Legítima Defesa (segunda parte)

Legítima Defesa (SEGUNDA PARTE)

SEGUNDA PARTE

A Fuga

Dois anos depois,(1976). O Armando casa-se com uma menina bonita, cabelos loiros, lisos, filha de um ex-prefeito da cidade. Em seguida, fiquei sabendo que o João estava com uma divorciada de um deputado. Aquelas noticias desabaram sobre e sob mim como uma bomba de ponta a cabeça (será que eu queria os dois?).

Um dos balconistas que trabalhava pro meu pai, queria namorar comigo, eu não queria, ele era casado, tinha filhos, mesmo estando separado da mulher eu temia, pois um casamento é um casamento e eu respeitava muito e, a mulher dele estava sofrendo. Este homem passou de janeiro a setembro me seduzindo, foi como um desespero de causa, até que fugi com esta criatura, foi uma catástrofe. Fomos para outra cidade e ficamos morando com a senhora sua mãe e, com as minhas economias compramos um pequeno ponto comercial, no centro da cidade. Eu estava sofrendo, simplesmente aumentei meu sofrimento em mil vezes, pois o que aquele homem fez comigo foi estupro, minha primeira noite foi uma tortura. Não podia ser normal: apesar de ser virgem e não conhecer o ato sexual; porém, todavia, contudo, dava para entender, que "aquilo", não era pra ser feito daquele jeito. Não, eu não acredito que fosse "aquilo", que diziam que era bom, então ninguém sabia o que era ruim? Ou então eu não sabia o que era nenhum dos dois. Eu não era normal? Ou eu não me conheço? As pessoas gostam de cachaça, que mau gosto...

A decepção foi tão cruel, que eu não quis mais saber de nada, prostrei-me, dentro de uma rede, com um litro de campary. Ali eu dormia e acordava só para pegar mais bebida e ir ao banheiro, não comia nada. A moça que trabalhava na casa é que fazia tudo e, minha tia que ao passar de uma semana, veio morar conosco. Entrei em depressão profunda, tentei suicídio. Foram noventa dias de terror. Não morri, porque o anjo da guarda, que foi a minha tia não deixou. Comprei veneno para rato(1080), ela viu e, ficou me vigiando sem eu saber e, me pegou na hora que ia beber o veneno. Quase morro de um susto. Queria morrer mesmo.

A única coisa boa que ficou em mim, daqueles noventa dias, foi à lembrança da mãe dele. Ela cuidou de mim como quem cuida de uma filha, até melhor, eu não era nada dela. Ela foi humana, generosa, solidária...

Meu único irmão sempre me visitava. Ele nunca disse nada. Apenas chegava lá com aquele jeitinho dele (ele é calado, fica apenas ouvindo e uma vez por outra ri. Raramente fala e quando diz alguma coisa é com sabedoria), apenas com os olhos dizia: “volta, estamos com saudades de ti, independente do que tu fizestes”. Ele passava seu pensamento com tanto carinho. Eu via tudo. Sempre entendi melhor as pessoas pelo olhar do que pelas palavras. E se for cego? Eu entendo pelo andar, pelo jeito de gesticular os braços...

Abaixo de Deus e em agradecimento a tudo que a mãe dele fez e sempre me aconselhava:-volte para seus pais, meu filho não tem futuro.Outra senhora que rezou em mim, ela passou mais de trinta dias com um grupo de orações, fazendo para mim.São orações de libertação,caridade,limpeza espiritual,reza-se o evangelho e doutrina aqueles espíritos que estão necessitados de encaminhamentos para a evolução.Meu irmão também contribuiu muito, com aquele carinho, aquela força ...

Voltei, minha mãe mim recebeu como o filho pródigo, mandou fazer um almoço especial.

O regresso

Começar de novo.

Inscrita no vestibular, prestei exame e passei, fiquei em décimo quarto lugar, eram cinqüenta vagas e já haviam mais de trezentos e cinqüenta inscritos, foi um resgate de auto estima, mostrar para mim mesma que era capaz, só eu poderia entender isto por mais que quisessem mim ajudar, como recebi ajuda de muita gente e se eu mesma nada quisesse isso não teria acontecido.

Durante estes quatro anos na faculdade, estudei muito, foi como um retiro, escrevi um livro, fiz amizades com pessoas com a áurea parecida com a minha, eu sentia uma profunda ânsia e chegava até ao vômito ao vê um casal se beijando, literalmente, mais uma vez recebi muita energia positiva de pessoas que realmente só queriam o meu progresso espiritual e claro material.

