Era uma vez... é assim que todos os contos começam e o nosso não podia ser diferente. Era uma vez uma menina. Poderemos até dar-lhes um nome. Que tal Maria? Bem, já temos nosso personagem, vamos ao desenrolar da história.
Maria era uma menina doce, meiga, terna. Teve uma infância recheada de carinhos. Maria sonhava e sonhava muito. A felicidade era sua meta, um alvo a ser alcançado. Por isso, Maria tropeçava, caia, levantava-se, tornava a cair, mas insistia no seu sonho.
Houve um tempo que ela acreditou que tinha encontrado o caminho. E, decidiu reunir suas forças em torno de seu objetivo. Tratou de construir seu ninho como um pássaro á espera de seu par. Catou a madeira em volta, e com ela começou a levantar sua casa. Nas paredes, poemas escorriam desaguando no chão. Cuidou do fogo para que estivesse sempre ardente. Teceu vestes com retalhos de núvens e as ornou com estrelas cadentes. Juntou as frutas mais deliciosas, coloridas e perfumadas, tudo para concretizar seu sonho. Banhou-se em leite e tatuou no corpo o nome do amado. Seu príncipe chegara. O sonho tornava-se realidade. Sua alma celebrava em festa. Um riso explodiu e ficou pregado em sua face. A felicidade tão esperada, chegara. Os anos se passaram, e nada resistiu. As paredes cederam, os poemas de tão antigos se esfacelaram, o fogo que antes crepitava, morreu e o vestido de gaze de tão fino desmanchou-se. Logo tudo escureceu, e um grande buraco se abriu a seus pés. Maria escorregou, escorregou até atingir o fundo do poço. Tudo havia terminado. Viver lá dentro já tornava-se um hábito. Onde os sonhos, onde a felicidade tão preparada, esperada, sonhada... Com o tempo, a escuridão tornou-se sua vida. Nada mais Maria esperava.
Um dia, um enorme peixe de papo prateado, aporta em sua vida. E, falava de felicidade, de amor possível, de um lindo futuro. E, como quem colhe uma flor o peixe jogou uma isca dentro do buraco e resgatou Maria. Ela sacudiu a poeira, e encontrou novamente forças para recomeçar sua eterna busca. Voltou a viver. Logo tudo recomeçou. As paredes foram reerguidas, os poemas voltaram a seus devidos lugares, o fogo voltou a arder. As vestes, ah, as vestes, eram muito mais bonitas, cheias de encanto. As comidas reapareciam com muito mais cheiro e sabor. As garrafas dos melhores vinhos, se sucediam. Mil banhos de leite foram tomados. O peixe era dócil, envolvente e logo Maria estava encantada, apaixonada. Pouco lembrava do antigo buraco.
Mas, eis que um buraco maior ainda se abriu á sua frente. Maria desesperou-se, e lutou para não cair. Mas, em vão. Ela afundou, só que dessa vez o peixe de papo prateado não mais estaria alí para resgata-la. Só lhe coube aceitar, fechar os olhos e sonhar. Sonhar sonhos de amor com seu amado distante, sonhar com praias de areias alvas e mornas, com um mar calmo, onde seu peixe vivia, com dias que não mais acontecerão. Acabava o sonho de Maria.