Encontros casuais, sentimentos sem importância.

Era um encontro como outro qualquer, a família se reunia, pessoas conversavam, se cumprimentavam, brindavam e seguiam sua vida cotidiana.

Mas naquele dia, algo diferente acontecera. Como um náufrago que encontra um bote salva-vidas e passa a viver o pânico de ser tão somente um tubarão, e fica “congelado” diante da situação Jonas assim permaneceu com a aparição daquela mulher que ocupara boa parte de seu pensamento na infância.

Daniela era na verdade uma mulher especial, aparecia raramente e não deixava pistas sobre a vida que levava, casara-se há alguns anos, e isto servira tão somente para selar a “eterna amizade” que existira entre ela e Jonas, que por outro lado já se contentara com a situação de ser somente o amigo de infância que compartilhara momentos e descobertas com aquela que seguira um caminho tão diverso do seu.

Daniela se casara com um famoso empresário que lhe enchia o corpo de jóias e perfumes, e Jonas sem sentir nenhum tipo ressentimento, uma vez que entendia a situação da prima que desejara para si segurança e estabilidade, aceitava a situação sem qualquer pesar.

Mas havia algo que incomodava aquele que se tornara um funcionário público administrativo que se contentava com as tarefas repetitivas do burocrático dia a dia de uma repartição pública.

O problema é que mesmo que Jonas aceitasse a situação de separação entre aqueles que tiveram uma profunda amizade na infância, Daniela sempre o colocava em situação constrangedora.

A moça mesmo tendo se casado insistia em seduzir o jovem primo de toda forma imaginável. Ele não correspondia, porque não desejava um relacionamento clandestino, furtivo, em que um “outro” estaria sendo enganado. Não, o humilde jovem entendia que enganar outrem era abrir a possibilidade de ser enganado no futuro, por isto não se rendia aos encantos da prima.

Mas no fundo o jovem sempre pensava que talvez não fosse a intenção da prima a de meramente seduzir, mas sim buscar algo mais sério e concreto com aquele que não tinha nem uma pequena parte da fortuna do marido da moça

E com esta situação meses e anos se passavam em que se viam se cumprimentavam se despediam e cada um seguia seu caminho.

Certa vez, estavam juntos em uma reunião na casa de uma tia, e enquanto estavam sozinhos Daniela se dirigiu ao banheiro e com uma voz convidativa pediu que Jonas fosse até lá.

O primo pacato viu que não seria uma boa coisa, o que lhe era proposto principalmente porque inicialmente não entendera a intenção da prima, pensando que seria meramente um “olá”.

Passaram-se mais alguns anos e outro encontro e desta vez, não foi a mesma coisa, Daniela sempre mais bela, diante do resignado primo, lhe dirigira todas as atenções e este por sua vez, vira que o que entendia como pilherias e brincadeiras era na verdade uma profunda vontade de chamar sua atenção e de ser vista por aquele que tivera sua admiração na infância.

Viu naquele dia que era profundamente amado pela moça, e esta, perdendo toda sua tradicional compostura, deixou que lágrimas escorressem da face quando cruzou com Jonas.

Olhos nos olhos, confusão, atração, será agora? , será que é isto mesmo?. Será só imaginação ?

Será, será , será...Foi o que se passou na mente daqueles dois “viajantes do amor” enquanto seus olhos se mantinham em junção....

- Ai que dor de cabeça ! foi o que disse Daniela e saiu.

Enquanto Jonas permanecia com os olhos perdidos no horizonte, aguardando que toda a sucessão de fatos, eventos, dúvidas, medos, e indagações se fossem, como a poeira que abaixa em uma distante estrada de terra que era o fundo de sua mente.

Lágrimas de um lado confusão de outro. Como num bolero solitário, seguiam aqueles dois amantes em suas indagações e dúvidas , sempre se cruzando, se desejando e retornando a seus afazeres cotidianos, nos quais nada passava de rotina e cumprimento de ritos sociais.

Jonas resignado pensava: “se não foi, não era pra ser,” mas em seguida se indagava de forma furtiva - como se fosse uma criança tirando doces escondido: “como deveria ser meu futuro se ela fizesse parte da minha vida ?” .

E escondido em sua cama altas horas da madrugada deixava que sua mente construísse castelos e romances com aquela moça, que insistia em não dar o menor sinal de atração.

Daniela resignada com o que a vida lhe dera de forma mais cômoda e segura pensava: ”será que ainda tenho chance de viver um romance com ele, ele está tão belo? Queria tanto cuidar dele.” “Ele merece muito mais da vida.”

E logo respondia a si mesma: “mas preciso seguir com meu casamento. Não posso me perder em uma aventura qualquer, logo, logo estarei mais velha e nenhum homem vai me querer“

Ninguém queria mudar nem se arriscar, e assim a vida seguia seu rumo, se por um lado o jovem Jonas não queria sair de seu pequeno mundo de parcos vencimentos e de uma vida humilde para assumir um novo relacionamento que lhe traria desafios e uma nova forma de ver o mundo; por outro Daniela não queria sair de seu também pequeno mundo cheio de bens materiais para assumir algo novo que lhe trouxesse a possibilidade de viver um algo diferente de sua forma sintetizada de ver a vida, desenhada pelos padrões sociais em que vivia.

Ela pensava ”Ele é um partidão para eu me separar, casar de novo e ter família, mas esta coisa de amor não é prioridade, tenho minha família que me apóia e outras coisas para viver”

Ele por sua vez se entristecia com tal possibilidade. “ Casou com outro e porque somente agora me procura, se é que me procura ? O que vê em mim agora que nunca viu antes ? “ .

Enquanto ela se aproximava ele se afastava e quando ele estava chegando perto ela saia para outro lugar, pensando não ser ainda a hora, ou pensando qualquer outra coisa que lhe tirasse da mente aquele relacionamento que traria riscos e desafios.

E com estas indagações e pensamentos, dúvidas e medos, seguiam o caminho da vida, sempre com aquele encontro de olhares que lhes deixavam sem respostas e sem lógica, que os conduziam ao paraíso para logo retornarem ao dia a dia de entendimento, lógica, razão e nada mais.

Encontros casuais, sentimentos sem importância, será que poderia haver algo mais naquilo que era tão confuso e sem direção, será que valia a pena encontrar um caminho ?

Só o tempo poderia dizer.

Isaias João
Enviado por Isaias João em 09/12/2010
Código do texto: T2663170
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.