A propósito, encontrava-me com um problema sério que era a questão sexual,eu tinha apenas vinte e quatro anos e não podia ficar olhando para os homens e sentir medo, pânico e aí?- perguntando-me fazendo este questionamento encontrando a solução, que seria ir procurar a causa do sintoma. Ele surgiu de onde?eu sei que foi do impacto com a realidade de saber do casamento do Armando e do relacionamento do João com a Sibéria(a ex do deputado),lembram? Então, conclui que eu deveria liberar o meu inibido, procurando um dos dois para conversar, seria por assim dizer um passo muito sério, pois encontravam-se os dois comprometidos e, eu poderia até mim machucar mais, então o que deveria fazer para o meu ego ser resgatado? Conversei com Deus, aprendi que é Ele a solução para tudo, entreguei a situação toda para Ele.

Por várias vezes aos finais de semana vinha para meu interior passar com meus pais. Procurava ajudá-los no restaurante que eles tinham. Num certo dia, estou com meu pai no atendimento do balcão e servindo nas mesas, o Armando entra com o prefeito da cidade, sentam-se e meu pai atende-os passando para me o pedido:- Sofia eles querem Wisk com gelo e um tira gosto de queijo e limão.Ao voltar com o pedido, o Armando estava encostado no balcão e dirigindo-se para me diz:- Sofia? pega uma dose de campary, ao entregar o copo por cima do balcão, ele coloca sua mão encima da minha. Minha reação foi imediatamente de retirar a mão dele e olhá-lo muito assustada com aquela atitude, pois nunca mais havia tido nenhum contato com aquela criatura. Sem que falasse nada ele diz:- fique quieta, eu só queria saber se posso ir falar contigo lá na faculdade. Eu entrei e não saí mais.

Era por volta do ano de 1980, já há quatro anos do ocorrido, eu ainda me sentia muito insegura e tensa, estava concluindo minha faculdade,não queria problemas.Fui meditar, pedir a Deus que nada de mau pudesse acontecer comigo, eu me encontrava tão machucada, não queria envolvimento com homem casado.Viajei,não podia perder minhas aulas. Ao sair do prédio com minhas colegas, distraidamente conversando, observo um carro que nos seguia vagarosamente, chamou-me a atenção. Paro e olho para quem encontrava-se no volante, o susto foi muito grande, infelizmente era o Armando,” ele veio? pensei!”, e mim perguntei por que fez isto? Eu sou solteira, livre e de maior. E ele? Não tem nada para me oferecer, apenas querer mim ver na sarjeta, não existe outra opção. O que este cara quer meu Deus? Fiquei abalada com certeza, ora eu não sabia o que sentia por ele e nem pelo João, era uma mistura de sentimentos:- rejeição? vingança? a mulher dele foi quem nos separou, ela em pouco tempo de namoro ficou grávida e ele teve que casar com ela, eu sei que ele nunca mim quis, pois se do contrário fosse nada disso teria sido consumado. E agora? Pensei ...

Peço para as meninas irem, que eu ia conversar um pouco com o meu amigo.

Entro no carro, olho para ele e digo:

- O que tu queres? Ele diz:

- você. Eu respondo:

- eu estou precisando realmente de libertar meu inibido, e só através de uma vingança bem grande quem sabe, eu poderei não vomitar em receber um beijo!? Notei que ele não entendeu nada do que falei. Como iria entender, se ele não estava sentindo aquilo, este “aquilo” que talvez tenha sido ele mesmo que provocou, um trauma quem sabe? Lembrei do que havia pedido a Deus, será?

- Vamos sair daqui? Diz ele, pois estávamos no carro parado no meio da pista.Que tal para um restaurante comermos algo! E lá tu me explicas o que tu falas-te que eu não entendi nada.

- Nem vai entender. Sofia afirma.

Sofia precisava de usá-lo para saber se realmente o que estava sentindo iria acabar, pois neste momento a questão era sexo e, ela precisava ser beijada, para saber se sentia a mesma coisa, quando via qualquer casal se beijando.

