O Homem que Queria ser Santo
Javi desejava ser um santo.
No entanto, viu muita maldade e violência no mundo. Andava pelas cidades, e por suas ruas toscas e sujas, ouvia o palavreado de baixo calão do povo, observava suas condutas fúteis, pérfidas e avarentas e concluiu que junto aos homens não conseguiria elevar seu pensamento suficientemente ao Criador para se aproximar dele. Buscou então o refúgio de uma choupana afastada.
Residiu ali alguns dias, mas logo pessoas viam-lhe bater à porta e pedia coisas, comida, roupa, ou, quando não tinha, furtavam-lhe a horta ou levavam pequenos animais de sua criação.
- Ainda estou perto por demais dos homens, pensou, e se refugiou em uma montanha afastada.
Ficou ali por anos e souberam que era um sábio. Muitos escalavam as pedras e os montes em busca dos seus conselhos e lhe traziam rios e mares de lágrimas e de lamentações perturbando-lhe a paz e interrompendo seus momentos de lamentação.
- Ainda estou perto dos homens, disse a si mesmo, não consigo, desse modo, elevar com constância meu pensamento e termino por ficar aflito perto da agonia dessa gente. Preciso ir para mais longe.
Buscou então refúgio em uma isolada ilha, em seu ponto mais alto e inacessível e ali ficou, sem ter mais contato com os flagelos da humanidade, até que seus dias chegaram ao fim. E, como todo aquele que morre, continuou seu existir na outra vida. Esperava ouvir o cântico dos anjos e embriagar-se na presença do Supremo. No entanto, viu-se em uma sala imensa, rodeado por muitas pessoas que repudiara na Terra e, enquanto muitos daqueles recebiam asas, ou eram indicados para mundos melhores, viu que deveria retornar à mesma e velha Terra em novas vestes de carne para cumprir mais uma jornada. Sem compreender aquele tratamento, buscou a orientação de um dos líderes do ambiente:
- Senhor, busquei a prece, a meditação, o crescimento através do afastamento das leviandades do mundo. Cheguei a me ver flutuando por nuvens, distante das mazelas do mundo. Procurei chegar até o Criador através do completo isolamento das baixezas e torpezas dos homens. Por que devo voltar ao mundo?
- Meu irmão, quando nas cidades, ao invés de trabalhar e de buscar fazendo o pouco que te competia, para melhorar sua vida e a do próximo, fugiste para o isolamento de uma casa rupestre no campo. E mesmo ali o Senhor do Cosmos te enviou serviço. Levou sofredores e pedintes para que os acolhestes e até orientasse com uma palavra amiga, mas ao invés de ajudá-los, resolveu fugir para mais longe ainda.
Foi então que se isolastes em uma montanha, mas mesmo assim o Clemente ainda lhe enviou aqueles que necessitavam de conselhos, de um testemunho de coragem, de uma palavra de amizade, de fé e de esperança. E o que fizeste? Novamente fugistes das obrigações e buscastes o isolamento absoluto.
O Provedor não precisa que fiquem o tempo todo adorando-O em vazia contemplação. É no campo árido das lutas humanas que os verdadeiros mártires provam o seu valor. A função do Homem no Mundo é ser um instrumento do Altíssimo no serviço do Bem ao Próximo. O sol, mesmo que se esconda nas nuvens nunca pára de brilhar e servir. A terra, quando bem preparada, fornece sem cessar o alimento. As águas não param seu movimento e o teu próprio corpo é uma máquina que te serve até a exaustão completa das forças. Toda a natureza trabalha pelo melhor sem trégua na batalha. Ao fugires das lutas humanas, que valor mostrastes possuir?
Retorna então à Terra, trabalha, aperfeiçoa teu mundo, melhora tua vida melhorando a dos que te cercam, eleva-te ao Senhor no serviço do Bem Comum e, da próxima vez que nos encontrarmos, ficarei feliz em te dar asas como as dos anjos...
