LOUCAS AVENTURAS DE AMOR

Lêda Torre

Brasiliana, nome fictício era o nome da pequena aldeia simples onde aconteceram os fatos desse conto, baseado em casos reais. Lugarzinho lindo, rodeado de igarapés, lagoas, açudes, e até um pequeno riacho. Moravam ali umas cinquenta famílias, todos se conheciam, como se fossem uma família só. A renda daquele lugarejo era estritamente da lavoura e da criação de animais, além da pesca e caça. Todos plantavam para manter suas famílias e como meio de ganhar uns trocados.

As famílias tinham suas roças, criavam bois, porcos, caprinos, ovinos, equinos, aves de várias espécies. Uma vida bem pacata se vivia em paz naquela aldeia, não fossem as aventuras do homem mais poderoso da região, com suas peripécias e ousadas investidas. E, a rotina de Brasiliana, era quebrada com a chegada do pároco da cidade mais próxima, que vinha à aldeia duas vezes por mês, para celebrar suas missas, fazer consagrações, casamentos, batizados, crismas, novenas, quermesses, entre outros eventos.

Aquela igrejinha era linda, construída pelos moradores de lá, justamente para naquele local, reverenciarem a Deus e aos seus santos, como manda o catolicismo. O comércio dali era escasso, normalmente os gêneros secundários eram comprados nas cidades adjacentes, quando precisavam. Pois, os de primeiras necessidades, eram dali mesmo, do seu auto sustento.

Em pleno sertão maranhense, o lugar era muito lindo. Cercado de palmeiras nativas de babaçuais, de juçarais, de buritis, de pequis, de mangueiras, cajueiros, laranjais, pitombeiras, muricizeiros, tucuns, e até algumas carnaubeiras, cocais, seriguelas, e tantas outras fruteiras que abastecia aquelas famílias e outras próximas, nas feirinhas de fins de semana, onde ainda dava pra lucrarem alguns trocados. Havia também, muitas moças bonitas, belos rapazes, senhoras vistosas, senhores da mesma forma, só que os maiores namoradores, eram os homens casados, e o personagem principal era o maior deles.

Muitos causos são contados até hoje, por pessoas que viveram lá, e por pessoas que ainda vivem por ali. Era comum os homens da Brasilinha, “roubar” suas amadas, desde que gostassem de alguma moça daquela, era costume do lugar, roubarem as filhas alheias. Normalmente fugiam para cidades maiores, bem longe dali, e resolviam nem voltar mais, construíam novas famílias com as suas novas conquistas.

A promessa para os lalaus de moças alheias, era feia: ou eram castrados, ou eram mortos depois de muito torturados. Daí o medo de retornar. Deixavam tudo para trás. Família e tudo. Os pais e irmãos desonrados prometiam-lhes isso, era essa a punição. Entretanto, meio a isso, um fato ficou conhecido por muitos e muitos anos, ainda hoje falam desse caso.

Na região, um senhor de uns 55 anos, pai de família, de nome Pedrão, de muitas posses, proprietário de muitas terras, gados, fazendas, até caminhões, e tratores utilizados na lavoura, mas era conhecido mesmo, por afanador de mulher alheia, não importava seu estado, se era solteira, moça nova, jovem, mais madura, viúva, virgem, separada, de qualquer jeito.

Ele cantava todas, e normalmente conseguiu levá-las aos finalmente, não diria, à cama, mas ao mato, era pelos rios, ou açudes, ou lagoas, ou riachos, ou nas roças. O negócio era encontrar oportunidade. Nessas aventuras loucas, o Sr. Pedrão, tinha o prazer sórdido de mostrar sua virilidade, o seu poderio masculino.

Como seu Pedrão, assim conhecido, mandava no lugarejo, e a maioria das famílias trabalhavam para ele, não reagiam diante dos desmandos dele, era o tal, o chefe, o patrão, então ninguém poderia reclamar. Porém, de tantas idas e vindas, entre uma aventura e outra, essa ficou perpetuada na história daquela pequena aldeia. Ficou na boca do povo até hoje. Pois, mesmo já idoso continua aprontando das suas.

Foi o seguinte: certo dia chegou naquela aldeia, uma bela moça morena clara, alta, cabelos longos, castanhos, olhos amendoados, corpo escultural, lábios carnudos, de um sorriso muito lindo, e um belo par de pernas bem torneadas, para nenhum homem botar defeito. E era professora, que viera de uma cidade próxima dali para trabalhar, cujo patrão era o Sr. Pedrão, que mantinha a única escolinha do lugar. Faltava uma professora. Jandira se chamava a bela. Chamou logo a atenção do coroa Pedrão. Trabalhando normalmente no seu dia a dia, Jandira havia tirado uns dias de folga para viajar até sua cidade, não muito longe dali, para visitá-los e a familiares.

Porém, para tomar a camioneta que fazia “linha” para a sua terra era tomada do outro lado de um riacho que passava por aquelas paragens. Não tendo com quem ir até aquela camioneta, tendo que atravessar o riacho, mesmo pensativa, apanhou sua bolsa de viagem, e foi em frente. Preocupada por ter que atravessar aquele riacho mesmo raso, suas águas eram de fortes correntezas, oferecendo perigo e, não tinha outro meio de viajar para sua casa, senão ter que fazer tão arriscada travessia.