Ver, é bem diferente de sentir e, eu queria sentir especialmente de um dos dois que mais mim magoaram, aquilo parecia que não estava acontecendo, ele estava ali na minha frente, eu não podia desperdiçar aquela oportunidade. Topei o que ele queria, fomos para o restaurante conversamos comemos bebemos e depois ele me convida para dormimos juntos, fui e fizemos sexo, não fizemos amor, não era amor, era um teste, eu precisava saber a diferença de um homem para outro. Encontrei o que procurava, a diferença era muito grande, acredito que a partir daquele momento eu iniciava a minha cura, suportei todos os beijos, enfim, tudo, só no inicio senti náuseas, mais logo foi melhorando, lentamente fui controlando aquela ânsia e, a sensação de que o meu ego ferido se restaurava, foi pouco a pouco encontrando o meu eu perdido, provocando o encontro da vitória de perder o medo deste desconhecido que é o gosto de fazer alguém de trouxa, libertação do inibido, por assim dizer.E assim, só parei de sair com ele, quando estava completamente curada.Foi fantástico, não foi necessário psiquiatra, também não separei o casal, o que não era a minha intenção, jamais pensei nesta hipótese, pois achava que os dois davam muito certo, formavam um casal lindo e foi confirmado que quem eu queria mesmo era o João, meu interesse para conhecê-lo dobrou. Estou livre!

Desde de 1972 que morava em Fortaleza, era voluntária nas escola municipais conveniadas, procurava dar assistência, mesmo tendo que correr para estudar, porém o tempo bem administrado rende muito, perdia muito tempo dentro dos ônibus, para cada lugar que viajava eram duas horas, ida e volta seriam quatro horas.Mesmo assim conseguia conciliar. Em 1980 já concluindo a faculdade foi fácil transformarem meu voluntariado em contrato e assinaram minha carteira como professora titular.Por volta do mês de outubro de 1981, recebi um telefonema, que muito me surpreendeu, já passava de seis anos que não nos comunicávamos, era o João dizendo que tentou me esquecer e, não conseguiu e, que vinha em janeiro de l982 e, queria que eu fosse esperá-lo no aeroporto. Foi grande a surpresa mas eu não queria dar esperança pois no momento estava sem nenhum tesão. Mesmo já curada , mais achava que precisava de dar um tempo, na verdade eu queria apenas trabalhar .

João continuava insistindo, ligou para a minha mãe lá em Novo Calvário,ele sabia que a minha mãe conversaria comigo e eu poderia pensar em alguma chance para dar a ele.Mamãe gostava dele mais temia seus familiares, por não me aceitarem.

Mamãe me contou tudo, muito preocupada, pois ela achava que eu já tinha sofrido tanto e, ela não via neste relacionamento muito futuro, ela sentia que eu ia sofrer muito.Pediu para que me cuidasse.Acrescentando:

- Minha filha, os familiares dele vivem em função de si próprios, eu comparo com um saco cheio de gatos, com a boca amarrada, pense dentro do saco o que acontece! Eu sei que ninguém é perfeito, mas tem umas pessoas mais evoluídas espiritualmente, preste bastante atenção aonde você quer entrar...

Fiquei de alerta, não tirei da cabeça o que mamãe falou: vigiando e orando, eu não sou mais nenhuma criança, já havia completado 28 anos e o João ia para os 32.Ficava lembrando de tudo que passei, as discriminações da senhora mãe dele e, suas irmãs que não me suportavam, do pai e, dos irmãos nada tenho a dizer, pois o que sabia é que me defendiam, quando ouviam elas brigando, por várias vezes observei que procuravam me apoiar e, até contornar situações constrangedoras que por várias vezes surgiram.

O “velho” como eu chamava-o era espírita, conversávamos muito eu o João e ele, era muito bom; ele é inteligente falava com muita sabedoria sobre a vida, explicava o mistério das parábolas de Jesus, que é o Evangelho, o único caminho que existe para seguirmos com segurança, pois é Ele quem nos ensina a chegar,encontrar e conhecer a verdade. Eu gostava muito de ouvi-lo era cheio de humor, ele contava estórias e histórias para fazer você distinguir as verdades das mentiras. Enfim eu amava o João, agora estou podendo afirmar porque tudo que já fizeram à me eu não lembro mais.

Viajei para Fortaleza, liguei para ele:

- Alô! É o João?

-Sofia?! Que bom, como vai?

-E ai o que tu queres de me, homem de Deus?

-Você e nada mais.

-É?! –respondi surpresa, e acrescentei:

-Eu não estou pensando em compromisso com ninguém eu quero apenas trabalhar, sabe João?

