UM AMOR NASCIDO EM UM COLÉGIO DE INTERNAS

O colégio das irmãs,ou melhor Colégio Sagrado Coração de Jesus veio para aquela cidade no interior das Minas gerais por volta de 1919 com

a ajuda de um Monsenhor pároco e a conivência explicitas dos seus concidadãos.Ali foi erguida esta grande construção que tomava uma boa parte,ou quase a totalidade de um quarteirão.Uma obra prima no verdadeiro sentido da palavra.

O educandário se tornou parte de referência a todos pais das famílias que queriam uma formação mais primorosa, por que não dizer um pouco requintada,à suas filhas as quais mais tarde, segundo as pretensões,as de se tornarem distintas e honradas damas da sociedade e futuras mães de famílias.

Eram filhas de prósperos e abastados fazendeiros e empresários não tão somente da região,mas de homens de negócios que ao advir de outros estados assim com as suas grandes fortunas, colocavam as suas filhas internas no referido estabelecimento de ensino.

Normalistas eram assim rotuladas as moçoilas que terminavam os cursos em questão,uma vez que na época,me parece existiam somente estes cursos normais.Haviam também o científico que davam uma boa base para quem iria se aventurar a outros caminhos de cursos superiores

O colégio ora citado,ficava ao lado de uma arborizada praça a qual recebia nas domingueiras as alunas internas deste famoso colégio de freiras Sagrado Coração de Jesus com os seus tradicionais uniformes Marinheiro.Azuis escuros,meias soquetes brancas,boinas também em azuis escuros e a famosa gola marinheiro caindo pelos ombros que lhes davam um charme inigualável.

Ali se encontravam uma boa parcela representativa da aristocracia mineira.Não somente mineira como também da vários estados da nação que ali mostrava todo o seu poderio monetário,vez que,somente as filhas de papai,como eram tidas na época,tinham o poder de estar internas naquele covil das educabilidades. Na época,alem da formação acadêmica,os pais se sentiam mais seguros ao verem as sua rebentas enclausuradas e entregues aos cuidados das famosas irmãs que obedeciam a pé da letras as ordens dos pais das recatadas donzelas prezas nas masmorras do ensino.

Em um destes belos momentos de lazer dominical, onde as belas internas saboreavam algumas horas de não clausura, vagando e enfeitando os floridos jardins da praça,heis que um jovem de nome Fernando,moço de fino trato e requintado e de boa índole,pousaram os seus olhos sobre aquela formosa e bela morena de olhos de amêndoas,franjas curtas a deslizar sobre uma testa alva e macia, e o restante dos cabelos contornando o seu rosto oval em cortes de franjas.

Ficou estático diante a tanta beleza.Parecia sonhar não fosse acordado por uma indagação que vinha da própria moça em questão:

- Você pertence aquela banda a qual vimos tocar na praça a semana passada?!

Ainda absorto em seus pensamentos,vagou mais um pouco não acreditando naquela voz melodiosa que advinha daquela bela musa que ora lhe tocava a alma.

- Sou,como sabe?! Arguiu o intrigante Fernando!

- Fomos a um Show de vocês a semana passada naquele anfiteatro da praça.A banda da qual a moça se referia era pertencente a Fernando e era de gande renome na região,uma vez que tocavam em várias emissoras televisivas do estado alegrando os bailes da vida da época.

Deste encontro e de vários subsequentes, nasceram não somente uma amizade que se estendeu para interior do colégio e que foi de conhecimento entre as irmãs como também a madre superiora.Fernando era um rapaz bem quisto,educado nos moldes tradicionais da família mineira, porem não muito abastado monetariamente falando.

Em um desses dias de encontro Fernando sugeriu a madre superiora que gostaria muito,juntamente com os seus amigos de banda,o desejo de algum dia tocar em uma das missas domingueiras.Expôs de como seria feito todos os trâmites deste acontecimento o qual todas as irmãs de pronto aceitaram esta ideia que hibernavam nos desejos de Fernando.

Marcado e arquitetado esta rara aparição de uma banda em uma missa,realizou-se então a tão esperada e decantada missa executada por uma banda de rock,o que alias,foi a primeira banda no Brasil a tocar em uma igreja católica.Depois do feito vieram várias bandas por este Brasil afora,inclusive Brazillians Bytles do Rio de Janeiro.Foi a maior comoção o evento, não somente de Fernando,como também de todos os católicos que ocupavam aquela nave de orações.

Algumas pessoas se debulhavam em lágrimas,inclusive algumas das internas e por que não dizer a musa de Fernando Maria Cristina.