O Sr. Pedrão, atento aquelas atitudes da professorinha, em toda aquela arrumação, ofereceu-se logo, para acompanhar a bela Jandira, naquela empreitada maluca, não pensou duas vezes e se foi com a moça.

Jandira, por sua vez, separada, sem filhos, ainda no auge da sua juventude, tinha apenas 25 anos, estava carente, via-se pelos seus olhos, terminou aceitando a companhia do senhor, porque jamais iria imaginar que seu novo patrão fosse alguém ofensivo, e nem que fosse tentar alguma coisa contra ela.

Caminharam lado a lado, calados, por um bom tempo, meio a gorjeios e piados das aves daquelas matas, latidos ao longe de cães da aldeia, que iam ficando mais esparsos, e o próprio barulhinho das folhas das árvores, provocado pelo vento, e assim meio desconfiados, começaram a conversar e, uma forte atração foi surgindo entre ambos, sem que nenhum dos dois admitissem, para não quebrar o acordo que fizeram dele levá-la somente até o riacho. Do riacho em diante, ela iria sozinha, que não oferecia perigo algum. Já estava perto do ponto onde a camioneta ficava esperando passageiros.

Nesse ínterim, os dois ficaram calados novamente, quando de repente, desconfiados, entreolhando-se intensamente, como se estivessem enfeitiçados um pelo outro, foram adentrando a mata fechada, já fora do caminho, onde passavam os transeuntes, rumaram para um trecho do riacho, bem menos perigosa... a bela, foi aos poucos levantando sua saia, para atravessar aquelas águas, meio inocente e pura, mas meio fatal e provocante mesmo, onde o Pedrão, já muito doido, excitadíssimo, com seus belos cabelos grisalhos, corpo muito másculo, ainda muito atraente, belos dentes, bonita boca, muito fervoroso, não se fez de rogado, se atracaram ali mesmo, dentro d’água, nas águas cálidas do riacho, num local bem discreto, propício para aquele conluio, em que as aves, a florestinha, o céu bem azul, no sibilar dos insetos, todos testemunhavam aquele momento ímpar, num ato selvagem de amor e sexo, o casal cheio de atração, se fez consumar entre sussurros, gemidos e gritinhos de prazer, fizeram do ambiente, um ninho de gozo e prazer, incontidos, daqueles selvagens.

Prazer aquele que deixou de legado, uma filha que viria nascer nove meses depois, denunciando mais uma das aventuras do vulgo Pedrão. E depois do retorno da jovem professora, para Brasilinha, os encontros se tornaram constantes, em segredo, até que alguém descobrisse os encontros furtivos entre os amantes. Ambos saíam de vez em quando, tanto de dia como de noite, bastava que o desejo deles se tornasse latente no seu rosto e nos olhares cúmplices deles. E, para despistar os curiosos, mudavam de local, mas a preferência era fazer amor dentro d’água. Fosse no riachinho, nalgum igarapé, nalguma lagoa, onde desse. Pois, para os amantes não havia lugar ruim, nem distâncias, quem dava as ordens, eram os ditames do desejo e do prazer.

A bela Jandira, costumava ao sair, usar sempre uma peruca diferente, roupas diferentes das usuais, na tentativa de frustrarem os curiosos e desconfiados de plantão. E a coisa depois, ficou tão comum, que a esposa dele, nem se importava mais, afinal, ele saía para os encontros descaradamente, só não se sabia onde eram os encontros. Afinal, naquela aldeia, ninguém podia falar nada de repúdio, pois todo mundo dali, era seu empregado. Os filhos dele com a esposa, nem sabiam de nada, porque a esposa fazia de tudo para seus filhos não saberem, quando vinham de férias, e ai de quem falasse contra o patrão. Ficava assim mesmo, pois estudavam fora dali, na cidade grande, a capital.

Entretanto, o tempo ia passando, e a bela Jandira, grávida, ficava cada dia mais linda, e desejada por todos, pois naquela localidade, moça mais bonita não havia. Certo dia, no lugarejo chegou um médico muito bonito e jovem, de nome Ricardo Sanches, clínico geral, no auge da sua carreira, estava fazendo um levantamento da aldeia, para vir trabalhar, quando ao ver a bela professora, se apaixonou perdidamente por aquela grávida. E ela também se viu apaixonada de forma diferente. Viu que os sentimentos que sentia pelo jovem doutor, não eram os mesmos que sentira pelo seu patrão. Era diferente. Aquela relação já começara a despencar, os encontros foram minguando, à medida que sua barriga crescia.

E depois de ouvir a sua história, o médico convidou-a a fugirem juntos pára bem longe, se casariam, ela assumiria sua filha, e viveriam para sempre. Assim era o projeto do novo casal. O doutor Ricardo viu na bela grávida, a mulher de seus sonhos que tanto procurara um dia. E vice-versa. O desejo de tomá-la para si era tão grande, mas ele preferia aguardar o momento certo de ficar com a bela mulher.

Fugiram. Pela madrugada, quando ninguém na cidade vira a saída dos dois, e se foram. Agora, o leitor, poderá imaginar o final desse conto. Foi um enredo baseado em fatos reais. Se por ventura houver alguma semelhança com a realidade, é mera coincidência.

___São Luis, 04/12/2010_______________

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 05/12/2010
Reeditado em 21/12/2017
Código do texto: T2654018
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