_Sofia eu sei que você está muito magoada,mas eu não te esqueço criatura, parece uma doença, já vão completar cinco anos que estou com a Sibéria e, cada dia que passa para me é uma tortura viver com esta mulher, pensando em você, eu não agüento mais...

_Eu posso até entender, porque eu também fiz de tudo para te esquecer, também é difícil sabe? a cada dia que passa, mais penso em ti, fico até com raiva deste sentimento, parece um câncer...

_Que bom ouvir isto de ti, meu medo é que não me quisesse mais.

_ Queria muito não querer, ah! Meu Deus como queria, mais é forte demais.

_ Sofia eu estou as vezes sozinho num bar bebendo alguma coisa e, de repente te vejo entrando e sentando na minha mesa, sabe aquela vontade de te ver é tão grande que te materializo, sei não, acho que estou enlouquecendo, preciso te ver .

_ Nós não somos mais crianças e, eu sei que te amo, mais eu queria só trabalhar, não tenho tempo para dar assistência a um homem, meu tempo esta cheio eu trabalho de seis horas da manhã até as onze da noite, chego muito cansada, não dar para encaixar um relacionamento, porque nos fins de semana é o tempo que eu tenho para corrigir provas, trabalhos e elaborar aulas para a semana...

_Eu ajudo você. Mesmo que não dê para você cuidar de me o importante é que estou perto de você, eu já comprei as passagens para o dia l2 de janeiro de 1982, estou chegando ai as duas e trinta da tarde, e quero te ver me esperando no aeroporto.

_ Deixa eu pensar como vai ficar a minha vida, certo? Já esperamos até agora, um ano a mais ou a menos em nossas vidas não faz diferença. Dependendo do que eu resolver eu vou te esperar no aeroporto.

_ Se você não for eu não viajo, mando cancelar a passagem.

_ Eu ligo, ainda faltam três meses, vamos entregar a Deus, se for de Sua vontade.

Fiquei pensando naquela situação, como o mundo dar voltas, a senhora mãe dele nunca me aceitou, só porque eu era pobre e, agora o preconceito vai triplicar,que pena não sou mais virgem, continuo pobre e o filho dela continua me querendo, o que vou encarar em? e o meu inibido agora? Aí é que será resgatado com tanta oportunidade que Deus está me dando, ou estou brincando com fogo? Sabe que eu não vou encarar isto.Entrego tudo ao meu todo poderoso o meu amado mestre e vou trabalhar, porque até agora só vi futuro nisto: estudo, trabalho, respeitar o que eu quero fazer e, o resto serão conseqüências.

O reencontro

Dia 12 de janeiro de 1982 às duas horas e trinta minutos, fui para o aeroporto.Ao chegar vi no portão de desembarque, todos os seus familiares, não me aproximei deles, fiquei com vontade de ir falar com o “velho”, mais achei melhor ficar onde estava,sem que eles me vissem.Já passava das duas e trinta, continuei olhando de longe, donde não dava para me verem.Até que vimos um avião se aproximando, meu coração acelerou, afinal de contas eram uns seis anos, mais, sem ver este grande amor.Minhas mãos começaram a suar,acendi um cigarro, a adrenalina estava subindo.Até que vi o avião chegando, será que era o dele?eu olhava sem piscar, pois temia que ele descesse e eu não visse e, na hora de todos abraçando ele, eu não chegasse junto.Não importa se mandassem eu me retirar, era um bom momento para eu dizer que não me afastaria, elas iriam com certeza entender que não mandariam mais em nós.

Quando avistei-o descendo as escadas do avião, achei muito diferente, forte, barba fechada e bigode.Blusa azul de mangas compridas social, calça azul escura, muito elegante, mas o andar era o dele, aquele ombro torto eu conhecia em qualquer lugar do mundo. Vi todos se dirigindo ao seu encontro, fui eu também. Ao me ver, ele parou com os dois braços abertos, como se pedisse:_ vem me abraçar.Ora! foi o que eu fiz.Abracei-o, nos afastamos, ficamos nos olhando. Sua mãe chega abraça-o as irmãs e o velho. Depois deste primeiro momento, o “velho” vem falar comigo, põe a mão no meu ombro e me convida para irmos tomar café, que estava louco para fumar um cigarro.Saímos juntos e ele diz: _que está surpreso e feliz pela volta do filho e por eu está ali para recebê-lo, porque eu sei que meu filho só pode ser feliz com você”.Que lindinho que meu sogro é.

