Sem Segredos
Estava inconsolável olhando a fotografia onde ele e seu último desafeto sorriam para a câmera quando, ao dar um suspiro de desalento, olhou para a lua cheia. Um rosto foi se formando naquela coisa redonda e cheia de crateras. Um par de olhos azuis, repuxados de forma sedutora, surgiu como num passe de mágica e dirigiu-lhe uma piscadela marota. Ele teve uma idéia. Mas, antes, deu uma última olhada pra fotografia que tanto o entristecia e foi com ela até uma arca. Abriu-a e depositou o retrato lá, com todos os outros. Suas mágoas arquivadas, um lembrete empírico que sempre lhe faltava à memória quando se apaixonava. Mas a lua, ah, a lua... Olhou pra ela e sentou-se à escrivaninha fazendo contas e desenhos. Projetou um canhão, como aqueles de circo, levou até a varanda, entrou, acendeu o pavio e vôou, vôou. Sim, e quando achou que estava chegando, um avião interrompeu e ele resignou-se a ficar pendurado em uma das asas acenando tristemente para a Lua. Desceu no LAX e de lá projetou um foguete. Explodiu na estratosfera. Seu cu caiu na Amazônia, suas tripas no Grand Canyon, o braço esquerdo caiu onde foi o campo de concentração de Dachau, a orelha esquerda na Praça Vermelha, o pé direito caiu em cima da frigideira onde Bin Laden fazia bolinhos de chuva no Nepal e o nariz caiu no Sena e o coração, bem, o coração foi flutuando de volta até sua varanda, entrou em seu quarto, abriu a arca e se enfiou lá dentro.
Frejat - Segredos