Um Pequeno Conto de Desamor - Ato I

Era uma vez...

Como o garoto havia sonhado com isto, sua própria historia começando com “Era uma vez...”, sempre sonhava com a mesma garota, uma amiga que fez na infância, e era ela sempre a princesinha dos contos de fadas que ele sonhava.

Passou anos a sonhar com ela, dia após dia, os dois juntos, num futuro distante, se amando, ele imaginava cada detalhe de seu rosto, cada um de seus olhares que ele se acostumara a ver, como amigo, sua maior fraqueza era justamente a amizade, pois ele muito a amava, e não conseguia pensar em viver longe dela, o cargo de amigo não era o que ele pleiteava, mas, era melhor do que nada, e como este nada o incomodava, nunca confessou a ela seus sentimentos por isto, rolava por horas na cama a chorar, mas temia muito mais perdê-la do que continuar a ser só um reles amigo.

Os anos foram passando, e ele já estava as portas de saída do Colegial, sua vida era a mesma, um dia depois do outro, sonhar com a imagem dela. Vangloriava-se de tê-la visto crescer, aprender a patinar, fora ele que ensinara, e ele adorava lembra de quando a puxava de mãos dadas, eles ficavam por horas, o frio fazia com que ela o abraçasse muito e sempre ficasse pendurada por um bom tempo, foram dos dias mais felizes, uma pena que um dia ela tenha começado a patinar sozinha. Tinha visto ela dar o primeiro beijo, e quanto desgosto ao ver que não era ele o primeiro a ser beijado, dias duros estes em que a vida não fez sentido, onde as lagrimas já vinham secas, e o sorriso dela parecia cínico. Porém esses dias passaram, e o sorriso dela voltou a ser encantador, e seus olhos azuis brilhavam outra vez, tal qual o orgulho dele de ter passado quase toda a vida, sempre ao lado dela. Ele contava os dias para a formatura, eram muitos, mas perto de uma vida, eram muito poucos. Palavras, estas ultimas, que o guiariam nos meses que viriam, pois por causa de alguns dias de mal estar ele foi ao medico, poucos dias depois veio, não um diagnostico, mas uma sentença, ele devia morrer pouco depois da formatura, um ou dois meses depois, não mais.

Dias sombrios foram estes, deus era o maior dos traidores, e o tempo, um inimigo que desconhecia piedade, pois nos raros momentos alegres, o inimigo era ainda mais eficiente, pois nem se fazia notar, quando ele dava por si, outro dia havia ido embora de sua vida. Sua mente estava tomada, ele não parava de pensar na própria morte, desde como seria um possível outro lado, até quem estaria presente nestes momentos finais, uma pessoa ele queria, disto sempre teve certeza, já havia até sonhado com isto, mas nunca pensou que seria tão logo.

Numa tarde qualquer de primavera, sem nada pra fazer ele e a amiga foram para um lugar que os dois sempre iam, era afastado da cidade, tinha um grande gramado, e cheirosas flores por todo o lugar, algumas grandes arvores se encarregavam de dar sombra a grama. Como já haviam feito tantas vezes na vida, eles deitaram a sombra na parte central do gramado e ficaram lá por horas, jogando conversa fora. O tempo foi impiedoso, como se espera de um inimigo que nunca perdeu, e ele percebeu que outro dia havia ido embora, o sol começava a se por, ele estava inundado por uma única certeza, queria ter morrido ali, ao lado dela, no lugar que eles chamavam de “nosso”. Ele queria ter morrido ali, nos braços da única pessoa que tinha certeza que havia amado. Ela percebeu que ele estava distante, e reparou que ele olhava por do sol, então abraçou-lhe o braço e suavemente deitou a cabeça no ombro dele, sorridente ela disse:

- Muito bonito o fim.

Ela se referia ao fim do dia, mas ele pensava em outro fim, no próprio, ele a observava, e a amava como nunca, o vento que batia sobre os cabelos dela e faziam voar os fios de modo constante o hipnotizaram, e ele compreendeu, naquele momento, enfim, a mais inegável das verdades, ele queria passar o resto da sua vida ao lado dela, por menor que fosse sua vida.

Ao mesmo tempo, ele se odiava por esconder dela, a quem sempre ofereceu o maior de todos os seus valores, a sinceridade, e pela primeira vez na vida, ele mentia pra ela, por melhores que sejam as intenções, ele mentiu, foi para poupá-la, mas mentiu. Ele não aceitava, planejava contar, mas não sabia como, pois se si odiava por mentir, ele se odiaria muito mais por fazer os outros terem piedade dele. Guardou de todos o segredo de que morreria até quando achasse necessário ou ele morresse.Queria ele, que os últimos dias fossem como todos os outros, pois haviam sido o que a vida podia lhe oferecer de melhor, podiam até haver momentos mais felizes, mas não seriam os mesmo que o forjaram, não fariam dele quem é, e por isso, queria que os últimos dias fossem como todos os outros, ele queria ser quem ele sempre foi, e deixar para os amigos uma lembrança alegre, e não melancólica.