O João se aproxima e me olhando da cabeça aos pés, diz:

_Você está mais bonita agora .

_Um! Também estou achando você mais bonito agora.

A irmã dele a Custódia chega e diz:

_João, nós organizamos um jantar para você, só a família e nossas amigas, mais íntimas, sem pessoas estranhas, jogando a cabeça para me como se estivesse pedindo para ele não me levar.

_A onde vai ser? Perguntou João desinteressado.

_Num restaurante na orla marítima é surpresa...

A outra irmã dele chega e pergunta vamos, vamos: quem vai no meu carro?

Eu voltei de táxi com o João, eu queria que ele soubesse onde eu morava.

Durante todo o percurso no carro do aeroporto até a minha casa, não nos falamos, apenas ele pegou a minha mão e olhava para me, tirando a vista só quando o motorista freava mais forte nos sinais de trânsito ou nos buracos.Minha tia, nos aguardava e, eu eufórica agarrada na mão dele dizia:

_Olha tia, que eu encontrei, que maravilha, a senhora lembra dele?

_ claro, não é o João? Está tão diferente. E logo se retira , ela não podia se afastar da cozinha, ela se divertia no fogão e lavando os pratos,eram os lugares preferidos dela.

O João levantando-se, dando a mão para me, pede um abraço:

_V em amor, eu estou muito feliz de estar aqui com você, eu te amo muito, não vamos mais perder tempo, por favor procure compreender minhas irmãs, elas são possessivas e disse:

- Sofia já são quase quinze anos que tentamos ficar juntos,é tempo demais que estamos perdendo, vamos dar um basta nisto. Eu respondo conscientizando-o:

_É tu, criatura, que nunca desceu do muro e tem mais, elas não me aceitavam antes, imagine agora.É melhor ficarmos assim, nos encontrando sem compromisso, o importante é o que sentimos um pelo outro.A falta de liberdade me constrange.Vão cobrar demais, eu sei que não vou tolerar,sabe João, eu já conheço, só tem uma coisa positiva, eu não vou ter tempo nem de ver a cara delas.Tudo bem: - Ele argumenta meio inseguro:

_Você acha? Eu vou ficar assim? Eu quero você por inteira, acordar todos os dias com você é de ser muito bom acordar pela manhã e, a primeira coisa que a gente ver é um rostinho destes pertinho da gente para beijar na hora que quiser e, saber que é só meu, eu quero saber se vão me chamar de palhaço? Eu sem agüentar o preconceito dele disse:

- Olha aí porque elas não me respeitam, tu mesmo fala dessa forma ,cara? Que palhaço? Você não é melhor do que elas. Isto me assusta, a tua insegurança. Temos que pensar muito, sabe? Eu estou muito bem e, não quero nada que possa atrapalhar o andamento das minhas aulas, estou muito feliz.

Neste fim de tarde, ficamos só nos acariciando, não nos conhecíamos sexualmente, nossa primeira noite tinha que ser muito especial, se bem que tudo era muito especial com ele.Por volta das sete horas da noite ele foi embora para o jantar que sua irmã organizou, me convidou, mas achei melhor não ir, sabia que ia ser uma confusão se aparecesse por lá, iam continuar fazendo que não me viam,era como se eu não estivesse com ele e, para me chatear é melhor ficar em casa, ele não queria ir sem mim, mais insisti que ele fosse, era melhor, depois nós ficaríamos juntinhos sem problemas, a minha esperança é que com calma fôssemos conquistando nosso espaço.

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Florinda pára o carro e me chama: (voltando à realidade)

_Sofia, chegamos, vamos lá, ver se ele deu entrada aqui! Descemos do carro e caminhamos do estacionamento até a recepção do hospital, era como se minhas pernas pesassem duzentos quilos cada uma,meu coração doía, era uma sensação de angústia muito grande, muito mal estar, até que vimos a recepção, pedi pra colocarem o nome dele no computador pra saber se havia algum João internado lá, a moça parecia sonolenta, tão vagarosa naquele teclado, estava em câmara lenta, foi uma eternidade para confirmar que não foi dado entrada lá. E aonde agora meu Deus pensei? Florinda disse:-

Eu sabia, eu sabia, viemos só perder tempo aqui, era pra me ter ido logo era pra Parangaba, ele está lá, tenho certeza, a casa da Ivone é pertinho de lá. Que droga! Florinda quase correndo até chegar no carro, falando estas coisas sem eu entender direito.Perguntei para ela:

