou sem par.

Hoje, lembro-me daquela garotinha de tranças negras com laços de fitas combinando com a graciosa saia colegial. Faço uma prece para que ela tenha sido feliz.

Carla Giffoni
Enviado por Carla Giffoni em 13/12/2010
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