Javi desejava ser um santo.
No entanto, viu muita maldade e violência no mundo. Andava pelas cidades, e por suas ruas toscas e sujas, ouvia o palavreado de baixo calão do povo, observava suas condutas fúteis, pérfidas e avarentas e concluiu que junto aos homens não conseguiria elevar seu pensamento suficientemente ao Criador para se aproximar dele. Buscou então o refúgio de uma choupana afastada.
Residiu ali alguns dias, mas logo pessoas viam-lhe bater à porta e pedia coisas, comida, roupa, ou, quando não tinha, furtavam-lhe a horta ou levavam pequenos animais de sua criação.
- Ainda estou perto por demais dos homens, pensou, e se refugiou em uma montanha afastada.
Ficou ali por anos e souberam que era um sábio. Muitos escalavam as pedras e os montes em busca dos seus conselhos e lhe traziam rios e mares de lágrimas e de lamentações perturbando-lhe a paz e interrompendo seus momentos de lamentação.
- Ainda estou perto dos homens, disse a si mesmo, não consigo, desse modo, elevar com constância meu pensamento e termino por ficar aflito perto da agonia dessa gente. Preciso ir para mais longe.
Buscou então refúgio em uma isolada ilha, em seu ponto mais alto e inacessível e ali ficou, sem ter mais contato com os flagelos da humanidade, até que seus dias chegaram ao fim. E, como todo aquele que morre, continuou seu existir na outra vida. Esperava ouvir o cântico dos anjos e embriagar-se na presença do Supremo. No entanto, viu-se em uma sala imensa, rodeado por muitas pessoas que repudiara na Terra e, enquanto muitos daqueles recebiam asas, ou eram indicados para mundos melhores, viu que deveria retornar à mesma e velha Terra em novas vestes de carne para cumprir mais uma jornada. Sem compreender aquele tratamento, buscou a orientação de um dos líderes do ambiente:
- Senhor, busquei a prece, a meditação, o crescimento através do afastamento das leviandades do mundo. Cheguei a me ver flutuando por nuvens, distante das mazelas do mundo. Procurei chegar até o Criador através do completo isolamento das baixezas e torpezas dos homens. Por que devo voltar ao mundo?
- Meu irmão, quando nas cidades, ao invés de trabalhar e de buscar fazendo o pouco que te competia, para melhorar sua vida e a do próximo, fugiste para o isolamento de uma casa rupestre no campo. E mesmo ali o Senhor do Cosmos te enviou serviço. Levou sofredores e pedintes para que os acolhestes e até orientasse com uma palavra amiga, mas ao invés de ajudá-los, resolveu fugir para mais longe ainda.
Foi então que se isolastes em uma montanha, mas mesmo assim o Clemente ainda lhe enviou aqueles que necessitavam de conselhos, de um testemunho de coragem, de uma palavra de amizade, de fé e de esperança. E o que fizeste? Novamente fugistes das obrigações e buscastes o isolamento absoluto.
O Provedor não precisa que fiquem o tempo todo adorando-O em vazia contemplação. É no campo árido das lutas humanas que os verdadeiros mártires provam o seu valor. A função do Homem no Mundo é ser um instrumento do Altíssimo no serviço do Bem ao Próximo. O sol, mesmo que se esconda nas nuvens nunca pára de brilhar e servir. A terra, quando bem preparada, fornece sem cessar o alimento. As águas não param seu movimento e o teu próprio corpo é uma máquina que te serve até a exaustão completa das forças. Toda a natureza trabalha pelo melhor sem trégua na batalha. Ao fugires das lutas humanas, que valor mostrastes possuir?
Retorna então à Terra, trabalha, aperfeiçoa teu mundo, melhora tua vida melhorando a dos que te cercam, eleva-te ao Senhor no serviço do Bem Comum e, da próxima vez que nos encontrarmos, ficarei feliz em te dar asas como as dos anjos...