Último Vagão

E chove o dia todo. Olho as horas, são iguais. Sentado naquele vagão de trem olhando a agitação do lado de fora na estação. Tantas despedidas, almas descabidas de percepção do quão belo é aquele momento, o de dizer adeus. Bebo um pouco do meu café, como uns biscoitos, vejo discussões doutro lado, sobre quem ficaria com a umazinha. Eram gritos fortes, mas internos, ninguém dizia nada. Na verdade fui o primeiro a abandonar aquela discussão, escorraçado praticamente pela tal, entrei no trem e agora estou lhes contando esta história. Não gastarei mais palavras com isso, perdi muitos meses ali, perder mais um pouco não me consolaria em nada. Olho para minha xícara da café, já está quase acabando. Os passageiros se acomodam, é hora de partir. Num soluço abrupto, tento um gesto de comprimento a umazinha, mas desisto, acho desnecessário. Esbanjando a fumaça, o trem está partindo. Vou para outra estação, arranjar outra discussão talvez. Disse Adeus da mesma forma que disse oi na primeira vez: Sem dizer nada. As horas já eram iguais de novo, havia aprendido nesses meses que podia fazer um desejo. Crendice tola, mas tolo que sou fiz: Desejava ignorar tudo o que minha mente ou coração e os outros me sugerissem dela. Assim feito, parti com o trem. Eles somem no horizonte inverso, então, viro para minha poltrona, fecho a cortina da janela e durmo novamente. Só acordarei quando estiver em outra estação, longe dessa confusão, talvez pronto pra uma nova discussão. A todos que ficam, fiquem com meu adeus, pois pra mim, isso já basta.

Leo Zapparoli
Enviado por Leo Zapparoli em 29/11/2010
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