Depois daquela tarde no jardim, ele tomou uma decisão, contaria a ela a única coisa que escondeu dela, não considerava uma mentira, uma vez que nunca tinha sido perguntado, era uma omissão. Do mesmo modo ainda era a maior culpa que ele sempre carregou, de nunca ter dito para ela como a amava, queria com isso se confessar, se sentir livre para ir embora deste mundo, não sabia o que esperar, se ela o corresponderia, se não responderia, ou se ia achar que ele foi ingênuo, já havia pensado muito nesta cena, quantos foram os modos como a imaginou, de certa forma a ele esperou a vida inteira por isto, e estava decidido a não esperar por outra. Por que é assim? Se perguntava, ele não aceitava que só no fim da vida, ele tenha descoberto pelo que sempre viveu, descobrir só quando já deveria ter vivido, e não viveu, o bastante para se sentir seguro a ir embora, não por ele, mas por ela, pois como sempre há de ser, ele não era importante, mas sim o que se passava na cabeça dela.

Não foi nem de perto como ele havia imaginado, não foi em um belo lugar, nem teve musica de fundo, não foi nada planejado, e nem ao menos estavam a sós, tudo dependia de uma coisa apenas, uma coisa que ele jamais conseguiu controlar, a própria coragem, foi na volta pra casa, depois de um dia de aula, na porta da casa dela, com o olhar da pequena irmã dele, com o som de carros passando ao fundo, e de cabeça baixa, que ele foi direto:

- Não sei bem como dizer isto, mas... – Ele tremia, suava, sua garganta estava seca, sentia calafrios pelo corpo, seu coração batia tanto que parecia a ponto de estourar, o ar já lhe faltava, e a pior parte, sua mente estava indócil em meio a tantas possibilidades.

- Mas... – quis saber ela com um sorriso no rosto que tirava dele todas as defesas.

- Quero dizer que eu escondi de você todos estes anos... – ele fez uma pausa para ganhar fôlego, e parar de olhar pro chão, finalmente olhou-a nos olhos.

- Escondi que te amo! – Ele tentou falar da forma mais serena que o nervosismo o permitia, mas com as pernas tremendo, calafrios e suor escorrendo pelo corpo, ele só conseguiu não gritar a frase, foi suave e ele sabia que podia agradecer por isto.

-Não como amiga, e posso jurar que a foi melhor amiga do que alguém pode ter, mas eu te amo como mulher, e é assim que quero passar a vida a seu lado. – Ele sabia que não havia motivos para por aquele fim no que disse, mas a morte o rondava e ele não podia se livrar disto. Ela ficou sem jeito, primeiro ficou pasma, e logo depois enrubesceu, ela tentou mas não conseguiu falar, por mais que tentasse, seu sorriso havia a abandonado, ela apertou os três dedos centrais da mão esquerda com a mão direita, e logo depois os puxava como se tentasse arrancá-los, como ela sempre fazia quando estava nervosa, ao ver isto, que tantas vezes ele já tinha visto, por um curto momento, se deliciou vislumbrando que ela o corresponderia, porem ela logo disse:

-Estou lisonjeada, muito mesmo, juro, você talvez seja o cara mais legal que pode existir, o mais legal que eu conheço, sem duvida, mas... – Ela tentou suavizar, tentou ser doce, tirou o melhor de si para que aquelas palavras não o machucassem, mas era simplesmente impossível, ela já havia desferido um golpe certeiro contra um coração apaixonado, e só os que já sentiram a rejeição, não uma rejeição qualquer, mas uma rejeição de um sonho que o havia guiado a vida inteira, e que o guiara até ali. Mesmo que isso não fosse oficialmente dito, de certa forma ele tinha visto lhe ser dado o titulo de falsa a toda a sua vida, desde o dia em que ele a conheceu, até aquele momento, tudo parecia que foi inútil, em pouco mais de alguns segundos, anos se passaram em sua cabeça e mudaram de sentido, de uma forma tão repentina, que ele só conseguiu esperar o próximo passo dela. Ela não precisaria terminar, mas ela tinha de fazê-lo, prezava muito a amizade dele, e não podia deixar meias palavras no ar:

-Quero que as coisas continuem do jeito que estão, quero continuar a ser sua amiga, sua melhor amiga. – Ela conseguiu ser suave, escolhera bem as palavras e não tocará em rejeição, foi sabia ao tentar fazer daquilo uma simples escolha entre amizade e romance, mas ele nem reparara, foi uma rejeição, e nada mais ele percebeu, nada, só conseguia pensar na própria vida, e no sentido que ela tomara ali: o mais completo dos vazios.