Após a missa o pessoal da banda de Fernando foi convidado a se dirigir até o refeitório do colégio para costumeiro café após as missa dominical.O diferencial é que pela vez primeira cinco homens sentavam a mesa de um refeitório de um colégio de freiras internas.O boato se espalhou pela cidade inteira.Uns incrédulo,outros nem tanto, aceitavam de bom grado o ocorrido.

Deste café matinal,onde Fernando sentou-se ao lado de sua musa Maria Cristina,nasceu algo mais que simplesmente uma amizade. O que já havia anteriormente como algo mais forte,em um repente tocou aqueles dois corações sedentos de uma emoção maior.Fernando ao sair do colégio foi assessorado por Maria Cristina ate a porta de saída.Dois olhares se cruzaram e ali estaria consumado e tatuados as reais intenções entre os dois.Fernando lhe tocou o rosto com um suave beijo em suas pálpebras sentindo assim a vibração de seu coração descompassado com os dela.Selado assim o inicio de uma história, que se escritos o fossem, se transformaria em um dos grandes Best Sellers de um romantismo que mais tarde se transformaria no impossível.

Outros encontros se sucederam outros shows aconteceram e os outonos se passaram .Fernando fazia visitas periódicas no colégio devido o seu relacionamento com as irmãs.Tinha livre acesso naquela casa de ensino.

Aos domingos tocavam nas missas e os cafés se processavam por longos períodos até que os bons ou maus ventos, levarem a boa nova aos pais de Maria Cristina que residia a quatrocentos quilômetros daquela cidade.Foi o bastante para que os pais de Maria Cristiana se deslocassem da referida cidade e logicamente ate ao colégio para repreender as irmãs e principalmente a madre superiora:

-Como pode?! Quando imaginávamos que nossas filhas estariam simplesmente resguardadas dentro de um colégio de internas heis que surgem estes absurdos de rapazes frequentando e namorando nossas filhas? E alem do mais Madre,ela esta comprometida com o filho de José Caetano,o deputado que a senhora bem o conhece!

Madre superiora não sabia o que responder aos pais de Maria Cristina.Limitou a dizer que o problema não haveria de se repetir.E após mil desculpas ficou explicito a proibição do namoro de ambos e que também Maria Cristina estaria proibida de sair nos dias de lazer das meninas fora do colégio para que a própria não se encontrasse com Fernando.

Fernando e sua Banda prosseguiram a tocar nas missas das dez horas domingueiras,o que não poderia ser diferente, uma vez que as pessoas não tinham nada a haver com o ocorrido.Os costumeiros encontro entre os dois se findaram uma vez por todas naquele momento em que Fernando visualizava o seu horizonte um tanto negro.Um belo dia a companhia da casa de Fernando tocara.O próprio vai atende-la quando o seu coração e abalroado,sacudido pela maior surpresa de sua vida.Era Maria Cristina solidificada e concretizada à sua frente.Assim que a porta é aberta de pronto ela pula sobre o seus braços e o beija demoradamente. Refeito os sustos e as emoções,Fernando lhe pergunta o que estaria acontecendo quando ela lhe responde,ainda em seus braços,que devido a saudades,através de uma amiga,fugiu pela porta do teatro do colégio para lhe encontrar e matar a suas saudades.

Fernando lhe ponderou que seria muito arriscado esta façanha, uma vez que,diante do ocorrido com os seus pais em relação as freiras do colégio, seria nefasto até para a reputação do colégio caso seus pais assim o descobrissem.Assim depois de um longo período separados mataram às suas saudades.Como tudo nesta vida não são flores,

dito e feito,os pais de Maria Cristina descobrira,não se sabe como, que ambos se encontravam as escondidas.As piores consequências se realizaram.Os pais de Cristina vieram e a levaram-na para a sua cidade natal.

Passado alguns meses Fernando recebiam várias cartas de Maria Cristina escritas as escondidas em seu quarto.Em outras tantas vezes Fernando ia ate a sua cidade e as escondidas, através de suas amigas, se furtavam aos encontros cheios de emoções regadas a pitadas de medo.

Em um deste encontros em sua cidade natal,o irmão de Maria Cristina,já um tanto quanto desconfiado, seguiu-a e pegou-os como se dizia antigamente,com a boca na botija.Os pais de Maria prendeu-a dentro de seu quarto para somente receber as amigas mais intimas e primas confiantes da família.

