Lembranças de um amor

Iluminado por um abajur, um rosto, em meio à sala escura, um olhar pensativo e avermelhado, rosto cansado e angustiado. Um homem de cabelos grisalhos, sentado numa poltrona. Em sua frente um computador com tela branca. Arthur um escritor renomado.

Sobre a mesa, meia garrafa de whisky importado, um maço de cigarro e um cinzeiro transbordando de tocos de cigarros. Os vícios ajudavam o escritor, a manter a calma, em momentos de desespero.

Arthur conquistou tudo o que sempre quis e desejou, mas mesmo assim não era feliz. Repugnava - lhe qualquer forma de lógica que encaminhava a vida e que levava o ser a um caminho óbvio e eterno de felicidade plena. Todas as fórmulas o conduziam ao excesso de culpa perante a imensidão do mundo e todas as suas impossibilidades desapareceram do seu alcance, que pouco toca o corpo universal que pede mais e mais.

O escritor estava inerte em seu âmago que gritava e esperneava, contudo, abafava e silenciava ao passo em que o seu desejo negligenciava, pulsando a algo que não podia evitar. Gritar e rebelar-se perante a vida social que anseia por ele, que anseia por ela.

A secretária eletrônica já acumulava centenas de mensagens da editora Horian, isso estava tirando o seu sono e sua tranquilidade. Há mais de 2 anos que vinha tentando escrever um novo romance, mas Arthur sabia que nenhuma obra de arte, deveria ser apressada. Ele queria algo novo, original e surpreendente.

“Os fãs iriam me amar novamente”- pensou consigo mesmo.

Mas o tédio e a tristeza o consumiam e o devoravam por dentro, nada saía da sua mente criativa e fértil. A sua imaginação parecia mais um deserto, improdutivo e vazio.

Em sua frente estava o seu computador, com a tela branca, que cegava a sua vista cansada e atormentada. Na parede, o tic – tac de um relógio martelava sem parar, dentro de sua cabeça. Arthur começou a ficar nervoso e angustiado. Pingos de suor começaram a cortar o seu rosto. Então, levantou - se e olhou para a garrafa de whisky. Ela acenou para ele e o convidou para um drink.

“Só uma dose, por que não?” - pensou Arthur.

Encheu o copo com o líquido inebriante e tomou num gole só. A sensação de embriagez o acalmou, e o relaxou. Depois voltou a sentar - se na poltrona estofada de couro, que um dia foi confortável. Tirou um cigarro do maço e o acendeu, deu uma tragada profunda, e soltou à fumaça cinzenta no ar. Ela sorriu para ele e começou a dançar de um lado para o outro, embalada pelo ar que entrava pela janela.

Por algum tempo, Arthur ficou apreciando o sabor do cigarro. Então, seus olhos percorrem pela sala, até encontrar uma pilha de livros amontoados numa mesa. Era sua preciosa e estimada coleção.

“Talvez uma leitura ajude, a iluminar e clarear os meus pensamentos”, Refletiu Arthur.

Levantou – se e andou com dificuldade pelo quarto bagunçado. No carpete, havia correspondências e lixo, que se misturavam a objetos de decoração. A torre de livros, estava empoeirada e com teias de aranhas. Remexeu nas obras dos seus autores favoritos, tentando achar algum, que o interessa – se. Um chamou atenção de Arthur, era um livro com a capa vermelha e com detalhes em dourado. Retirou o pó com as suas mãos e leu com dificuldade o título: As mais belas poesias de amor. Folheou as páginas amareladas e desgastadas. Quando de repente, algo caiu de dentro do livro e flutuou até o chão. Ele ajoelhou – se e pegou rapidamente entre seus dedos, e percebeu tratar – se de um foto antiga e desbotada pelo tempo. Os olhos de Arthur brilharam e um sorriso se espalhou por seu rosto. Era a foto de Luana, um antigo amor.

Ele beijou a foto com carinho e depois levou junto ao peito, fechou os olhos e abriu as portas de sua imaginação. Viajou no tempo, até chegar na sua amada e adorável Luana. Um amor que a fama, a distância e o tempo, o fizeram esquecer. Mas agora, as lembranças vieram à tona e seu coração se encheu de felicidade e boas recordações.

“Seu perfume ainda posso sentir nas minhas lembranças, seu toque suave e delicado na minha pele; seus olhos iluminados. Sua boca, seus lábios, seus beijos cheios de amor”, imaginou Arthur.

Arthur abriu os olhos e respirou profundamente, ergueu – se sobre os joelhos e se dirigiu para seu computador. Sentou – se na poltrona e deu mais uma olhada demorada para a foto de Luana, colocou a, com cuidado sobre a mesa, e estalou os dedos. Então, digitou as primeiras palavras de seu novo romance: lembranças de um amor.