Aquele dia foi longo, muito longo, o tempo jogava duro, e aquelas lagrimas correram pelo que pareceram semanas, ficou trancado no quarto desde que chegara com a irmã, ficou lá até adormecer isso já de madrugada, os pais acharam que era pela morte, eles achavam que o filho estava recebendo a noticia bem demais, e não se surpreenderam, acharam até que havia demorado demais.A irmã fora comprada com uma barra de chocolate, e prometeu segredo do que viu sobre eles. Como ele havia rechaçado violentamente qualquer um que tentou entrar no quarto, os pais acharam melhor deixá-lo refletir sozinho, e apenas o chamaram para ir a escola, não insistiram quando ele preferiu ficar na cama. Antes do fim do dia a amiga apareceu, os pais acharam que ela poderia animá-lo, ou fazê-lo ao menos comer um pouco, ela entrou no quarto, com um lanche, ele tentou esconder as lagrimas, mas elas já haviam lhe marcado o rosto, ele quis expulsá-la de lá, porem, como sempre, a presença dela o deixou atordoado, subordinado ao próprio amor, mesmo que só existisse nele.

Conversaram por horas, ela nem tocou no assunto, o deu por encerrado, e falaram sobre o que sempre conversaram, nada de normal como ela adorava dizer. Se divertiram até que ficasse tarde demais pra ela continuar lá, mesmo com o convite para que dormisse lá feito pelos pais dele, ela preferiu ir embora, enquanto ele a levava em casa, ela o convidou a parar e olhar o luar, e com a luz da lua lhe ressaltando o rosto ele não conseguia esconder que a amava, teve de dizer que ela estava linda, o que era a mais pura verdade. Ela ficou rubra, e lhe bateu, bateu com a doçura que ele havia tantas vezes sentido, ela disse para que ele parasse, pois não tinha graça alguma, e ela não sabia o que dizer, ele, pediu a ela que apenas batesse nele, pois ele estaria satisfeito com esta demonstração de carinho por parte dela, gentilmente ela voltou a acerte-lhe o ombro, ele logo a abraçou e os dois caíram no chão, os dois brincaram um pouco até que ela estivesse por cima dele, só ai ela percebeu com o que parecia aquilo, o quão físico tinha sido, se levantou e estendeu a mão, e apressou-se para chagar em casa, tudo, sempre tentando manter o sorriso, tentando não ser rude.

Voltando sozinho pra casa, ele olhava as ruas, os locais onde a vida dele tinha se passado, de algum modo ele começara a se despedir, e planejou visitar todos os lugares importantes pouco antes da formatura, logo ele passou por uma árvore, e lembrou o dia que ela havia subido lá, não conseguia descer, ele a convenceu a pular, pular sobre ele, ele tentaria segurá-la, não conseguiu. Ela pulou na cabeça dele, e não nos braços, mesmo tomando uma joelhada no rosto não permitiu que ela encostasse no chão, ele jogou o próprio peso para trás e a fez cair em cima dele, ela saiu ilesa, ele porem, ficou dois meses de muleta por deslocar o joelho. Valeu a pena, eu a salvei, pensou ele orgulhoso, só que logo a memória da rejeição o afligiu de novo, ele voltou a chorar, lembrar dela, foi lembrar da falta de sentido da própria vida.Voltou pra casa, se trancou no quarto e de lá não saiu, mesmo quando ela veio visitá-lo outra vez, passaram-se três dias, só saia a noite para comer e beber, e voltava para o quarto se alguém tentasse abordá-lo, ignorava todos os apelos para sair mais do quarto.

Até que ela voltou, não seria nada, ela havia ido lá todos os dias desde que ele se declarou a ela, ela inclusive havia ficado no dia anterior por horas sentada na porta do quarto, tinha até tentado entra pela janela, mas ele teve o cuidado de trancá-la também, ela bateu no vidro, ele, só levantou e fechou as cortinas, mas olhou-a por um minuto, e olhando pra ela, uma lagrima escorreu em seu rosto, ela bateu novamente no vidro, com mais força, e começou a lacrimejar também, ela suplicava que ele abrisse a janela, ele apenas fechou a cortina, ela continuou a bater, até que o cansaço a vencesse. Desta vez ela nem precisou de muito, foi só chegar, bater na porta, e dizer o que lhe haviam contado:

- Saia deste quarto, pouco me importa se você vai morrer daqui a pouco, quero meu melhor amigo de volta. – Ela apenas exigiu, nem precisou gritar, apenas disse para que ele pudesse ouvir, aquelas palavras foram duras com ele, pois alem de revelarem que ela sabia que ele não estava sendo totalmente sincero outra vez, faziam ele temer a piedade dela, única coisa que ele nunca aceitaria, que ela tivesse pena dele. Ele sabia que deveria abrir a porta, não podia chorar pra sempre, e por mais estranho que fosse, ele queria vê-la de novo e sabia que ia querer outra vez, ainda tinha de se explicar a ela, mesmo que ela nem reparasse nisso, ele devia a si mesmo uma explicação por ter enganado-a pela segunda vez na vida. Abriu a porta devagar, ela prontamente colocou o braço no caminho para que ele não a tentasse fechar, assim que pode ela entrou no quarto, e olho pra ele, de cima a baixo, como se quisesse guardar uma lembrança daquele momento, não importava o quão deplorável ele estava. Ele voltou a fechar e trancar a porta, virou-se pra ela e disse da maneira mais fria que pode:

- Quem ti contou?