Se passara alguns meses, já com as cartas mais esporádicas, pois quase não havia maneiras das cartas chegarem ate Fernando devido a rígida fiscalização feita pelos pais de Maria.Fernando, por sua vez,apesar de amar incontestavelmente Maria,um dia após refletir muito resolveu colocar em pratica os seus pensamentos aquela situação constrangedora.Rapaz bem criado passando por uma situação constrangedora e humilhante,resolveu acabar de vez com toda aquela situação desagradável.Uma vez que era degradante e humilhante a sua situação modesta perante à família de Maria,Cristina e ainda como o agravante de servir de chacota aos seus familiares.O desnível social de ambos eram deveras incompatível,apesar de ele ter em conta que, riqueza não se mede pelo poder econômico e sim pelo que o ser humano representa diante de seu semelhante na sua formação.

Passaram-se alguns anos Fernando foi para outro estado trabalhar com um tio.A finalidade principal a de esquecer,ou pelos menos apagar de sua memória,uma história de vivências amorosas,mesmo pelos percalços, durou seis belos enriquecidos anos de puro amor e sofrimentos.Após alguns meses nesta Capital,Fernando depois de seu labor diário com o seu tio,é surpreendido pela sua tia com uma carta em mãos:

-Fernando chegou hoje para você!

Fernando assim que de posse da carta,logo viu pelo desenhar dos grafados ali contidos,que se tratava de um carta de Maria Cristina.Rasgou logo o envelope e rapidamente começou a devorá-la como os olhos.Entre tantas coisas românticas, ela o convidara ou convocara, que a fosse visita-la, pois a mesma se encontrava em uma cidade bem próxima da sua vindo a ser hospede de uma tia sua.

Fernando contou o ocorrido aos seus tios.Sabedores de sua história e do porque Fernando se encontrava ali,aconselhou-o que fosse de encontro a garota que somente assim poderiam resolver de vez a questão.

Fernando arrumou as malas.Bem cedo,no amanhecer do dia,partiu para o tão sonhado encontro.Naquele noite Fernando não conseguiu dormir pensando de como seria o encontro depois de alguns anos.

Fernando chegou bem cedo a cidade vizinha e depois de passar o endereço de Maria ao taxista, logo logo deparou-se com a casa do referido endereço.Fernando desceu com as pernas tremulas caminhou por entre os corredores dos jardins daquela mansão.Naquele momento parecia ate então nunca chegar a porta de entrada.Bateu à porta e logo foi recebido por uma governanta.Após as devidas apresentações a governanta lhe dissera que a aguardasse que Maria Cristina estava ansiosa pela sua chegada.Maria havia passado as instruções a governanta sobre a chegada de Fernando.

Maria Cristina logo foi acordada pela sua tia lhe dizendo:

-Adivinha quem chegou minha filha?!

Maria de um só pulo pôs-se de pé e de camisola desceu aquelas escarias em mármores grafitados correndo sob uma turba de emoções chegando rapidamente a sala onde Fernando se encontrava.Correu ate o seus braços, entrelaçou-lhe o pescoço e entre laços e abraços se perderam pelas batidas descompassadas que lhes arrebatavam em suas emoções.Ali estavam dois seres separados pelas desigualdades de classes porem unidos pela imensidão de um amor sem comparativos.Ficaram por alguns segundo fitando um nos olhos do outro sem dizer um só palavra.O silêncio bradava alto o badalar nas suas entranhas.Por fim Maria Cristina suavemente passando-lhe as mãos pelo seu rosto que se pronuncia:

-Fernando quanto saudades.Pensei nunca mais revê-lo mas as saudades e a paixão sempre falaram mais alto do que a razão.

Fernando por sua vez não pronunciava uma palavra se quer.Permanecia introspectivo fitando aquela beleza celestial.Não eram sonhos mas sim uma realidade incontesta e desejável,ou talvez quem sabe indesejável?! Absorto em seu pensar quando voltou em se por aquela voz que sussurrante que por longos e longos anos a ouvira como uma brisa a tocar-lha a alma.Com um voz um tanto quanto embargada ela lhe conta o motivo de estar ali;

-Fernando este poderá ser o nosso ultimo encontro ou talvez não!Tudo dependera certamente de você.Já se passaram alguns anos de nossos desencontros em detrimentos de meus pais.Nesse período permaneci em plena solidão sem a sua presença,no que me foi muito difícil.Nestes meados meus pais conseguiram a presença de José Caetano, o deputado que tantas vezes você ouviu o meu pai falar,e com ele trouxe o seu filho Roberto que também você conhece toda a história.Devido o relacionamento de nossas família,e por estar tão só e com o esforço de ambas as famílias nós começamos a namorar durante estes anos ate a realização dos nossos noivado no mês passado.O motivo maior de minha vinda ate você,apos vários anos foi proposital.Sempre eu o amei e nunca deixaria de ama-lo.A minha expectativa é que uma palavra sua será o bastante para eu possa jogar por terra todo este noivado.Basta somente você dizer que ainda me quer.Daqui, neste momento onde nós nos encontramos, eu não voltarei e ficarei com você para o todo sempre.Minha tia já me apoiou nesta minha decisão.

