Medo e Ansiedade
Nem ela nem ele tinham o perfil clássico de beleza. Estavam longe da forma ideal. Ele não fosse seu jeito extrovertido, passaria despercebido. E ela não fosse um charme natural também. O fato é que se encontraram e juntos viveram os melhores momentos de suas vidas. Ele, impulsivo, sempre arrancava sorrisos e fazia os olhos dela brilhar com um gesto inesperado: flores roubadas de um jardim, um chocolate diferente, a súbita decisão de irem para a praia. Além disso, seu cheiro misturado ao perfume e ao tabaco tornava-o quase irresistível. E ele dizia a ela: - nós temos química. Ela no início não acreditava muito nisso. Achava que ele era igual aos outros. Mas retribuia seus gestos de forma feminina: arrumava-se na intenção de seduzi-lo, sem se esquecer de borrifar o perfume que ele mais gostava. Fazia-lhe massagens e agia de forma instintiva. Ele achava que ela tinha muito mais experiência do que ela realmente possuía, mas ela não se importava muito com os comentários dele, pois ao seu lado ela se sentia segura e, assim, aproveitava a liberdade, o carinho e o respeito que havia entre os dois, para fazer seu melhor. Ambos conheceram o nirvana. Não se tratava apenas de um orgasmo ou de múltiplos, mas de uma entrega total, sem limites. Algo quase impossível de se repetir. Então, ela lhe disse: - Temos química. Mas a diferença de idade e de perspectivas tornavam-se claras longe dos momentos de cumplicidade. Ela queria experimentar a vida, inclusive um relacionamento sério. Ele tinha medo de se apaixonar loucamente por aquela mulher e sofrer novamente. O medo e a ansiedade os separaram. Ela viveu o que queria, se casou, separou e teve muitos homens, mas no fundo sempre procurava por ele em seus relacionamentos. Ele encontrou a calmaria em outros braços, casou-se e se tornou o bom pai e companheiro que ela sabia que ele seria. Mas no fundo, sonhava com aqueles momentos ardentes e pensava: - E se eu tivesse tentado?