- Importa? – ela indagou, sabendo que não poderia ser contestada.

- O que você quer? - Perguntou ele sem demonstrar nada alem de indiferença.

- Quero você, ora, não quero que passe o resto da sua vida em cima de uma cama choramingando. Pode ser pouco tempo, mas tu ainda tens o que viver, não pode fugir – Ela até se arrependeu do que disse, mas não podia mudar as palavras, ela temeu ter sido direta demais.

- Você esta certa, ainda tenho muito o que viver, mas vale a pena viver uma vida vazia de sentido? – Por mais direto que tenha sido a ela, falando da própria rejeição, ele sabia que ela não perceberia.

- Vai me dizer, agora, que tudo o que viveu na sua vida não teve valor algum? – Ela, por algum motivo, talvez a condenação do amigo, não queria perder tempo, estava sendo direta, e já se permitia o direito de ser dura sem remorsos.

- De certa forma, eu perdi meu tempo...todo o meu tempo – Ao falar ele se deitou na cama e apertou o travesseiro, mesmo sabendo que ela não percebia as indiretas que deixava, ele continuaria a insistir, queria, por amor a ela, culpá-la do fracasso da própria vida, de alguma forma ele sabia que poderia acorrentá-la a si, e sem tempo, ele já usava de todas as armas que dispunha, mesmo que ele as considerasse desleais, imorais, desumanas. Ela subiu na cama, e de joelhos, forçando-o a olhá-la, e ela buscava os olhos dele, mas ele fugia, ela teve de segurá-lo, e olhando-o nos olhos, disse lacrimejando:

- E tudo o que nós passamos juntos? Toda a nossa amizade, nossas brincadeiras, farras, bebedeiras, tudo foi falso? Até suas promessas, foram todas falsas?... – Ela chorava, não escondia isso, jogava sobre ele todo o peso da própria consciência, tudo o que ela perderia em breve, e tinha dificuldade em aceitar, mesmo que não pudesse mostrar esta fraqueza, ela tinha muito medo, medo dos dias que viriam, medo de perder a única pessoa que nunca a havia negado nada, e ela não podia fazer nada, a não ser isto, tentar dar a ele o fim que ele merecia, um fim digno da confiança que ele sempre fez jus. Ele pensou nos momentos que os dois passaram juntos, sabia que eram reais, que aquela amizade fora verdadeira, mas ainda cheirava a frustração, mesmo que a amizade tenha sido muito pra ele, tinha sido tanto a ponto de impedi-lo de dizer como ele a amava, como ela estava em seu sonhos, mesmo nunca tendo dito isso, a amizade era inegavelmente forte, talvez a única coisa forte o suficiente para fazê-lo desistir de declarar-se a ela, e como ele havia desistido, pensando nisto, ele sabia, que ela merecia algo mais que esta memória dele aos trapos.

- Foram verdadeiras, foram sinceras, sinceras demais! – Ele falou apenas para si, é uma frase que por mais que ela se esforçasse nunca entenderia, pois foi dita levando em conta sentimentos muito pessoais. Ao dizer, ele esquivou-se do olhar dela, e virou para o lado, olhando para a parede, apenas para evitar o olhar dela.

- Se foram sinceras, então saia desta cama, e viva um pouco...se não pode fazer isto por você, faça por nós...o faça por mim. – Ela perderá a calma novamente e voltou a chorar, as ultimas palavras foram quase inaudíveis, porem o olhar dele condenava que havia escutado, seus olhos estavam serenos, emocionados, incrivelmente gratos a ela, pelas palavras, era verdade que o egoísmo o impedia de ver, agora ele via que só se importará consigo mesmo, e não levou em conta que não era só ele quem morria, mas o melhor amigo dela morreria, o atencioso irmão mais velho também morreria, junto com o aluno promissor, e com o filho inconstante. Não era só ele que perderia o mundo, da forma como a morte o cegou ele não havia percebido que o mundo o perderia, ela como tantas outras vezes, teve de abrir-lhe os olhos, pois as vozes dos outros eram repetitivas, e a dela, soava como verdade.

Logo que entendeu que a vida dele, já não pertencia a ele, era dos outros, pois como pra ele tudo era um fracasso, era pelos outros que viveria, para confortá-los da morte dele, ele resolveu cuidar do próprio fim, e não deixar nada para trás. Uma hora após a entrada dela no quarto os dois já estavam indo rumo ao “nosso” lugar, conversaram por horas, mas ele já não tinha a mesma vontade, por mais que tentassem, os dois. O fantasma da morte não os abandonaria mais, sua vida parecia ter entrado finalmente no capitulo final.