As pernas de Fernando, se não estivessem sentado, já não as teria obedecidas aos seu comando e teria caído por aquele tapete que ora cobria aquela sala enorme.Um calafrio cortante lhe correu pelas entranhas ate os pés.O momento lhe pareceu uma eternidade quando Fernando em seus pensamentos voltara aos momentos de humilhação por parte da família de Maria Cristina.Não somente por este detalhe mas de uma certa forma, não pudessem ser adaptadas nos seus padrões de vida.Bastassem ver aquela mansão onde ela se encontrava naquele momento, os quais eram os mesmos padrões das famílias em questão.Seus pais eram abastados fazendeiros naquela região,se não o maior criador de gado.Tinham um relacionamento muito restrito como os políticos da Capital,haja visto que fora prefeito pela sua cidade duas vezes.Como poderia oferecer alguma coisa aquela menina tão meiga e pura?! Nesta momento a razão falou mais alto do que a paixão no peito de Fernando:

-Maria Cristina amo-a como nunca amei alguém com tanta resignação e paixão em toda a minha vida.Passei por todos estes anos buscando uma forma de esquece-la.Na realidade gostaria de passar os restos de meus dias envelhecendo junto a você.Construindo uma verdadeira família ao seu lado.A realidade é gritante e faz-me ver e pensar com os pés no chão.A vida não é vivida somente de sonhos mas sim de realidades.A minha realidade agora é a de não poder ser vivida em um amanhã de sonhos.O mundo desabará sobre nós quando seus pais souberem do ocorrido.Não tenho o mínimo de receio quanto a isto,mas serei caçado como uma lebre pelas dignidades da moral inconcebível de uma família manchada em sua estirpe diante da minha insignificância perante a eles.Uma família tradicional como a sua não absorvera tamanha afronta.Tenho a plena convicção que você será colocada a deriva em seu meio familiar.Portanto é com o coração sangrando,pois a amo demasiadamente,que lhe digo para que você siga o seu destino e os desígnios os quais à sua família lhes impuseram.Procurarei dentro de meu possível e impossível cobrir nossos momentos com as realidades de nossas impossibilidades do não convivermos juntos.

Maria Cristina levantou-se em prantos,abraçou Fernando com muito ímpeto,comprimindo o seu corpo junto ao corpo de Fernando.O mesmo pegou-lhe a face por entre a suas mãos trêmulas e lhe beijou com nunca lhe havia beijado.Passou de leve seus dedos trêmulos por aquelas lágrimas a escorregar pela face,enquanto as mesmas lhes escorriam como cascatas pelas suas.Segurou lhes as mãos e em um gesto desesperador lhe disse com toda a dor que lhe vinha da alma:

-Me perdoe pela sinceridade meu amor mas não podemos esconder à esta realidade tão gritante.Apertou-lhes as mãos mais uma vez.Pegou seu rosto com suavidade e deu lhe o seu último beijo de uma eterna despedida.

Virou-se, pois não queria que ela lhe vissem as lágrimas a lhe percorrer a faces.Saiu por aquela enorme que a princípio lhe abriu para um dos maiores desejos,que era a de vê-la.Porta esta a qual lhe parecia tão enorme mas que no momento parecia não caber tanta tristeza contida no peito.Uma realidade que acabava de lhe bater a abater um sonho irrealizável a ambos.

Andou mais alguns quarteirões a pé,meio cambaleante,coração pulsante,desesperado constrangido pelo que acabara de fazer.Porem tinha plena convicção da sensatez de um homem que reconhecia os seus limites e o seu habitat.Mesmo diante de um grandíssimo amor que na sua total realidade não caberia ali.

Pegou um táxi logo que se afastou daquela mansão e partiu ate a rodoviária.Seu ônibus partiu deixando para traz uma história cheias de verdades e emoções vividas por longos e vivenciados anos de amores e paixões fundamentadas por uma desigualdade social.

Já se passaram vários verões e primaveras,uma eternidade,quase trinta anos.Mas a chaga ainda continuam exacerbadamente aberta nas memórias de Fernando.