=Memória de um adicto=

Amigos, estou reeditando este conto, porque acredito que ele pode levar um pouco mais de conhecimento deste terrível mal que assola a humanidade. Peço, que se possível, divulguem para pessoas que estão sofrendo com este problema. Esta é a experiência de um simples voluntário na recuperação destes seres incriveis que foram tragados por este mundo ilusionista das drogas. Obrigado Tonho Tavares

Enviarei em varios capitulos, como sugestão da minha querida amiga, Silvia Regina, a qual agradeço

Apresentação

O objetivo deste conto ou livro é alertá-lo para o perigo que corremos, quando ingerimos bebidas alcoólicas ou outras drogas.

É na adolescência que nos tornamos vulneráveis. Neste período de transição e dúvidas, tornamo-nos presas fáceis. Pessoas inescrupulosas aproveitam aquele difícil momento para aliciar-nos. Outro motivo que pode levar à dependência é a timidez. Ao usarmos bebidas alcoólicas, sentimos uma falsa impressão de blindagem, habilitando-nos resolver ou fazer coisas que jamais faríamos sóbrios, dando-nos a sensação de poder. Minhas experiências, no campo do alcoolismo e das drogas químicas, mostram-me que, embora a maioria dos casos se dê na adolescência, tenho dados de clinicas de recuperação em que há casos de internamentos de crianças de dez anos e de senhores com mais de setenta, e todos chegaram ao fundo do poço. Por conseguinte, acreditamos que adicção é uma doença que não respeita idade, posição sócio-econômica, cor, nacionalidade, nível cultural ou credo religioso. A adicção é um mal que, às vezes, os pais custam-lhes perceber que os seus filhos estão envolvidos e, há muito mais tempo, para que possam entender e aceitar tão temível doença. O AUTOR

MEMÓRIA DE UM ADICTO

Capítulo 1

Gritos, desesperos,

Invadem-me.

Procuro o silêncio.

São amontoados de lamúrias e pânico.

Eu, meio perdido ao relento,

Soprado ao longe,

Como papel, do lixo ao vento.

Sou adicto à mercê do nada

Sou filho do caos,

Cuspido, sofrido e jogado

Defronte à temível encruzilhada...”

Meus pais, desolados, impotentes e sofridos, buscavam culpas que não eram suas. Assistiam, entristecidos, aos meus sonhos enquanto viam-me as realizações se escoarem pelo ralo da inexistência. Na rua, o que eu ouvia eram palavras adjetivadas que circulavam em minha cabeça, como um carrossel em movimento. “Vagabundo, safado, mau caráter, cachaceiro, drogado, louco, mendigo, bandido”. São tantas “qualidades” que me confundiam. Na verdade, faziam-me acreditar que tudo isso, realmente, era eu! Minha alma, aos berros, pedia um pouquinho de paz.

Eu quero silêncio!

No silêncio, serei paz;

Com a paz, serei anjo;

Como anjo degustarei o amor

E o amor é de Deus.

Silêncio não é a ausência do barulho:

É o colo que embala o sono;

É o sono que desperta a vida;

É a vida buscando os sonhos.

São asas da alma que alçam

Como beija-flor

Beija-vidas

Vida minha, vida nossa!

Venha conhecer o meu mundo! Lá é uma prisão sem grades; um labirinto aberto, sem paredes, onde o sonho é apagado pela terrível esponja do pesadelo. É lá que os nossos ideais se vão pelos esgotos do tempo... É um lugar tão triste onde não se prendem os homens, mas escravizam-lhes as almas. O árido pensamento busca, incessantemente, as substâncias malditas.

Nem sempre foi assim! Sou filho de uma família modesta financeiramente, estruturada, religião definida. Tive colo de mãe quentinho, afago, beijos, muitos carinhos, um “Deus te abençoe”, dito pelo coração daquela que deveria ser a rainha do lar; hoje... Caçadora de esperanças. Estudei em bons colégios; fui destaque nos eventos estudantis; campeão de futebol da cidade. Elogiado por tudo e todos, inferindo-me um futuro que acreditavam ser promissor. Eu era o orgulho da família. É, mas a vida nos prega peças (em mim não pregou nenhuma), pensava eu. Fui vítima de minhas próprias fraquezas, envolvi-me com as drogas químicas, bebidas alcoólicas. O que mata os adictos são a prepotência, a arrogância, a timidez, a autopiedade, a falta de Deus e, principalmente, o orgulho que nos consome, legando-nos à condição de escória da sociedade.

Continua...

ANTÔNIO TAVARES
Enviado por ANTÔNIO TAVARES em 03/12/2010
Reeditado em 03/12/2010
Código do texto: T2650903