Ao chegar em casa, ainda emocionado, foi tirar satisfação com os pais, a quem ele acusou de ter contado a ela que ele estava prestes a morrer, ele alegou que era opção dele, e de ninguém mais, contar a ela sobre a enfermidade, os pais negaram veementemente, disseram que respeitariam a decisão dele até o fim, mas ele não acreditou e continuou a reclamar, o pai que já não havia recebido bem a noticia da morte, e lutava para aceitá-la, estava a ponto de brigar com o filho os dois vociferavam olho no olho e sem qualquer intenção de se acalmarem quando a irmã apareceu e defendeu os pais dizendo que eles não haviam contado, e que ela sadia quem tinha contado, ele instintivamente perguntou quem antes de que ela pudesse terminar a frase, ela então concluiu:

- Eu sei, porque fui eu quem contou. – disse ela como se não tivesse feito nada de mais, ele então se ajoelhou para olhá-la no olho, e perguntou:

- Mas porque? Eu não pedi para guardar segredo? – As palavras vieram em um tom quase de suplica.

-Pediu, sim. Só que eu não podia ver você passar o resto da vida trancado... – ela ficou sem jeito, evitou os olhos dele e completou:

-Quero aproveitar o restinho do meu irmão, sei que você está prestes a ir, mas ainda não foi, e eu quero você até o ultimo dia. – Ela se recusava a chorar, mesmo que tremesse. Para ele havia sido uma surpresa, pois por mais que gostasse da irmã, ele sempre a mal tratava, talvez para se sentir independente, ele nunca esperou que os gestos de carinho e as horas que ele dedicava a ela fossem superar a indiferença de tantas vezes, sempre foi a irmã que o procurou para brincar, e nunca o oposto, sem contar nas vezes que ele a rechaçará, ele sempre teve a certeza que a irmã gostava mais dele que ele gostava dela, mas nunca esperou compaixão dela. Culpava-se, agora, por ter se preocupado com a futilidade de ser independente, e ter ignorado algumas vezes a melhor irmã que o mundo lhe podia oferecer, pelo menos aos seus olhos. Ele a abraçou, pegou-a no colo, e divertiu-a um pouco, levou a para o quarto dela e ficou lá dando atenção a ela, até que ela adormeceu, quando saia para ir dormir no próprio quarto, ele resolveu ser um pouco egoísta, e saciar a própria carência, deitou junto com a irmã, e enquanto ela dormia, agradeceu a tudo o que ela lhe havia dado, até que ele adormeceu ali na cama da irmã, abraçando-a meigamente como a muito tinha vontade de fazer e não se permitia.

Os dias passavam, a amiga não desgrudava dele, queria estar com ele todo o momento, mesmo com o clima estando pesado e o fantasma da morte os rondando intensamente, as conversas sempre iam neste sentido por mais que tentassem evitar, o fim estava próximo, e era marcante, constante. Lagrimas já eram coisa comum, e não havia mais a animação de sempre, ela as vezes tentava mostrar entusiasmo e fazer planos, o prazo dos planos sempre lembravam a data provável da sentença, mesmo que os planos fossem para o outro dia, ele sabia que podia não acordar. O fim não o amedrontava, ele já estava preparado para isto, seria até confortável que morresse a noite, pois não havia deixado nada pendente. Ela se esforçava ao máximo para tentar ter o velho amigo de volta, só que as piadas já eram poucas, e o humor negro, tão familiar aos dois, era proibido. Ele sempre tão alegre e sorridente com ela, estava mais fechado, lembravam a ela, os dias em que ela o conheceu: Ele falava pouco, era tímido, ela o oposto tagarela e serelepe, ela tentava se aproximar dele, mas não conseguia muito, poucas palavras, sempre poucas, até que um dia, ela pegou um Gira-sol e ofereceu a ele, ele achou estranho e começou dizendo que era coisa de menino dar a flor, e de menina receber, logo a conversa ficou maior, e ela voltou a falar com ele no outro dia, no terceiro dia foi ele atrás dela, assim começaram a se falar, logo viraram amigos, e o tempo só se encarregou de juntá-los, mais e mais, até aquele momento não era diferente, pois apesar de tudo, eles estavam ainda mais próximos, naquele instante viviam até pela mesma coisa, viviam um para confortar o outro até o fim.

Muito sereno, foi o modo como a irmã lhe havia descrito, ela achava que ele estava calmo demais, passivo demais com tudo, e que ele podia, ao menos, tentar viver intensamente os últimos dias. Ele a achou inocente, pois ela não percebera que ele estava vivendo seus últimos dias desta maneira intensa, mas também concordava que estava sereno, talvez a morte tenha mostrado a ele como eram mesquinhas muitas das coisas normais. A intensidade ficava por conta não só das memórias, como também por conta dos sentimentos, eram muitos, e saltavam aos olhos, a maior parte deles eram pela amiga, mas descobrir a pequena irmã, lhe foi uma grata surpresa. A serenidade, adquirida à morte, contrastava com a própria imagem dele, sempre enérgico e ansioso, apesar da timidez, muitos podiam achar que ele estava triste, cabisbaixo, alguns amigos, que só iam saber do problema após a morte dele, perguntavam o por que da tristeza, e ele respondia:

-Todas as folhas caem no outono...

