NOITE ESCURA

... Bem, sei. Vocês querem saber quem eu sou, não é? Tudo bem, eu lhes direi. Eu sou Camilo e vivi uma experiência horrível numa história machadiana. Eu sou o narrador de uma história, minha, em que Machado, personagem e escritor literário, me pôs como narrador de 3ª pessoa, mas queria me colocar de1ª pessoa, participante do texto. O cara é louco! Deus me livre! Bem, o personagem literário Machado criou um conto e escolheu-me para ser seu narrador:

Num dia destes em que o sol radiante está transmitindo sensações alegres e convidando as pessoas para um piquenique, percebeu que havia uma linda garota no alto de um prédio que parecia querer suicidar-se. Correu bastante para evitar tal desgraça, mas quando chegou lá ela já estava morta: Não morta no corpo, mas no espírito. Começou a desenrolar sua história que o deixou com muita pena, revoltado e, não vou mentir, também interessado, pois a garota era de mais... era linda, pernas roliças, seios como o pão de açúcar, cabelos longos e ondulosos como uma cachoeira, pele morena cor de café com leite e olhos verdes que penetravam o nosso interior...

Prometeu, Mário, que ficaria com ela em todos os momentos e daí surgiu um belo e intenso relacionamento entre eles... Mas sem pensar em compromisso sério ou casamento............................................................. Quer saber? Mário foi corneado antes dela falecer, pois o traiu com o Amauri, ex-namorado que outrora a deixou quando soube que estava com câncer. Agora volta só pra atrapalhar a despedida de Mário e Ceci. Quando soube da traição, não sabia o que fazer: Não foi ao enterro só de raiva, pensou em ir para o prédio em que a encontrou para suicidar-se, depois pensou que deveria mesmo matar Amauri. Enfim, terminou por deixar estes pensamentos suicidarem-se sós e, numa noite escura e chuvosa, foi para seu quartinho em um bairro bem perto da favela. Chegando lá em meio a tempestade viu que seus pertences haviam sido destruídos pela força daquela chuva. Agora desabrigado, faminto e solitário saía em direção a favela do morro para ver se encontrava algum lugar que pudesse comprar alguns alimentos. Ao atravessar o lamaçal da entrada do morro, encontrou um garoto chamado de bicudo que tentou roubá-lo, mas Mário foi casmurro e incisivo mesmo estando morrendo de medo por dentro. Aquele garoto resolveu ajudá-lo por algumas moedas. Seguiu-o por caminhos escuros e densos que pareciam a estrada para o inferno. Ao lado de cada rua e beco percorrido, havia muita lama, fezes, rezas, transas, fumos, fumantes, fumaças, aleluias e a AIDS de braços dados com a miséria brincando com algumas crianças numa praça que parecia o lixão. Chegaram a uma casa simples e com pouca segurança onde lhe disse que lá haveria pão. Foi convidado gentilmente pelo residente para entrar e sentar ao chão frio. Depois de alguns cochichos, o pai da família pediu algum dinheiro achando que fosse um gringo, logo conseguiu enganá-los denunciando ser do morro vizinho e que estava na miséria, na morte e no inferno... tendo apenas trinta moedas.

Em meio ao encanto que sentira na carência e na presença da filha do morador, alimentava-se roubado por dois pães e um copo de café que lhe tiraram até o último centavo. O alimento descia ao seu interior disputando espaço com a excitação nas belas nádegas daquela morena, com o medo e o desespero que se elevou com a chegada do Lampião do morro, namorado da moça favela. Tão luciferiano que fazia os olhos do seu sogro, por livre e espontânea obrigação, se delatar e os nervos tão exaltados que quase entravam em transe. Mário, escondido numa sala clara e sem objetos... pensava na morte do mal. O Belial e seus anjos da coca encontrou-o no faro de um homem trainte, traidor, traído... traindo e que traído pela sua soberba e auto confiança, que havia planejado tudo com Mário na claridade do quarto vazio, quase foi morto... a alma, o espírito e Mário desciam o morro numa corrida egoísta e atlética, e nem mesmo o suor quis ficar naquele lugar.

Refugiado na bebida de um boteco, Mário enamorou-se por uma garota de nome Tereza que seduziu-o com um olhar e lábios de uma prostituta e... beijos, embrasamento, fogo infernal, excitante, agoniante, desesperante, palpitante, apalpante, penetrante e... um não. Beijo sem transa, manso, inocente, constrangedor, revoltante. Vira alguém chegar e lavá-la amante, cheirante... e um bilhete caído ao chão com um nome: Amauri.

Magno Holanda

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MAGNO HOLANDA
Enviado por MAGNO HOLANDA em 26/11/2010
Reeditado em 21/12/2017
Código do texto: T2638384
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