_ O que tem a ver a casa da Ivone com o Hospital? Florinda contemporizou ,quase assustada:

- Não sei, não sei, eu estou achando que perdemos tempo, só isto. Florinda tenta desviar o assunto. Mas deixou a “mosca atrás da minha orelha”,aí argumentei:

_Quando eu te pedi para ir devagar, porque pode ser um acidente com o João e assim pudéssemos ver o carro virado, tu dissestes que era melhor do que o que tu estava pensando.O que tu está pensando? Ou o que tu já sabe, pelo amor de Deus , me diz logo mulher, pra que este mistério todo? O que pode ser pior do que um acidente, pela hóstia? Ela continua afirmando com indiferença:

_Pode, só que é melhor não insistir porque eu não sei de nada, entendeu?

_É,está bom.Desisti, eu não iria insistir com aquela criatura, sabendo e conhecendo como são.Se notarem interesse ficam matando no cansaço.O percurso da Assistência Central para a Parangaba é grande, mais já passava das doze horas, o trânsito mesmo sendo no sábado, já se encontrava mais calmo.

Fiquei pensando que ela falou na casa da Ivone. A Ivone é a irmã privilegiada dentre as seis irmãs, são sete mulheres com a senhora mãe dele. São a Lavinha,Custódia,Ivone,Florinda,Lívia e Olívia. A Ivone é aquele tipo boazinha, agradável, carismática, objetiva, egoísta, que envolve as pessoas dando presentes, tem pose de rica, chique é muito trabalhadora, mais sabe aquele tipo que “Deus só promete um tostão e não tem quem faça ganhar um milhão”? Pois é, é apenas aparência, vontade de ser o que não é, anda sempre de carro novo todo fiado, quer morar em mansão, sem pagar o aluguel, é só o que dá hoje em dia , ninguém se conforma mais com o que Deus dar, sempre estão apelando, aplicando "171", é isso aí .Sabe que as vezes eu penso que seja síndrome de alguma coisa , pois estamos no século das síndromes, é síndrome do pânico, síndrome do transtorne obsessivo compulsivo, enfim são tantas síndromes que assim vai engrossando a fila dos distúrbios.E o único meio que existe para agradar a mãe dele, é se fizer as vontades da Ivone,aí todos se envolvem em função da Ivone, a senhora matriarca então ficará grata e os outros filhos receberão com certeza o reconhecimento, aí serão visto e receberão também muita gratidão da mamãe. Veja bem que situação: o que a rejeição é capaz de fazer, inúmeros estragos, pois são cinco irmãs e três irmãos todos casados, são cinco genros e mais três noras. E ela aprontando e exigindo com os vários esposos que vai arranjando. A galera toda que é manipulada por ela é que se dane. Aqueles vários maridos, os mais espertos que vão conhecendo-a largam dela e, assim a fila vai engrossando. E nós? agradando a senhora sua mãe. Aí eu pergunto o que eu tenho a ver com isso? Só porque sou casada com o filho, um dos coitados que por mais insistente que fosse, nada via, era completamente cego, trevas: como a luz faz falta nestes momentos, ser bom para os pais é uma coisa bem diferente de ser serviçal. A prostituição não é só aquela que o homem paga para ser usado e usar a mulher receptora, existe a prostituição da intimidação, da submissão e do intelecto.Entender como o individuo ignorante, que se acomoda naquela situação, sem nenhum interesse de procurar o conhecimento, para a sua evolução e, o pior de tudo isto é querer impor que os outros aceitem, sem questionar o seu ponto de vista, todos estão errados apenas esta pessoa está certa. E quando é contrariado, que se transforma num monstro? será que é esquizofrênico? Ou é porque é mimado mesmo, foi criado cheio de querer? Não sei, só sei que tenho me deparado com muita gente assim sem poder receber um não... é complicado.Sua irmã é assim, não pode receber um não, só dizendo sim, para todas as suas vontades, com o aval da senhora matriarca. Eu sempre vi isto, e nunca aceitei, pois sempre pensei que a verdade é única, e “a ignorância não mede o quanto você desconhece, mas sim o quanto você é preso a sua verdade”. Por isto que existem várias verdades, pois existem estas criaturas, que acreditam no que querem, ou seja na verdade de suas próprias ignorâncias.

tuka bella
Enviado por tuka bella em 21/11/2010
Reeditado em 26/05/2012
Código do texto: T2627635
Classificação de conteúdo: seguro
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