Os colegas não entendiam a indireta, e talvez nem pudessem, achavam que ele estava deprimido, e tentavam animá-lo, ele se esforçava, às vezes conseguia uma piada ou outra, mas já não conseguia achar graça nelas, até nas que ele mesmo fazia. Os dias passavam e as únicas coisas que realmente lhe eram fascinantes, eram as coisas pequenas, que por toda a vida passaram despercebidas por ele, coisas como o suave perfume do jardim da casa da amiga, a beleza da lua a passar pelo céu quando ainda é dia, ou a doçura da irmã, num vestidinho rosa, brincando no gramado.

Eles estavam no “nosso lugar”, e conversavam, desta vez o assunto era pouco familiar a ela, que atenciosamente só escutava, ele falava da irmã, e o quanto havia errado com a mesma, o quanto era importante, e ele nunca perceberá, nunca percebeu o quanto a amava, e de todo o processo de encantamento pela pequena irmã que ele havia sofrido nas ultimas semanas, ela fazia perguntas sobre a relação dos dois, tentava entender como é ter uma irmã ou mesmo irmão, ela filha única, nunca entendeu, mas parecia, aquele dia, se esforçar para entender, o enchia de perguntas, muitas estranhas. Frustração era tudo o que ele sentia quando ela comparava a relação dos dois com a que ele tinha com a irmã, era como se ela mexesse a espada que ela mesma havia cravado no peito dele. O assunto rendeu a ele horas de conversa, do inicio tarde, quando começaram, até ali, com a lua a brilhar intensamente cheia no céu, só que o assunto havia terminado, não havia mais o que ser dito, e fez-se um silencio, ela se aproximou dele, e deitou sobre o seu colo, ele sentado na grama, começou a acariciá-la os cabelos, ficaram ali alguns minutos, ela apenas sentindo a leveza na mão dele, e ele sentindo o calor e maciez dela. Ela, então, se ajoelhou, ficou de frente pra ele, olho no olho, e contra tudo o que ele havia imaginado, ou planejado, desde a infância, ela o beijou longa e profundamente, os dois aproveitaram tanto o momento que pouco movimentaram os lábios, também não parecia haver por aonde passar uma língua, o beijo pareceu durar horas, e pode até ter durado, já que o mundo ao redor deles parecia não existir, os olhos suavemente fechados, e o cuidado com o que todos os movimentos foram serenamente executados faziam a cena parecer algo que à muito era esperado. Os rostos se separaram, ela fitou os olhos dele no momento em que abrira os seus, ela parecia feliz pelo beijo ter sido correspondido. Num primeiro momento ele ficou muito feliz com a realização do sonho, mas algo lhe incomodou muito, não quis se preocupar, e resolveu se deliciar com o momento, lambuzar-se do próprio conto de fadas, só que ao olhá-la nos olhos, logo depois do beijo, ele soube o que o incomodava, a maldita sensação de que ele estava recebendo piedade, compaixão, e não paixão, e não amor, nem ao menos havia, aos olhos dele, uma gota de dedicação sincera. A mão que acertou-a à cara foi inesperada, e repentina, ela estava pasma, não entendia por que o garoto que a pouco lhe corresponderá o beijo, agora lhe dava um tapa, ela nem quis virar a cara, não sabia como olhá-lo de novo. Ele levantou, observou-a um pouco, ela já começava a chorar, a primeira gota escorria em sua face quando ele disse:

-Eu quis que você me amasse, eu nunca quis sua piedade. – Ele chorava, tinha acabado de agir contra a própria vontade, ele muito queira aquele momento, mas não pode aceitar que ela o fizesse por compaixão, não valia nada se fosse feito assim, não tinha romantismo, não tinha nem se quer uma chama de esperança, ele já havia imaginado que ela aceitasse-o sem amá-lo, mas neste caso eles ainda teriam uma vida inteira pela frente, e abririam mão de muitas coisas um pelo outro, o amor dela não era o mais importante, ela era o mais importante, ela aceitando os dois e negando o resto é que era importante, a dedicação de um ao outro, e isto não acontecia ali, por isto o tapa, por isto a vontade ficara de lado, em lugar de algo maior, a sinceridade, e nada foi a ele marca maior da amizade que isto, ele nunca deixou de dizer a verdade a ela, menos uma única, e ele sentia que pagava o preço. Ele foi embora, correndo e chorando, chegou em casa correu pro quarto, e fechou a porta, ficou lá chorando por horas até que a irmã apareceu, já era tarde da madrugada, ele olhou pra ela a porta, e pediu para que ela saísse, ela fechou a porta, e o abraçou, ele chorou nos braços dela até que os dois adormeceram. Logo após ele sair correndo e deixá-la só, ela se deitou, apenas deixou que o corpo se rendesse ao próprio peso, e chorou intensamente, chorou por muito tempo, reclamou do destino, e reclamou das obrigações que este lhe havia imposto, ela acabou por adormecer lá do mesmo modo em que o tapa havia lhe deixado, sem se mover um centímetro sequer.

