Femme

Eu entrei e comecei a ouvir gritos. O calor foi instantâneo. Abri um sorriso e sabia que ia gostar de tudo que poderia me acontecer, eu queria tudo. As luzes vermelhas me faziam mais bonita e tudo cheirava a pecado, desejo, língua. Era uma dança para o sexo. Batom, perfume, cabelo, pele. Tua boca me tomou e eu queria mais. Teu cheiro e tua mão me diziam o quão canalha tu eras.

As pessoas estavam lá, era um tipo de adoração ao prazer, ao momento em que os olhos se fecham, os arranhões surgem nas costas do outro e expiramos sem cessar. Era sujo, era bom. Mas eu não tinha pudor, você era silencioso, me levava à loucura, perdi minha cabeça. Corredores percorridos, bebidas entornadas, as luzes vermelhas dançavam, eu sorria.

Já não pensava em nada, eu queria diversão, eu queria mais de tudo. Encontrei outro que pudesse me fazer sentir medo, a minha liberdade sempre ofendeu os outros, eu queria provar mais de tudo e chocar mais, era um jogo, eu nunca perdia. Meu namorado, coitado, achava que eu estava na casa de uma tia no interior, meu lema era amor, sem contratos, sem amarras e um pouco de omissão.

Sussurros, meu amor escorria pela pele. Vários sentiram durante a noite, em litros, eu me derreter na emoção de ser do mundo, eu era mais eu, mais impura, mais feliz, eu não tinha barreiras, eu me amava e deixava que me amassem mais e mais. Entre pernas, calor e ausência de roupas eu me sentia completa. Eu sempre tinha uma ideia nova. Não tinha limites na noite, o ‘’p.m’’ me trazia a delícia de sentir o que os outros queriam, mas o receio não os permitia. Eu me libertava, eu sentia, eu gemia. Escolhi Rodrigo para brincar. O momento da escolha me fazia uma criança que escolhe o brinquedo na vitrine, tomei-o pela mão, era minha curtição daquela sexta.

Quatro paredes, uma cama que podia quebrar a qualquer instante e um homem para mim. Era uma briga coreografada, palavras chulas, risos altos, puxões de cabelo e corpos escorregadios. Sabia muito bem que horas depois eu estaria com nojo dele, que queria o meu bem, que estaria sozinha. O cheiro do cigarro no quarto me entediava. Eu só não sabia que minha noite não iria ser tão cansativa como eu previa. Dei a Rodrigo a dica ‘’nunca diga que isso nunca aconteceu’’, honestamente, tentar me convencer que era o ‘’fodão’’ me dava mais vontade de matá-lo. Irritava-me mais ainda. Olhei minha bolsa, abri-a procurei meu batom e meu blush, retoquei a maquiagem. Sempre guardo um vidro de perfume na bolsa, dessa vez o esqueci. Sacudi meu cabelo, bati a porta e sem nada dizer, ganhei novamente o que sempre julguei ser meu: o mundo.

Batisthay
Enviado por Batisthay em 21/11/2010
Código do texto: T2627612
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