No inicio da manhã o telefone tocou, ele não acordou, só acordou os com os pais perguntando dela, logo disseram que ela não havia dormido em casa, e que os pais a procuravam, perguntaram se ele sabia alguma coisa. Ele disse um sim pensativo e distante, pulou da cama e se vestiu, perguntado a onde ia tão sedo, ele respondeu que ia achá-la, a irmã pediu que ele avisasse os outros do local e não se envolvesse agora, ela havia escutado muito na noite anterior. Ele ignorou a irmã, e partiu, nem se quisesse ele poderia fazer o que irmã sugerira, o lugar era um segredo. Ao chegar no “nosso lugar” ele viu-a deitada no chão, dormindo, não pode controlar, teve de observá-la por um tempo, admirar a sua princesinha deitada ali, mesmo estando descabelada e com uma expressão nada serena à face, ele só conseguia ver ali a menina que deu razão a toda existência dele. Ele acordou-a com carinhos a face, ela não pareceu surpresa ao vê-lo, apenas disse que não acreditava ter dormido ali, ele a elogiou, disse que ela estava bela, e perguntou se ela não gostaria de voltar pra casa, ela riu da ironia dele que parecia ter voltado. A noite anterior estava camuflada no medo dos dois de se afastarem, não importa o modo, um era importante ao outro. Ela sentia dores pelo corpo, a grama não foi das camas mais gentis com ela, sua coxa doía consideravelmente, só doía menos que os ombros. A dor foi desculpa, mas o fato de ela andar apoiada nele, como se tivesse saído de uma guerra, era desejo dos dois, não era só belo, era a mostra da unidade dos dois, só mais uma entre tantas. Eles foram embora fazendo piada do estado dela, e da noite no mato, logo chegaram a casa dela, os pais ia dar uma bronca nela, quando ele os impediu, apenas levando o dedo a boca, como se disse que ela não estava bem, os pais entenderam, e ofereceram aos dois café da manhã, ele ficou para evitar que ela tomasse uma bronca, mesmo que não admitisse que havia ficado por isto, ele queria deixá-la na cama já adormecida, para evitar a bronca. Depois de contada a historia, sem os detalhes importantes e com varias desculpas, ela saiu ao jardim e sentou no balanço, ele começou a massageá-la nos ombros, ela não tardou em tocar no assunto que os dois pareciam estar evitando:

- Te juro que não é piedade, eu te amo, acredite ou não. – Ela foi suave com a voz, dizia isto como se sussurrasse. Ele suspirou, sentou no outro balanço de forma invertida, e ao esticar as pernas estava olho a olho com ela.

- Comecei a me apaixonar por ti desde a primeira vez que nos falamos, como você quer que eu acredite que você se apaixonou por mim em tão pouco tempo? – Ele foi suavemente sincero, mas manteve o som baixo da conversa, eles se encaravam olho a olho.

- Não me apaixonei por ti neste tempo, eu apenas percebi que estava apaixonada. – A conversa parecia planejada, nem uma das palavras saia mais alta que a outra, e as frases se sucediam com o intervalo mínimo para não serem desrespeitosos.

- Mesmo assim, não pensou duas vezes em me dizer um não. – ele havia conseguido não ser irônico, mas fora por pouco, ela não evitou o olhar dele, isto o incomodou um pouco.

- Na verdade, não fosse isto, eu nunca teria pensado na possibilidade... – ela levantou a cabeça e olhava para o céu, foi a primeira vez que os olhares se separaram.

- ...foram suas palavras que me fizeram pensar, questionar os meus próprios sentimentos. – completou ela.

- Não quis pensar duas vezes, eu não cobrei resposta, foi um não sem apelação, como mudou assim tão de repente? - ele parecia indignado com a simplicidade dela, mesmo assim manteve o tom da conversa.

- Não foi tão simples. Como eu disse eu não sabia que te amava, eu disse o que eu achei que era o certo. Mas eu pensei muito, refleti muito, o teu surto de rejeição ajudou, pois eu tive muito medo de perder, não um amigo, mas você. Só que ter certeza, eu só tive de que era paixão quando... - ela voltou a olhar para as nuvens

- ...te vi brincando com a sua irmã, você se fingindo de príncipe, eu confesso que tive ciúme, muito ciúme, eu quis a tua atenção de tal forma, que não sai de lá sem você, mesmo eu tendo acabado com o felicidade dela. – ela sorriu algumas vezes, estava emocionada, era visível.

- Eu realmente te achei estranha aquele dia. – disse ele com um leve tom de brincadeira, ele aceitou as desculpas dela, e disse para ela dormir bem de dia, pois ia passar para buscá-la a noite, e ia levá-la para sair. O jeito que ela falou o tocou bastante, só que ele não sabia se tinha acreditado porque ele queria acreditar, ou se era por que ela realmente parecia sincera. Ele não queria prolongar a briga, a amava muito para isto, e ele realmente a tinha achado estranha naquele dia, tinha se sentido disputado entre a irmã e a amiga. Ter a relação dos dois comparada à que ele tem com a irmã agora tomava um sentido diferente, e parecia que ela realmente tinha descoberto algo novo em relação a ele, mesmo que não fosse paixão. Nesta altura da vida, ele não se preocuparia com incesto, principalmente se ele sonhasse com isto há muito tempo.

Ele andava pela casa, de um lado a outro, ia e voltava na mesma linha, às vezes sua boca mexia e se podia perceber que ele dizia algo, mas eram indistinguíveis as palavras ditas, eram baixas demais para se ter clareza, ele falava sozinho, era obvio. Aquela cena era comum aos olhos da pequena irmã, ele fazia isto desde quando ela lembra dele, ou de si mesma, era até o mesmo caminho de sempre, e ela sempre soube o que significava, o irmão está ansioso, o que era comum, pelo menos antes de ele saber da própria morte. Ela odiou profundamente ver o irmão assim, o velho irmão estava de volta, ele não tinha andado pela casa desde o dia que soube que morreria, e logo depois disto a relação deles tinha melhorado muito, ela não queria o antigo de volta, o novo também não queria perder, sentia que isto tinha haver com a amiga dele, ela nunca gostara muito dela, por mais que a amiga tentasse ser receptiva, ela a detestava, o irmão se dedicava a amiga, e muito sofrera pela mesma, era caso antigo, e ela nunca viu nela, nem de perto, a dedicação que seu irmão lhe oferecia, só nos últimos dias a amiga parecia dar a devida atenção a ele, e ela achava que a amiga sentia, antes de mais nada, culpa pelos anos sem retribuir igualmente. A irmã se aproximou devagar, e esperou que ele passasse no ponto em que ela estava, o puxou pela camisa, e quando ele virou surpreso ela disse:

- Quero o meu irmão de volta. – exigiu sem ser ofensiva.

- Mas eu ainda não morri. – disse ele sorrindo.

- Preferia quando tu tava mais calmo, não andava pela casa, e... – ela hesitou, havia ficado visivelmente com medo do que ia falar, olhava para os próprios pés.

- ...e só pensava na morte. – Completou ele, ainda sorridente, e procurando os olhos dela, que só acharam os dele, depois de ele ter dito.

- Não, não. – Apressou-se ela, mas logo emudeceu, olhando para o chão novamente, seu rostinho estava coberto de rosa, ela não podia negar o nervosismo, seus pés esfregavam-se um no outro e também no chão. Por mais simples que fosse, ela não tinha coragem de dizer ao irmão que sentia a atenção dedicada a ela ser ameaçada.

- Então, o que é? – perguntou o irmão gentilmente, tão gentilmente que ela o olhou nos olhos, mesmo contra a própria vontade, o irmão perceberia que ela estava envergonhada, ela pensou logo em mentir, mas não encontrava nada, pensava em mudar a impressão que tinha causado, e também pedir um pouco mais dele pra ela, nada vinha à mente daquela jovem cabecinha. O silencio foi um pouco longo.

- Então não deve ser nada importante, o que te faz falta em mim. – respondeu passando a mão na cabecinha dela, e já se levantando, não reparara a vergonha da irmã, sua cabeça estava na amiga de novo, quando a irmã se fez ouvir:

- E brincava mais comigo. – A frase foi dita com toda a velocidade que ela conseguira impor à própria voz, sua carinha já estava rubra demais para ele não perceber, ela tremia, mas a troca de palavras, “atenção” ou “carinho” por “brincava” foi de ultima hora, e lhe salvaram de um infarto precoce, seu coração não caiba no pequenino peito, ela já o sentia na garganta, seu peito parecia muito pequeno para ela, o ar já lhe faltava, ela duvidava que respiraria por muito tempo, parecia que ia explodir, logo ao dizer, voltou a olhar pro chão, evitando os olhos dele. Ele foi pego de surpresa, não tinha mudado a conduta com a irmã, e nem planejava o fazer, foi algo desnecessário, a irmã tinha sido impaciente, ele continuaria a dar a mesma atenção a ela, só não daria hoje, estava preocupado com a amiga, e o encontro que teriam.

- Ora, não seja bobinha, sempre será minha irmã. – disse ele calmamente, e sorrindo, passando a mão na cabecinha dela, desceu a mão pelo rosto e levantou-lhe o queixo, olhou os olhinhos azuis dela profundamente, reparou, enfim, que ela estava rubra, e quente. Ela não cabia em si, ela tremia demais para se concentrar nos olhos claros do irmão.

- Minha maninha favorita! – Disse ele repentinamente, pegando-a no colo, e girando sobre o próprio corpo. A irmã ria e se divertia, parecia convencida do que o irmão lhe havia dito, girando com ele ali, ela percebia que ele seria o mesmo, e continuaria mais carinhoso com ela. Ele não lhe daria atenção hoje, por causa da amiga, mas a irmã tinha o chantageado, e conseguira um tempo que não seria dedicado a ela, contudo algo lhe incomodava, ele não daria atenção hoje, deixaria para amanhã, e se amanhã ele estivesse preocupado com outra coisa? A irmãzinha ter reclamado não tinha sido em vão, e nem mesmo infantil como inicialmente parecera.